O sol cai sobre as areias douradas de Dar es Salaam. Murmúrios crescentes tomam conta do silêncio escuro, olhos trémulos brilham de liberdade. É no manto escuro do crepúsculo que 23 homens encontram a segurança na capital da Tanzânia. A discriminação violenta, a ignorância cabotina, tudo desaparece com o estertor do horizonte. Agora sim, a equipa do Albino United FC pode treinar serenamente.

Estamos na Tanzânia, num reino formado por 130 regiões, a esmagadora maioria perdida em hábitos e rituais de Neanderthal. A estupidez da tradição, o estupro da mentira, tudo contribui para o adensar do império do medo. Mais de 58 albinos foram assassinados neste país ao longo dos últimos três anos. O racismo e o culto do misticismo facínora explicam esta perseguição sem tréguas.

Albino United FC: «era desprezado pela sociedade»

Tão maltratado noutras latitudes, o futebol serve de antídoto, de escudo protector. Oscar Haule, fundador e treinador do Albino United em 2008, explica tudo ao Maisfutebol. «Há uma crença generalizada que associa o povo albino à boa sorte. Os líderes curandeiros juram que se alguém possuir uma parte de corpo de um albino, nunca mais terá azar na vida.»

A mutilação, a tortura e o homicídio escondem-se atrás desta lenda charlatã. Promete talismãs infalíveis e acolhe o crime. As palavras de Oscar Haule assustam. «Há pescadores com um ritual macabro. Eles acreditam que podem pescar mais se carregarem cabelos de um albino na proa do barco. Por isso, é normal vermos albinos escalpados até à morte», conta o criador de uma equipa revolucionária.

«Fundei o clube depois de uma série de assassinatos. Pensei se tivermos uma equipa de futebol de albinos, poderemos mostrar que eles são pessoas normais, como nós. O futebol é um meio poderoso para passar mensagens sociais, porque todo o mundo o ama e segue-o.»

Igualdade, profissionalismo e outros sonhos

Um albino é um ser humano com uma deficiência na produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele. Os portadores desta patologia têm a epiderme extremamente branca, cabelos muito finos e olhos hiper-sensíveis à luminosidade. O albinismo, assim se chama a doença, é transmitido geneticamente.

No terceiro mundo, em sociedades encerradas num labirinto aviltante, o albinismo é considerado um crime. Mas há vozes que se levantam, sofistas contemporâneos, iluminados e resistentes. «Na capital e nas cidades maiores da Tanzânia, os albinos começam a ser respeitados. Estamos em campo e todos nos olham com fair-play. Esse é o milagre do futebol e do Albino United», explica Oscar Haule.

O Albino United FC está na terceira divisão nacional e promete ir mais longe. Subiu de escalão na última época e procura um sponsor capaz de subsidiar os gastos inerentes à organização de uma equipa que ambiciona ser profissional.

«Treinamos na praia - porque a brisa do mar atenua o calor - e num campo de terra ao lado de uma estrada. Temos as balizas feitas com traves de madeira e cada um usa a roupa que tem. Para já só podemos pagar os equipamentos de jogo, a inscrição e o transporte. A médio prazo pretendo criar uma pequena academia, com um relvado.»



Oscar Haule e o seu adjunto não são albinos, ao contrário de todos os jogadores. Todos partilham e conservam vários sonhos. «Nunca sabemos quando nos irão fazer falta.»

Veja um documentário sobre o Albino United FC: