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Alemanha e Grécia jogam hoje um lugar nas meias-finais do Euro 2012. E mais que isso. O jogo acontece em plena crise europeia, entre os dois países no extremo da ação: a Alemanha que manda, os gregos que não cumprem. Gdansk verá um jogo que se mistura com política como poucos no passado recente. Mas a história do futebol, e do desporto, está cheia de ironias assim. Como estas.

Áustria-Alemanha, 2-0, 1938

A Áustria que era naquele tempo a Wunderteam, equipa maravilha, apurou-se para o Mundial 1938, mas teve de desistir. Em Março desse ano foi anexada pela Alemanha nazi. Em Abril o regime de Hitler promoveu um jogo entre as duas seleções e diz o mito que a Áustria entrou em campo de branco e vermelho, as cores tradicionais, a pedido de Sindelar, a sua estrela. O «Homem de Papel» decidiu o jogo perto do fim e conta-se que acabou a celebrar nos narizes dos funcionários nazis. Também recusou integrar a seleção da Alemanha no Mundial. A dar maior dimensão ao mito, Sindelar e a namorada apareceram mortos um ano mais tarde, em circunstâncias nunca esclarecidas.

Hungria-URSS em polo aquático, 4-0, Jogos Olímpicos de 1956

Chamam-lhe o jogo do Sangue na Água, o que dá uma ideia. Não é futebol, mas é talvez o maior exemplo da tensão política a entrar em campo. Na piscina, no caso. Os Jogos de Melbourne chegaram na ressaca da revolução húngara, esmagada à força pelas tropas soviéticas. A Hungria era uma potência no polo aquático e a URSS copiou os seus métodos. Tudo junto criou um clima irrespirável para as meias-finais olímpicas. Os húngaros assumiram a vingança com uma estratégia de provocação verbal. Pelo meio iam marcando, para delírio de um público que lhes era favorável. Até que um jogador russo agrediu um húngaro. Quando Ervin Zador saiu da piscina a sangrar os adeptos saltaram da bancada e foi o caos.

Espanha-URSS, 2-1, final do Europeu 1964

Franco, o ditador espanhol, tinha proibido a «Roja» de ir à União Soviética, ao coração do regime comunista, jogar os quartos de final do Euro 1960. Em 1964, quando a Espanha quis organizar o Europeu, teve de aceitar como condição a presença da URSS. Que chegou à final, com a Espanha. Nem de propósito. Especulou-se sobre o que faria Franco, o que aconteceria se a Espanha perdesse. O general aproveitou para uma sessão de propaganda. Num estádio Bernabéu lotado, tomou o seu lugar no centro da tribuna e dali assistiu ao cenário que evitou mais confusões, a vitória da Espanha.

Argentina-Inglaterra, 2-1, quartos de final do Mundial 86

«Derrotámos um país. Dissemos que o desporto não tinha nada a ver com as Malvinas, mas sabíamos que na guerra morreram muitos argentinos. Aquilo era a vingança.» Dito por Diego Maradona, anos depois daquele dia histórico no Estádio Azteca. É o jogo da «mão de Deus» e do golo do século de «El Pibe». E era mais do que isso. A guerra das Malvinas (ou Falklands, depende do ponto de vista), tinha quatro anos quando as duas seleções se encontraram em campo, em 1986. E a Argentina saiu a rir.

Estados Unidos-Irão, 1-2, fase de grupos do Mundial 98

Quando o sorteio juntou EUA e Irão, dois países em tensão permanente, os alarmes dispararam. Mehrdad Masoudi fazia parte do staff da FIFA para o jogo de Lyon e contou à «Four Four Two» como estava preparado um enorme dispositivo de segurança que identificou potenciais «agitadores», reforçou o contingente policial e «filtrou» as imagens televisivas, para que passasse a imagem mais limpa possível. Em campo foi pacífico, os iranianos até ofereceram flores aos adversários. E ganharam o jogo. Mas nos bastidores foi tenso. Masoudi dá um exemplo: «O Irão era a equipa B e devia dirigir-se à equipa A para os cumprimentos antes do jogo, mas o líder do Irão, Khamenei, deu ordens para que a equipa iraniana não o fizesse.» Os EUA concordaram em inverter o protocolo.