Uma ferida num orgulho justificado por aparições de qualidade, uma má lembrança num conjunto de temporadas para reavivar em conversas periódicas. Albertino era questionado sobre a saída do F.C. Porto e evitava rodeios, escolhendo as palavras exactas, combinando-as com precisão para soar exactamente como desejava. «Resolvi sair, porque apareceu um treinador que me chateou bastante». Referia-se a Herman Stessl, o treinador austríaco que esteve nas Antas no início do anos oitenta. «Era o melhor marcador nos primeiros dez jogos do campeonato. Antes do jogo com o Benfica, no entanto, o F.C. Porto contratou o Mike Walsh para a vaga do Fernando Gomes, que tinha ido para o Gijon. O técnico resolveu, injustamente, tirar-me do onze. E acabou com a minha carreira no clube». 

Albertino perdia a vontade de brilhar na defesa do dragão, perspectivando o fim precoce de uma ligação quase perfeita. «Perdeu o F.C. Porto, porque eu perdi a vontade de jogar», assume sem constrangimentos, sem resquícios de frustração. «Tinha mais dois anos de contrato, mas pedi para sair, pois sabia que ele ia continuar pelo menos mais uma temporada». Era hora de planear o futuro, previamente decidido, antecipadamente vocacionado para a pintura. Albertino pensava lançar as chuteiras para o fundo do armário, mas o Marítimo retardava o processo. «Queria acabar a carreira nas Antas, mas as pessoas do Marítimo convenceram-me a continuar no futebol». 

Jogaria até aos 34 anos e tentaria, nos anos seguintes, ser treinador, o que nunca lhe interessou em demasia. «Estreei-me no Estarreja e fui logo campeão da Série C da III Divisão». Nada mau para o debute, que podia ter tido continuidade imediata um ano mais tarde. «Na temporada seguinte ficámos a apenas dois pontos de subir à I Divisão! Seria um atentado para o futebol português! Um clube sem condições, que jogava num pelado, a competir com os melhores». O currículo ficava completo no início dos anos 90, depois de ter representado o Trofense, o Covilhã, na única ocasião em que trabalhou no escalão principal, o Vila Real e o Lousada. «Terminei, porque queria fazer isto que está aqui a ver». Albertino apontava para as telas que forravam a parede do atelier, em parceria com fotografias dos tempos de jogador. «Já tinha alcançado o sonho de ser jogador, por isso não queria mais nada do futebol». Queria apenas pintar. Sem dúvidas ou hesitações. «Ainda hoje recebo convites para voltar a treinar, mas quero fazer o que faço até morrer. Quero andar com as telas às costas por todo o mundo». 

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