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FC Porto volta a Marselha: «O Jorge Costa ficou tolo com o Drogba»

Cidade do sul de França foi «chave» na heroica campanha de 2003/04. Nuno Valente, pilar desses dragões de José Mourinho, recorda o extraordinário triunfo portista no Vélodrome. «Só sofremos depois do 3-2».

Marselha, ponto cardeal no padrão dos descobrimentos europeus do FC Porto. Sul de França, urbe banhada pelo Mediterrâneo e apaixonada pelo seu Olympique nos círculos do inferno do Vélodrome.

17 anos depois da etapa vencedora de 2003 – e 13 após o empate de 2007 – o azul e branco portista volta a visitar o histórico emblema francês, agora treinado pelo portuense (e não menos portista) André Villas-Boas.

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O Maisfutebol associa a visita da próxima quarta-feira, para a Liga dos Campeões, às duas anteriores passagens do FC Porto por Marselha. Em 2007 a história limita-se a um 1-1 (golos de Niang e Lucho Gonzaléz) e a uma circum-navegação uefeira bloqueada por vários milagres de Manuel Neuer nos oitavos-de-final da Champions.

Em 2003, porém, o argumento é uma quase quimera, um capricho dos deuses e das divindades que fazem do jogo o maior espetáculo do mundo. A esta distância é quase demencial, de resto, recordar a caminhada maniqueísta dos dragões de José Mourinho até ao topo em Gelsenkirchen.

Drogba e Mido, a dupla de ataque do Marselha em 2003 (AP)

Após um empate em Belgrado (Partizan) e uma derrota nas Antas contra o favorito Real Madrid, nada nem ninguém indicava o FC Porto ao lote de candidatos à vitória final. Para Nuno Valente, um dos pilares-mor dessa estrutura bélica desenhada por uma versão ‘pré-Special One’ de Mourinho, o jogo em Marselha é o fundamental abraço à glória.

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«Marselha foi o jogo-chave para a qualificação na fase de grupos. Sabíamos que tínhamos obrigatoriamente de pontuar lá para continuar na luta», recorda ao Maisfutebol o antigo lateral esquerdo do FC Porto, 33 vezes internacional pela seleção de Portugal.

«Empatámos na Sérvia [Partizan], perdemos contra o Real Madrid e chegámos lá com um ponto. Era essencial não perder esse jogo e as coisas correram muito bem. Fizemos uma grande exibição, respondemos bem ao golo madrugador do Drogba e conseguimos calar o Velodróme.»

«Ficámos admirados com o que jogava o Didier Drogba»

Para extirpar o ego francês e o slogan ‘Droit au but’, José Mourinho monta um 4x3x3 mais sólido do que o granito da Serra do Pilar. Costinha joga praticamente como terceiro central ao lado de Jorge Costa e Ricardo Carvalho, os laterais Paulo Ferreira e Nuno Valente usufruem da proteção e do acompanhamento de dois extremos habilitados para as tarefas defensivas, Marco Ferreira e César Peixoto.

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O único problema irresolúvel, assume Nuno Valente, chama-se Didier Drogba. «Nós vimos os vídeos do Marselha e sabíamos que a dupla da frente era uma preocupação, principalmente o Didier Drogba. Mas não tínhamos noção do que ele realmente era. Em campo, admito, ficámos admirados com o que ele jogava», conta o ex-defesa esquerdo do FC Porto, um dos melhores da sua posição na primeira década do século XXI.

«Lembro-me de uma jogada em que o guarda-redes deles bateu a bola longa, nós pensámos discutir esse lance de cabeça e, de repente, vimos o Drogba a saltar e a parar no peito. Ficámos doidos ao ver aquilo. O Jorge Costa ficou tolo. O José Mourinho ficou encantado com ele nesse jogo e foi por isso que depois o quis contratar para o Chelsea.»

É Drogba, aliás, o autor do primeiro golo da noite, aos 24 minutos, mas aos 35 o FC Porto já está na frente do marcador. Maniche marca o primeiro e oferece o segundo a Derlei. Tudo lhe sai bem, mesmo nos momentos de aparente aflição.

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«Esse Marselha tinha uma grande equipa, principalmente no ataque com o Drogba e o Mido. Eram muito perigosos a atacar e marcaram primeiro. Mas nunca nos enervámos, impusemos o nosso futebol e ganhámos o controlo da bola. Depois fizemos dois golos até ao intervalo, a jogar com muita segurança. O 3-1 do Alenitchev apareceu já quando mandávamos completamente no jogo e só sofremos perto do fim, depois de o Marselha reduzir para 2-3.»

«Raramente cedíamos e jamais entrávamos em pânico»

Marselha, claro, mas também Manchester, Lyon, Corunha e Gelsenkirchen. Onde esse FC Porto entra, esse FC Porto manda. Uma equipa rara na conjugação de atributos e anseios, como se o alter-ego fosse apenas e só uma alternativa melhor do que a realidade. O FC Porto ora joga bem, ora joga muito bem, sem grandes flutuações.

«É verdade, o meu FC Porto entrava sempre a mandar, em qualquer relvado. Tínhamos uma mentalidade de obsessão pela vitória. Claro que o Marselha era uma equipa forte e teve períodos em que veio para cima de nós, mas raramente cedíamos e jamais entrávamos em pânico», assegura Nuno Valente.

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Para o antigo lateral, essa formação de 2003/04 é, aliás, uma versão revista e ampliada da antecessora. «Tínhamos feito um ano espetacular na Taça UEFA. A equipa praticava um futebol atrativo e muito organizado. Ainda por cima, conseguimos manter praticamente toda a gente de uma época para a outra [Capucho e Postiga foram as únicas ‘baixas’] e o mister escolheu alguns jogadores que foram verdadeiros reforços, casos do Bosingwa, do Pedro Mendes e do Carlos Alberto.»

Maniche durante o FC Porto-Marselha, nas Antas (AP)

Ao falar com Nuno Valente, o próprio sucesso do FC Porto parece mais fácil de explicar. «Eu daria três explicações para isso: mentalidade vencedora, qualidade no plantel e ambição. O mister planeava e estudava muito bem os adversários, estávamos sempre preparados para qualquer situação dentro do jogo. E isso fazia com que as coisas parecessem mais fáceis, sim.»

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Essa pertinácia injetada no FC Porto por Mourinho conduz a instituição ao segundo troféu na Liga dos Campeões, depois de 1987 e do orgástico calcanhar de Rabah Madjer. Dizem os viajantes que a melhor parte de uma expedição é o percurso e não o destino. Nuno Valente diz que sim.

«O jogo de Manchester foi o mais emocionante dessa campanha, foi o jogo do clic: ‘sim, é possível, vamos lutar por isto’. Encarámos a competição com muita ambição e depois de passar em Old Trafford sentimos que podíamos passar em qualquer lado. O golo do Costinha, quase a acabar, foi dos melhores momentos da minha carreira.»

«Tive um arrancamento do ligamento do joelho, foi um choque»

Em 2002, quase com 28 anos, Nuno Valente chega ao FC Porto. É a melhor medida possível para uma carreira que prometera muito, mas que parecia estagnar em Leiria. Formado no Sporting, Nuno Valente faz 43 jogos pela equipa principal dos leões, com empréstimos ao Portimonense e ao Marítimo pelo meio.

A ligação acaba em 1999 e Nuno ruma à cidade do Lis para três anos de grande nível. José Mourinho não se esquece de o levar para o FC Porto, juntamente com mais três nomes desse Leiria: Tiago, Derlei e Maciel.

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Para Nuno, o melhor chega ali já bem perto dos 30 anos, com oito troféus conquistados em duas temporadas. «Joguei com regularidade e com qualidade acima da média», diz agora. Só uma lesão grave acaba com a sensação de namoro constante e arrebatador.

«2003/04 foi uma época muito especial, dei continuidade à temporada anterior, que já tinha sido boa para todos. Mas no ano seguinte tive um arrancamento do ligamento do joelho e tive de parar seis meses. Pensei que ia parar um mês ou dois, e depois consultei um especialista em França que me deu a triste notícia. Foi um choque. Fiz poucos jogos, não estava bem do joelho, foi uma época para esquecer.»

Em 2005, Nuno Valente aceita o desafio do Everton e parte para quatro anos na Premier League. A carreira acaba em 2009, aos 34 anos, com muito para contar. Agora, após experiências no departamento de observação do Sporting, nos sub19 do Sacavenenese e da estreia como treinador principal no Trofense (2017/18), Nuno aguarda novos desafios.

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«Estou à espera de um bom convite para treinar e espero treinar em breve. Tenho o III Nível e espero que apareça um bom projeto para trabalhar. Estou a aguardar também para tirar o IV Nível, para depois experimentar outras culturas e outros campeonatos.»

MARSELHA, 2 – FC PORTO, 3 (22 de outubro de 2003)

FICHA DE JOGO:

Árbitro: Kyros Vassaras (Grécia)

MARSELHA: Runje; Ecker, Van Buyten, Meité, Pérez (Sychev, 66), Meriem, Hemdani, Celestini, Marlet, Drogba e Mido (Vachousek, 67).

Não utilizados: Gávanon (GR), Beye, Laurenti, N’Diaye e Joahnsen. Treinador: Alan Perrin

FC PORTO: Vítor Baía; Paulo Ferreira, Jorge Costa, Ricardo Carvalho e Nuno Valente; Maniche, Costinha e Deco; Marco Ferreira (Alenitchev, 73), Derlei (Jankauskas, 88) e César Peixoto (Bosingwa, 65).

Não utilizados: Nuno (GR), Pedro Emanuel, Ricardo Fernandes e Benni McCarthy Treinador: José Mourinho

Golos: Drogba (24), Maniche (31), Derlei (35), Alenitchev (81) e Marlet (83)

VÍDEO: o 2-3 do FC Porto em Marselha (imagens RTP)

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