Há uma razão para o Al Hilal, de Jorge Jesus, continuar a ser muito melhor do que os rivais na Arábia Saudita, e não tem tanto a ver com a qualidade da equipa. Afinal de contas o Al Ittihad tem um meio-campo com Kanté e Fabinho, mais Benzema, Danilo, enfim.
Tudo jogadores que já ganharam vários troféus importantes, portanto.
Tal como o Al Nassr tem Cristiano Ronaldo, claro, mas também Sadio Mané, Brazovic, Laporte, Talisca ou Otávio.
Ora bem vistas as coisas, um meio campo com Milinkovic-Savic e Ruben Neves não é mais sonante do que outro formado por Fabinho e Kanté. Tal como Mitrovic não tem mais estatuto do que Ronaldo ou Benzema. Até Koulibaly não é superior a Laporte, por exemplo.
Qual é a grande diferença, então?
Numa palavra: a intensidade.
O Al Hilal é uma equipa permanentemente ligada à corrente. Torna-se até curioso ver Cancelo, aos 79 minutos, fazer um sprint de uma área à outra para recuperar a posição defensiva.
Há aqui uma fome muito maior de ganhar, claro que sim, até porque são jogadores menos veteranos do que as estrelas dos rivais, mas há também muito trabalho de Jorge Jesus, que consegue manter a corrente elétrica dos jogadores sempre muito alta.
Por isso o Al Hilal é melhor, ganha e bate recordes. Este sábado, por exemplo, o confronto entre os dois primeiros, num clássico que se imaginava a ferver entre dois grandes rivais igualados na liderança, foi de um desequilíbrio que o resultado não transmite.
Sobretudo na primeira parte, o Al Hilal vulgarizou o Al Ittihad. Marcou três golos, sim, dois dos quais do inexcedível Mitrovic, mas podiam ter sido mais do que isso.
O próprio Mitrovic, Salem, Malcolm, Ruben Neves, Milinkovic-Savic, enfim, as oportunidades de golos desperdiçadas não cabem na palma de uma mão.
Muito fortes na pressão, sobretudo no meio-campo, o Al Hilal recuperava facilmente a bola e partia cheio de força para o ataque, deixando o adversário meio atordoado.
Danilo foi, nesse primeiro tempo, parte do naufrágio da formação visitante, e por isso saiu aos minutos. Não que ele tenha sido o problema, pelo contrário, até surgiu como pronto-socorro em duas ou três ocasiões, mas Laurent Blanc precisava mesmo de fazer alguma coisa.
Na segunda parte o Al Ittihad melhorou ligeiramente, também porque o Al Hilal desacelerou o jogo, mas nada que colocasse em risco o triunfo da equipa de Jesus. Tanto assim, aliás, que Benzema só marcou muito perto do fim: ele que já tinha tido dois golos (bem) anulados.
Benzema, de resto, foi o espelho deste Al Ittihad. Desligado, lento, desconcentrado. Até os passes simples saíam sempre um pouco ao lado, obrigando o colega a correr.
Uma sombra do jogador que já foi.
Já Jorge Jesus, esse, continua igual. Tal como Cancelo ou Ruben Neves. Este último, aliás, faz lembrar o melhor Ruben Neves de Inglaterra: um patrão imparável no meio-campo.
Como uma equipa assim, é difícil alguém fazer frente a este Al Hilal, de facto. Para já regressou à liderança, a partir de agora isolada. Mas a Liga Saudita está só a começar. Muito mais está para vir.