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Domingo à Tarde  |  

Promessa sem estreia no Benfica: «Não tive quem me aconselhasse bem»

José Rui despontou no Alverca e foi contratado pelas águias em 2004, onde nunca jogou. Hoje, trabalha na construção civil e joga no Silgueiros, dos distritais da AF Viseu

«Domingo à Tarde» é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.

Em 2004, chegou ao Benfica como uma das promessas oriundas do Alverca. Mas nunca fez a estreia pelas águias. Hoje, aos 36 anos, José Rui, internacional por Cabo Verde, trabalha na construção civil de dia e joga à noite, no Silgueiros, clube dos distritais de Viseu. Uma história com alguma penitência. De quem acredita que a carreira, apesar de ter tido a elite lusa no currículo, podia ter sido diferente. Para melhor.

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José Rui foi contratado pelo Benfica ao Alverca, caminho idêntico ao de Amoreirinha, Rodolfo Lima, Artur Futre e Manú. Foi eleito para um torneio em Moçambique, mas disso não passou.

«Comecei no Alverca aos 13 anos, joguei dois anos nos seniores, na Liga. Depois, o Benfica foi-me buscar. Fui eu e mais um autocarro», atira. «Era eu, o Artur Futre, o Amoreirinha, o Manú... Fomos quatro ou cinco para o Benfica, mas nunca cheguei a jogar na primeira equipa. Na altura, o Eusébio fez anos e o Benfica foi em estágio uma semana. E eu fui um deles. Mas joguei lá dois jogos amigáveis e mais nada. Depois, fui emprestado», recorda.

Zé Rui, como é mais conhecido no futebol, é filho de pais cabo-verdianos, mas nasceu em Portugal. Não vingou nos encarnados e os cinco anos de contrato cessaram por antecipação em 2006, quando rumou ao Nacional em definitivo. Um negócio consumado com a ida de Miguelito para a Luz. «Não queria terminar a ligação, mas houve acordo entre as duas equipas. Foi difícil rescindir, mas tinha de jogar», nota.

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Antes disso, porém, foi ao clube que ainda pertencia que teve um dos momentos altos da carreira. Em 2005, em pleno Jamor, o Vitória de Setúbal evitou a “dobradinha” do Benfica e ganhou a Taça de Portugal. Zé Rui ficou no banco, mas lembra um dia «inesquecível».

«Na altura, o Trapattoni tinha ganho o campeonato, o Benfica queria fazer a dobradinha e o Vitória de Setúbal estragou a festa. Até hoje lembro isso. Não joguei a final, mas contribuí. Gostei muito», recorda.

Mais tarde, o extremo, que também passou pelo Penafiel, rumou ao estrangeiro. Na Bulgária, representou o CSKA Sofia e o Lokomotiv Mezdra, no espaço de dois anos. Depois, esteve uma época no Gloria Bistrita, da Roménia.

Zé Rui apenas representou o Benfica num torneio em Moçambique

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«Eu jogava no Nacional e um treinador viu um jogo, gostou de mim e fui transferido do Nacional para o CSKA. Estive lá dois anos e joguei no Lokomotiv seis meses. Depois, a Roménia. Quando fui para a Bulgária, o Mladenov, que jogou no Belenenses e era treinador do CSKA Sofia, falava bem português. Na altura, fui eu, o Garcés do Belenenses, o Amuneke do Vitória e foi fácil, adaptei-me bem», destaca.

Depois, em 2011, o regresso a Portugal, para a Naval 1.º de Maio, coincidiu com um regresso falhado do clube à Primeira Liga e o início do fim do emblema da Figueira da Foz, que também, diz Zé Rui, o afetou. «Correu um bocadinho mal. Apostou forte para a primeira, não conseguiu e tivemos problemas financeiros, com seis meses em atraso, foi complicado», relembra.

«Não é o tic-tac como na primeira divisão»

Em 2012, Zé Rui estabeleceu-se em definitivo em Viseu. É lá que vive, com a mulher, angolana, mais dois filhos. Jogou dois anos no Académico, outros tantos no Lusitano Vildemoinhos e no Sátão. Hoje, é a camisola do Silgueiros, na Divisão de Honra da AF Viseu, que defende. Mas já sem o futebol como único sustento.

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«Faço duas coisas. Trabalho nas obras durante o dia e à noite vou aos treinos, por volta das 19 horas. Tenho de trabalhar. O que ganho no distrital não dá para sobreviver. Trabalho como servente, a ajudar os pedreiros, há dois anos e tal», refere quem passa experiência aos mais novos, num campeonato diferente de outrora.

«O ritmo é totalmente diferente. É mais pontapé para a frente, não é o tic-tac como na primeira divisão. Tenho alguma experiência, transmito aos meus colegas e eles olham para mim como se fosse, pá… um ídolo! Na altura tive sorte, mas não tive cabeça. Mudava tudo», lamenta.

«Não fazia vida como um futebolista profissional»: ainda Couceiro e Eusébio

A experiência que diz passar aos colegas é aquela que quer ver refletida em ações que não levem a arrependimento, como é caso próprio. Zé Rui confessa erros de carreira, mau aconselhamento e acompanhamento, que precipitaram uma carreira sem voos mais altos.

«Tive problemas com empresários, não tive quem me aconselhasse bem. Muitas vezes assinava contrato sem ler e perceber das cláusulas, sem perceber dos números. Depois, com 20, 21 anos, a ganhar bem, ia para discotecas, não fazia vida como um futebolista profissional. Arrependo-me. Voltava tudo atrás, mas já é tarde. Se tivesse alguém que me acompanhasse sempre… Era muito novo», relata.

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Uma juventude que acredita, se fosse hoje, «era mais fácil» para poder ter feito percurso no Benfica, que então, defende, «não apostava muito nos jovens». «Se fosse agora, se calhar tinha sorte», aponta.

Lusitano Vildemoinhos foi um dos dez clubes portugueses que Zé Rui já representou

No meio de tudo, Zé Rui diz não esquecer José Couceiro, treinador que o projetou no Alverca e que o recrutou para o V. Setúbal. «Às vezes dizia-me: “ó Zé, ó filho, vem cá, filho vem cá”. Como se fosse pai. Ajudou-me bastante a ser jogador profissional. Meteu-me na equipa do Alverca na primeira divisão, fui para o Vitória através dele», salienta, lembrando, ainda, um dos episódios marcantes que teve quando integrou o Benfica, com Eusébio.

«Quando fui a Moçambique, tive uma conversa com o Eusébio e deu-me um conselho: “ó miúdo, trabalha e tem juízo na cabeça, o resto vem por acréscimo”. Nessa altura jogava, mas faltava a cabecinha. Às vezes é complicado, há coisas que fiz, que não devia ter feito, devia ter sido mais profissional», insiste.

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Da ribalta iniciada no Ribatejo ao arrependimento, é ver Zé Rui a vigorar nos campeonatos distritais viseenses, nos últimos pontapés de carreira.

Artigo original: 23/04; 23h50

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