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Estórias Made In  |  

O central que gosta de arriscar e vê o FC Porto «como uma porta aberta»

Diogo Verdasca passou nove anos de azul e branco. Rumou a Espanha para «sair da zona de conforto» e agora foi mais longe, para Israel. Aos 22 anos, aproveita para «aprender e ver como são as coisas no mundo», mas aponta alto para o futuro no futebol

Estórias Made In é uma rubrica do Maisfutebol que aborda o percurso de jogadores e treinadores portugueses no estrangeiro. Há um português a jogar em cada canto do mundo. Este é o espaço em que relatamos as suas vivências. Sugestões e/ou opiniões para djmarques@mediacapital.pt ou rgouveia@mediacapital.pt

«É bom para alguém com 22 anos aprender e ver como são as coisas no mundo.» Foi com esse espírito que Diogo Verdasca decidiu sair de Portugal aos 20 anos, depois de nove anos com a camisola do FC Porto e de ter passado também pela formação do Boavista, para rumar a Espanha. E que agora escolheu um destino mais distante: Israel.

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Chegou no final de agosto para jogar no Beitar Jerusalém. A conversa com o Maisfutebol acontece no meio da mudança para uma casa nova. «Estive um par de semanas num hotel, que foi arranjado pelo clube. Ao longo destas semanas tenho andado a ver casas e os melhores sítios para ficar, para não ficar muito longe do centro», conta, explicando que a proximidade e a facilidade de deslocação são importantes num país onde a própria comunicação não é fácil: «Aqui fala-se uma língua que não se fala em mais lado nenhum do mundo, hebraico. É complicado.»

O central português jogou as duas últimas temporadas no Saragoça. Mas quando chegou o verão teve de mudar. «No final da época passada o Saragoça já tinha dito que não contava comigo, para procurar soluções. Passei julho e agosto à procura, só treinava. Só fiz dois jogos de pré-época, com equipas de veteranos. Surgiu esta hipótese.» A escolha não foi óbvia: «Foi no início de agosto e ao início rejeitei, preferi esperar a ver que oportunidades poderia haver mais. Sou jovem e gostava de estar mais perto na Europa.» Mas acabou por decidir que seria mesmo esse o seu próximo destino, convencido também por um nome familiar: Yosef Benayoun, antigo internacional israelita com uma longa carreira no futebol inglês, que é o atual diretor-desportivo do Beitar: «A insistência do Beitar e do Benayoun acabaram por me convencer do projeto. Pensei: ‘Por que não? Sou jovem, ainda tenho muito futuro pela frente. Gosto sempre de arriscar, quer no futebol quer na vida.»

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Antes de decidir, Diogo quis saber mais sobre o que iria encontrar, numa região onde permanecem conflitos abertos. «Procurei informar-me, com o meu empresário, com pessoas que já cá estiveram. Se havia segurança, se o futebol era bom.»

O que encontrou em Israel, para onde se mudou com a namorada, foi «um país tranquilo», diz: «É bastante seguro. Não é nada do que se vê nas televisões, é muito tranquilo. Tanto que já tive cá a família, a minha mãe, o meu padrasto e a minha irmã de seis anos.»

Diogo está em Jerusalém, a cidade sagrada para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Onde sente, conta, um clima de tolerância: «A cidade é uma mistura de três religiões, mas toda a gente se respeita. Noto que há muito respeito entre as pessoas. Já deu para visitar um bocado o país e essa é a impressão que tenho por todo o lado.»

«A situação de conflito é mais na Faixa de Gaza, no resto do país não há essa tensão. Há polícias à paisana, há militares, mas a imagem que passa é de segurança. Fui ao Muro das Lamentações e aí há mais presença de militares», conta.

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Quanto ao futebol, tudo decorre de forma «tranquila», diz Diogo. Ainda que o futebol não seja imune às tensões. Ainda recentemente a final do campeonato palestiniano foi cancelada, por não terem sido concedidos vistos a jogadores para viajarem de Gaza até à Cisjordânia.

Dos carros revistados nos centros comerciais às tradições judaicas

Em Jerusalém sente-se a preocupação com a segurança. «Antes de se entrar nos centros comerciais revistam o carro, vêm as bolsas das mulheres. Para mim a sensação que passa é de segurança. Eles não deixam acontecer os atentados que aconteceram em França ou noutros países», diz, contando como essa lógica passa a fazer parte do dia a dia: «Outro dia fui com a família a um centro comercial. Éramos quatro portugueses, não temos aparência de ser de cá. Perguntaram de onde éramos e se éramos diplomatas. Dissemos que não, pediram para ver a mala do carro. A minha mãe olhou para mim e eu disse que era normal.»

Diogo vai procurando integrar-se nos costumes locais. Vai-se habituando à alimentação: «Tem muitos legumes e tem que ser sempre um bocadinho picante. Se não for picante não é comida de Israel.» E já viveu por dentro uma das principais festividades judaicas, o Rosh Hashanah, que se celebrou no final de setembro. «Passei o Ano Novo judaico em casa de um colega de equipa. É uma espécie de Natal e Ano Novo juntos, oferecem-se prendas, há um jantar em família», descreve. «Antes de cada entrada há uma oração, são sete orações. E depois antes do prato principal também. Bebe-se um vinho especial, um vinho doce.»

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É aqui que Diogo reforça a ideia de que olha para a carreira também como a oportunidade de «aprender e ver como são as coisas no mundo». Mesmo que lhe tenha custado sair do FC Porto, onde ganhou muito, onde foi campeão de juniores, campeão da II Liga e da Premier League International Cup em 2015/16, onde chegou a treinar e a entrar em convocatórias da equipa principal.

Do FC Porto a Saragoça para «sair da zona de conforto»

«Estive nove anos no FC Porto. Fiquei triste por ter saído. É o clube do meu coração. Mas vejo o FC Porto como uma porta que ainda está aberta. Um dia gostava de jogar com a camisola do FC Porto no Dragão.»

Fez parte de uma geração que ganhou muito, mas teve poucos jogadores a afirmar-se na equipa principal. «No FC Porto já se apostou mais na formação. Agora até se está a voltar a apostar, com o Fábio Silva e alguns dos jogadores que ganharam a Youth League. Mas o exemplo de aposta na formação neste momento está no Benfica. Está a apostar mais do que qualquer outra equipa», observa Diogo, falando de um problema antigo do futebol português, para o qual não encontra explicação: «Porque vamos buscar fora se temos o mesmo em casa? Não faz sentido. Tem de se apostar mais nos jovens portugueses. As nossas seleções estão sempre em fases finais, têm valor. Mas depois dos sub-21 é muito difícil os jogadores afirmarem-se. Muitos têm de sair, têm de ir para fora. Eu sou um desses casos.»

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Na altura de deixar o FC Porto, Diogo podia ter optado por um desafio mais perto de casa. Mas não foi esse o caminho que escolheu: «Saí de Portugal também para sair da zona de conforto, para não andar emprestado, ou em clubes da II Liga. Decidi apostar num clube histórico como é o Saragoça.

Tinha 20 anos e essa foi a grande mudança. «Fui com dois amigos, nos primeiros seis meses vivi com dois amigos. Passei de jogar no FC Porto B com 500 pessoas nas bancadas, ou menos, a jogar com 25 mil pessoas no estádio. Aprendi muito em Espanha. O Saragoça fez-me crescer muito como pessoa e como jogador», diz: «Estar no Saragoça é como estar no Sp. Braga ou no V. Guimarães. O nível da II Liga espanhola é igual ou superior à II Liga portuguesa. Tem equipas como o Málaga, o Deportivo, o Las Palmas, o Rayo. Muitos jogadores experientes e um nível muito alto.»

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A experiência no Saragoça terminou e agora o presente de Diogo Verdasca é outro. Um caminho ainda a começar, mas com saldo positivo para já. Em Israel a integração tem sido fácil, diz. Também ajudada por caras familiares. «Está cá o Josué, que conhecia do FC Porto. Também me ajudou a integrar, falamos quase diariamente. Aqui no clube ainda apanhei o Afonso Taira, que depois foi para a Roménia, também me ajudou na adaptação», conta.

Na equipa, toda a gente se vai entendendo. «Toda a equipa fala inglês. Mas também tenho a sorte de na equipa técnica ter um preparador físico espanhol, que estava na época passada no Las Palmas, e é uma ajuda bastante grande.» E Diogo já aprendeu umas palavras de hebraico: «Falo alguma coisa. Não estou a ter aulas mas peço aos colegas para me ensinarem. Sei dizer Bom dia, Olá, essas coisas.»

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Diogo chegou há menos de dois meses, mas já ganhou um troféu. Jogou a final da Toto Cup, a terceira competição do futebol israelita, que o Beitar venceu frente ao Maccabi Telavive de André Geraldes e Jair Amador: «É uma espécie de Taça da Liga. Foi importante ganharmos, o Beitar já não ganhava um troféu há 10 anos.»

No campeonato, onde o Beitar está na nona posição ao fim de seis jornadas, já fez três jogos. Está ainda a adaptar-se a um campeonato onde, diz, «não é de esperar o melhor futebol em termos técnicos, mas que é muito exigente a nível físico. «Estou em fase de adaptação, até porque não fiz uma pré-época como deve ser», observa.

«Estou bastante satisfeito, é um clube grande. O objetivo do Beitar é chegar o mais alto possível. Somos uma equipa jovem, vamos ver jogo a jogo o que conseguimos. Se formos campeões é excelente, se formos segundos também é excelente», diz, definindo os objetivos pessoais a curto prazo: «No futuro próximo quero adaptar-me o mais rapidamente possível ao futebol, ao país, tentar subir o meu nível de jogo. E depois tentar ver o que surge no futuro.»

No futuro, Diogo Verdasca aponta alto. «Quero poder jogar na Liga dos Campeões, na Liga Europa. Gostava de jogar na equipa principal do FC Porto, gostava de chegar à seleção. O meu objetivo é a exigência máxima. Estou a evoluir e a trabalhar para isso, quem sabe um dia», diz, para terminar a falar desse objetivo que é voltar ao FC Porto, com um sorriso: «Sou do Porto, cresci no FC Porto, estive lá nove anos, claro que gostava de voltar. O bom filho sempre volta a casa, como diz o ditado.»

Artigo original publicado a 14/10, às 23h50

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