Se a Federação Portuguesa de Futebol não ratificar o alargamento da Liga conforme foi votado na Assembleia-Geral da Liga, os clubes que votaram a favor poderão unir-se para tomar medidas e não está posta de parte a possibilidade de paralizar o campeonato.

A ideia foi deixada por António Fiúsa, presidente do Gil Vicente, ao Maisfutebol. «Vamos tentar reunir com o presidente da Federação para explicar a nossa posição. Se não for ratificado estão pensadas algumas medidas, como atrasar os jogos meia hora ou, em última instância, paralisar o campeonato. Em democracia manda a maioria», frisou.

Alguns clubes favoráveis ao alargamento têm reunido frequentemente para medir as ações a tomar e, no próximo fim-de-semana, está prevista nova reunião. Ainda assim, o presidente gilista espera que não seja preciso tomar qualquer atitude e que a Federação «vá de encontro à maioria».

«As pessoas de bom senso, como julgo que eles são, só podem tomar uma decisão que é ir ao encontro da maioria dos clubes. Até porque foram os clubes pequenos e as Associações pequenas que ajudaram a eleger esta direção. Espero que não defraude estes clubes», referiu.

«Fazemos 35 jogos e 320 treinos»

Para justificar a decisão pelo alargamento, Fiúsa apoia-se no excessivo tempo de paragem da Liga portuguesa.

«O alargamento vai dar mais jogos aos clubes pequenos. Atualmente, um clube como o Gil Vicente faz 35 jogos,mais ou menos, por ano. E treina 320 vezes. O ano tem 52 semanas, veja o tempo que estamos parados. Porque tenho de dar dois meses e meio de férias aos jogadores? Para os grandes irem fazer digressões para a Ásia ou para a América?» questionou.

O líder do emblema barcelense considera que se está a «exagerar nas reações», lembrando que a esmagadora maioria dos clubes foi a favor do alargamento e o sistema de repescar os últimos é usado há vários anos.

«Foi assim no caso Mateus, foi assim com a despromoção do Boavista ou do Estrela da Amadora. Não houve liguilha nenhuma, por que ia haver agora? E mais, da II Liga para a II Divisão B não havia liguilha, ia haver na I Liga porquê?», prossegue.

«Queremos o poder distribuído»

António Fiúsa considera, ainda, que esta decisão «não interfere na verdade deportiva». «Até porque tem de ser ratificado e isso pode demorar. Entretanto o campeonato acaba e ninguém vai estar à espera dessa tábua de salvação», lembra.

«Pergunte ao presidente do U. Leiria, ao treinador e aos jogadores se se sentem bem em ser os últimos? Ninguém quer ser. O futebol profissional é sério de mais para haver estas desconfianças», considera.

E deixa, ainda, algumas considerações sobre a falta à verdade desportiva que tem sido usada como argumento pelos clubes que estão contra a medida.

«Ninguém está preocupado com a verdade quando, no início da época, os três grandes recebem 70 por cento do valor das transmissões televisivas, para comprar as grandes estrelas, e os outros 29 clubes ficam com 30 por cento. Ninguém está preocupado com a verdade quando os clubes pequenos são sistematicamente prejudicados pelas arbitragens. Quando havia eleições para a Comissão de Arbitragem os grandes movimentavam-se sempre para colocar lá pessoas da sua confiança. Isso não é desvirtuar a verdade desportiva?», questiona.

«Nós queremos inverter esta situação. Os clubes pequenos estão cansados de ser barrigas de aluguer para os grandes. Os grandes querem sempre o poder, nós queremos que o poder seja distribuído. O futebol gera muito dinheiro. É impensável que os clubes estejam falidos», resume.

Entrentanto, o Sporting, através de Rui Paulo Figueiredo, vogal do Conselho Diretivo, considerou «incendiária, descabida e extemporânea» a possibilidade avançada por Fiúsa de o campeonato paralisar. «São declarações totalmente infelizes, que deveriam ser evitadas a bem da pacificação de que o futebol português bem precisa», afirmou à Agência Lusa.