Tem cara de miúdo porque é mesmo um miúdo. Aos 21 anos, Alexander Isak está finalmente a dar nas vistas numa grande liga europeia. Ele que já foi apelidado de novo Zlatan Ibrahimovic, que bateu o valor recorde de uma transferência no campeonato sueco… e que falhou redondamente num gigante alemão. Um ‘flop’? Provavelmente não, a julgar pelo ressurgimento em Espanha, depois de ter feito melhor do que Ronaldo Fenómeno, Romário e Luis Suarez, na Holanda.

O feito mais recente de Isak sucedeu neste domingo. Três golos ao Alavés, um hat-trick que elevou para 12 os golos apontados na liga espanhola pela Real Sociedad. Parecem poucos? Lionel Messi e Luis Suarez têm mais quatro apenas, Benzema tem o mesmo número.

Alexander Isak ainda no AIK Solna

Há cinco anos, Alexander Isak era apontado como o próximo grande avançado mundial. Tanto assim era que quando jogou pelo AIK Solna frente ao IFK Gotemburgo tinha 90 olheiros a vê-lo in loco!

Desde o Manchester United ao Ajax, do Chelsea ao Bayern Munique houve até quem dissesse que clubes portugueses viram e logo perceberam que Isak era «areia a mais para a camioneta» lusa.

Os rumores sobre uma mudança para o Real Madrid surgiram em força, mas Isak, e o AIK, preferiram o Dortmund. A capacidade de o Borussia fazer crescer jogadores nas suas fileiras, dar-lhes oportunidades na primeira equipa, terá sido fundamental para a escolha do avançado.

Os momentos com o AIK

Na altura com 17 anos, Isak custou à volta de nove milhões de euros, um recorde absoluto no campeonato sueco. De Solna a Dortmund, das grandes esperanças ao fracasso.

Magro, alto, filho de emigrantes provenientes da Eritreia, Isak cresceu numa cidade que muito diz aos portugueses: Solna é o sítio preferido de Cristiano Ronaldo na Suécia. Mas as comparações foram inevitáveis com outro gigante do futebol mundial: Zlatan, pois claro.

Os colegas viam nele o natural sucessor de Ibrahimovic e a mudança para a Bundesliga foi acompanhada com expectativa elevada. Porém, em Dortmund, Alexander Isak nunca chegou a ser aquilo que todos queriam que ele fosse.

Com Aubameyang no Borussia Dortmund

A passagem pelo Borussia resume-se a isto: 13 jogos e um golo depois foi-se embora. Chegou em janeiro de 2017, partiu em janeiro de 2019. Emprestado ao Willem II, nono classificado da Eredivisie no momento da transferência, décimo classificado no final da temporada.

Melhor que Ronaldo Fenómeno, Romário, Ibrahimovic e Luis Suárez

Isak nasceu em 1999, e no ano seguinte, em 2000, pouco mais de três mil crianças com ascendência da Eritreia nasceram na Suécia. Alexander Isak cresceu numa comunidade pequena em Solna e talvez seja por isso que é tido como alguém discreto.

Não se lhe conhecem namoradas, não se lhe conhece uma vida extravagante. Sabe-se que é alguém que apoia o futebol da África Oriental, e que fez questão de visitar Asmara, capital de um país que obrigou os pais a fugirem para a Escandinávia em busca de uma vida melhor.

Talvez uma das respostas do fracasso em Dortmund esteja aí. Na saída de uma zona demasiado confortável. Outra, óbvia, é a grande concorrência que um clube como o Borussia tem dentro dos seus quadros.

De qualquer modo, a primeira experiência fora do contexto Solna correu-lhe mal. Tudo aquilo que Isak era para ser não foi. E por isso foi em busca de algo diferente.

Alexander Isak no Willem II

Tilburgo é uma cidade com 200 mil habitantes, três vezes menor que Dortmund, por exemplo. O mundo de Alexander Isak tornou-se menor, as expectativas também.

Ao fim de uma dúzia jogos, porém, já tinha os olhos postos nele de novo. O motivo era simplesmente um: golos.

Nunca um jogador estrangeiro tinha tido tanto impacto em 12 jogos como Alexander Isak teve na primeira dúzia de partidas pelo Willem II.

A Holanda produziu alguns dos melhores avançados do mundo e importou outros tantos. Por lá teve Ronaldo Fenómeno, Romário, Ibrahimovic, Luis Suárez e só para falar nos que interessam para aqui.

Em 12 jogos de Eredivisie, nenhum dos nomes acima conseguiu fazer o que Isak fez: marcar 12 golos. Na realidade, o sueco com ascendência da África Oriental fez 13 golos em 13 jogos, pois também marcou na Taça da Holanda.

A época terminaria com 14 golos em 18 jogos, um registo mais condizente com aquilo que se dizia sobre ele, um registo que fez com que a Real Sociedad o quisesse contratar.

«Voltar a Dortmund? Não»

Alexander Isak apontou um golo pela seleção principal sueca com 17 anos, três meses e 22 dias. Quando a bola entrou na baliza da Eslováquia a 17 de janeiro de 2019, o golo não foi apenas o 1-0 no marcador. Foi o golo mais jovem de sempre da Suécia ao fim de 105 anos!

Enquanto esteve na Alemanha, Alexander Isak não era opção para o selecionador, mas mal se mudou começou a ser chamado. A liga holandesa, a seleção sueca, um clube histórico como a Real Sociedad interessados nele devolveram-lhe a confiança.

Isak festeja frente ao Barcelona

Isak podia também seguir um dos seus ídolos de sempre: Henok Goitom. Nas palavras do próprio Alexander, ele seria sempre comparado ao avançado que fez carreira em Espanha ao serviço de Murcia, Valladolid, Almeria ou Getafe, depois de ter estado na Udinese.

Tal como Alexander, Henok Goitom é um sueco nascido em Solna, filho de emigrantes da Eritreia. Também ele ex-jogador do AIK. Espanha passaria a ser um ponto comum entre ambos também.

No País Basco, Alexander Isak marcou 16 golos na primeira temporada, em 44 jogos. Sem dúvida que os que tiveram mais impacto pela Real Sociedad em 2019/20 foram os dois golos apontados ao Real Madrid e que eliminaram o gigante espanhol na Taça do Rei.

Isak fez questão de publicitar a visita a Asmara, capital da Eritreia, país dos pais

A adaptação a San Sebastian, aparentemente, correu bem e o protagonismo de Isak foi crescendo. Esta época leva 29 jogos pelo clube basco e em 16 no campeonato espanhol apontou então 12 golos.

Os alarmes em Dortmund já soaram. A imprensa alemã já deu conta do impacto que o ex-Borussia tem tido e lembra que o clube germânico tem uma cláusula de recompra. Apesar do fracasso, o Borussia nunca negou o potencial e manteve uma alínea de segurança.

Dizem os alemães que a recompra está avaliada em 30 milhões de euros, perto, portanto, dos 25 que dizem Isak valer no momento. O dinheiro talvez não seja um problema para o Dortmund, ainda para mais se vender Erling Haaland e pensar em Isak para a sucessão.

O problema pode mesmo ser outro: a vontade de Alexander. «Tudo o que posso dizer é que o Dortmund está no meu passado e não no meu futuro. Estou mesmo a apreciar estar aqui e nem sequer penso em voltar», disse há um ano, ao jornal sueco Aftonbladet.

Costuma dizer-se que nunca se deve voltar a um lugar onde já se foi feliz. Agora imagine-se regressar aonde nunca se quis estar…

O vídeo que define Isak no momento