A 19 de maio de 2016 o mundo de Marco Russ quase desabou, quando lhe foi diagnosticado um tumor testicular.

Poucas horas antes de defrontar o Nuremberga, na primeira mão do play-off de manutenção da Bundesliga, foi detetada ao defesa-central do Eintracht Frankfurt uma anomalia hormonal, devido a níveis elevados de gonadotrofina coriónica humana.

Apesar de imediatamente se suspeitar de um problema oncológico, confirmado muito pouco tempo depois, Russ, ainda assim, quis ir a jogo. Foi titular num empate infeliz (1-1), em que fez um golo na própria baliza. No final da partida, despediu-se dos adeptos, sem saber se voltaria a pisar os relvados.

Em maio do ano passado, Russ despediu-se dos adeptos, após lhe ter sido diagnosticado um tumor

Quatro dias depois, a vitória fora (0-1), valeria a manutenção ao Eintracht Frankfurt. Russ já não estaria em campo, mas os companheiros de equipa prestaram-lhe homenagem ao subirem ao relvado com camisolas com o número 4 e o seu nome.

A conquista desportiva foi-lhe dedicada. Porém, pessoalmente, o calvário do atleta começava ali… Um longo caminho que teve um final feliz esta semana.

Felicidade do tamanho de um estádio

Terça-feira à noite, o Eintracht Frankfurt qualificou-se para as meias-finais da Taça da Alemanha.

Apesar do golo de Danny Blum, logo aos 6 minutos, que valeu a qualificação diante do Arminia Bielefeld (1-0), os 40 mil espetadores da Commerzbank Arena emocioram-se sobretudo com uma substituição já no período de descontos: aos 90’+2 Aymen Barkok cedeu o lugar a Marco Russ.

Dez meses depois de travar uma decisiva batalha contra o cancro, o defesa-central alemão de 31 anos regressou à competição. Pouco mais de um minuto em campo e um aplauso do tamanho de um estádio inteiro.

No final, Russ, falou sobre aquele reencontro especial: «Foi um momento muito emotivo para mim, depois de um período longo e difícil na minha vida. Senti uma ansiedade enorme durante todo o dia, mas quando estava junto à linha lateral e me preparava para entrar senti a tensão desaparecer e desfrutei do momento.»

Defesa-central regressou aos relvados no jogo das meias-finais da Taça, nesta terça-feira

O processo foi duro para Russ. Foi submetido a sessões de quimioterapia e depois do tratamento oncológico voltou, no início deste ano de 2017, aos treinos para recuperar a forma física.

Semanas depois, abordou o técnico Niko Kovac para dizer-lhe «Estou pronto». E no jogo desta semana lá estava ele no banco, quando finalmente ouviu a chamada pela qual há tanto aguardava: ia finalmente regressar ao relvado, diante do seu público.

«Situações especiais requerem medidas especiais. Tive de o lançar no jogo porque era importante contar com o seu poderio ofensivo para defender naqueles minutos finais da eliminatória. Todos sofremos com o que ele passou e agora é uma sensação de grande satisfação o seu regresso», afirmou Kovac depois da partida.

Russ, jogador da casa que fez toda a formação no clube que representa como profissional desde 2003, teve direito ao seu merecido prémio, dez meses depois de um tímido «até já», marcado pela incerteza:

Após o apito final do jogo de terça-feira, ele dirigiu-se ao centro do relvado junto com a sua mulher, Janine, que não conteve as lágrimas. Nos braços, levava a filha de ambos. O nome dela? Vida.

Talvez ele não saiba, mas essa feliz coincidência traz ainda mais sentido a toda a sua história de superação.