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Racismo no futebol português: casos da vida real, na primeira pessoa

Júnior, Janício, Sandro e Pelé falam ao Maisfutebol sobre o problema

Sérgio Pereira

Abordar o tema é complicado: escasseia a informação, dados concretos, situações tornadas públicas, pessoas com vontade de falar sobre o problema. Ainda assim, o Maisfutebol recolheu alguns depoimentos de jogadores da Liga portuguesa que conviveram, directa ou indirectamente, com manifestações de racismo, dentro e fora dos relvados. As opiniões não são unânimes, convergem quando referem que a situação no nosso país não atinge as proporções verificados noutros pontos do globo, mas validam a tese de que o racismo é, infelizmente, uma realidade no nosso futebol. Júnior, médio brasileiro do Paços de Ferreira, é um dos mais críticos, lamentando que um país com relações com África e com o Brasil ainda não tenha afastado de vez esses restícios de intolerância que se estranham em pleno século XXI. «Acontece-me mais fora dos relvados do que dentro, mas já assisti a diversas situações desagradáveis. Portugal é um país extremamente racista. O que me entristece é que isso é mais vincado nos jovens. Na escola, os meus filhos são chamados de pretos por tudo e por nada. Às vezes, quando vou ao banco e ao supermercado, lá tenho de ouvir um miúdo dizer: pai, olha ali um preto. O pai fica envergonhado, eu procuro ignorar», relata. Nos relvados, os jogadores de outras raças estão preparados para ouvir insultos que visam desconcentrar o atleta, por parte dos adeptos e mesmo dos adversários. «Aqui, em Paços de Ferreira, não tenho desses problemas com os adeptos, mas é habitual em alguns balneários, dentro do campo e nas bancadas. Quando tentam criticam, chamam logo de preto, escravo, para salientar a nossa alegada burrice. Fico desanimado, quando vejo essa diferenciação por raças, cores ou religião. Podemos compreender que só têm como objectivo destabilizar, mas ouvir o som do macado, por exemplo, é extremamente desagradável, mesmo que não seja feito para nós», desabaja Júnior. Um mau exemplo em Pinhal NovoJanício, lateral direito que trocou no início da época o Torreense pelo Vitória de Setúbal, está habituado ao «som do macaco», ao «uh, uh, uh, uh, uh» que surge das bancadas quando um jogador de cor toca na bola. Há três anos e meio em Portugal, o cabo-verdiana relata a sua experiência, confirmando sentir maiores demonstrações de racismo nas pequenas localidades e no norte do País. «Quando jogava pelo Torrense e íamos ao Norte, era mais frequente, de facto, mas acaba por ser uma realidade de todo o país», começa por dizer. De entre uma série de situações desagradáveis ocorridas na presente temporada, com a camisola da formação sadina, Janício acaba por descatar a deslocação ao reduto do Pinhalnovense, para a Taça de Portugal: «Esta época, continua a acontecer, não em Setúbal, mas noutros campos. Considero que o mais grave foi no campo do Pinhalnovense, estive sempre a ouvir insultos, mas tento nunca perder a concentração. Fazem tudo para nos provocar, portanto tenho que concordar quando surgem casos como o Etoo, que quis abandonar o relvado. Acho que a situação em Portugal não melhorou, nos últimos anos». Pelé (Belenenses) e Sandro (V. Setúbal) não alinham pelo mesmo diapasão. Admitem a existência do fenónemo, nos relvados nacionais, mas garante nunca terem sido alvos de manifestações de racismo. «Nunca vivi uma situação como a do Etoo. Portugal é mais tranquilo nesse aspecto, mas também há, também há. Nunca ouvi nenhum insulto racista dirigido a mim, mas já ouvi para outros jogadores e isso é uma situação muito chata. Não gosto, mas não deixo que isso me afecte, porque é isso que essas pessoas querem, mais do que insultar, querem perturbar os jogadores», afirma o defesa-central da equipa do Restelo. «Uma ou outra vez acontece, mas julgo que, em Portugal, os jogadores de cor não têm grandes razões de queixa. Pessoalmente, nunca me aconteceu nada de especial», garante, por sua vez, o médio da formação sadina.

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