O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

BERNARDO TAVARES, TREINADOR-ADJUNTO DO AL HIDD CLUB (BAHRAIN):

«Olá a todos os leitores do
Maisfutebol,

O meu nome é Bernardo Tavares e é com prazer que respondo ao desafio proposto pelo Maisfutebol de dar a conhecer o meu percurso a nível profissional e alguns relatos da minha aventura aqui no Bahrain.

Nasci em Proença-a-Nova a 2 de Maio de 1980 e ali vivi até ir para a Universidade. Joguei futebol federado nas camadas jovens e nos seniores da Associação Desportiva e Cultural de Proença-a-Nova até Março de 2003, altura em que deixei de conseguir conciliar o futebol jogado com a minha vida profissional, onde já era treinador.

Nos juniores, era o capitão da equipa e muitas vezes era eu o ‘adjunto do treinador’. Foi aí que percebi o que queria fazer no futuro.

Sou Licenciado em Treino Desportivo de Alto Rendimento no Futebol. Como fui um dos melhores alunos, deram-me a oportunidade de trabalhar na Formação do Benfica, onde fui Treinador Adjunto das Escolas e Infantis em 2001/2002. Efetuei estágios em alguns clubes como por exemplo Real Madrid, Benfica, Sporting, FC Porto, entre outros.

Ao longo dos anos, trabalhei nas camadas jovens dos três maiores clubes portugueses. Para além do Benfica, estive no projeto de scouting Visão 611 do FC Porto (2007/08) e fui treinador-adjunto/treinador de guarda-redes no Sporting (2008/09).

Entre 2002 e 2008 estive Ginásio Clube de Alcobaça. Fui adjunto dos seniores, treinador de vários escalões das camadas jovens e treinador da equipa de futsal na 1ª Divisão da AF Leiria. Conquistámos alguns troféus importantes e conseguimos uma Menção Honrosa da Câmara Municipal em 2006.

A minha carreira em competições profissionais começou em 2009/10, como adjunto na AD Carregado, na segunda liga. Seguiram-se dois anos do Belenenses.

No Belenenses, fui treinador adjunto e também Coordenador a Prospeção. Na época 2011/12, o meu nome aparecia nas fichas de jogo como treinador principal mas apenas porque Marco Paulo não tinha habilitações para tal.

Como Coordenador da Prospeção, e uma vez que não existia no clube nenhum Departamento de Scouting Profissional, lancei a ideia e juntamente com a Direção criámos o ‘Visão Belém’. Coordenei 20 Scouts e 30 colaboradores e muitos jogadores foram referenciados, como são os casos de Fernando Ferreira, Kay, Ruizinho, Matt Jones, Arsénio, Tiago Caeiro e Rambé.

Na época passada, pela primeira vez, não exerci funções de treinador porque os convites não me agradaram. Fiquei a colaborar com o Scouting do Gil Vicente. Para alargar os meus conhecimentos, ao longo dos anos fiz várias formações e tirei os cursos de Treinador de Guarda-Redes, Análise e Observação no Futebol (Scouting), Treinador de Futsal e de Massagista Desportivo.

Em junho de 2013 concluí o 4º nível do Curso de Treinador, o UEFA Pro, ao lado de nomes como Paulo Fonseca, Sérgio Conceição, Nuno Espírito Santo, João Aroso e Ricardo Peres, para além de outros que também têm muita qualidade mas que por vezes têm de sair do país para ter sucesso.

Perante essa realidade, comecei a pensar na possibilidade de sair de Portugal. Surgiram algumas abordagens para ser treinador principal no Campeonato Nacional de Seniores ou adjunto nas Ligas profissionais mas as coisas não se concretizaram. Por isso, enviei o meu CV um pouco para todo o mundo. 



Entre as portas que se abriram, acabou por se concretizar a vinda para o Al Hidd Club do Bahrain. Vim duas semanas à experiência, gostaram de mim e ofereceram-me um contrato de dois anos. Porém, optei por assinar apenas por um, pois não sabia se me conseguiria adaptar a uma cultura completamente diferente da nossa.

O Al Hidd Club está em crescimento e na época passada conseguiu a sua melhor classificação de sempre: o terceiro lugar e a qualificação para a Taça da Ásia. Para além disso, face a problemas burocráticos em torno do campeão da época passada, o meu clube acabou por ser convidado para participar na Liga dos Campeões da Ásia, prova que iremos disputar a partir de 2 de fevereiro.

No campeonato, só perdemos uma vez e estamos em segundo lugar, atrás da equipa do Rei (Riffa) e à frente da equipa do Governo (Muharraq), que são os clubes com mais troféus e mais adeptos.

Fui bem recebido, sou avaliado todos os dias pelo trabalho efetuado e existe muita pressão cultural exercida por eles sobre quem vem de fora, pois, segundo eles, se vimos de fora temos que ser muito melhores dos que cá estão e provar isso todos os dias. Quando eles não sentirem isso, nós estrangeiros teremos que fazer as malas e ir embora.

Neste momento espero conseguir ajudar o Al Hidd Club a ficar entre os três primeiros lugares na Liga do Bahrain, se possível o primeiro ou segundo lugar, o que seria a melhor classificação de sempre. Por outro lado, queremos ir o mais longe possível na Taça da Ásia e na Liga dos Campeões, em ano de estreia.

No futuro, tanto posso continuar no estrangeiro como voltar a Portugal, se surgir um bom projeto. Mesmo estando longe, adoro o que faço e acompanho o futebol no meu país, da primeira Liga aos campeonatos de juniores. 

Gostaria de um dia ter a oportunidade de voltar a treinar em Portugal, como técnico principal num bom clube, mas até lá continuarei a partilhar a minha experiência no Bahrain com os leitores do
Maisfutebol.

Até breve,

Bernardo Tavares»