A herança portuguesa de Griezmann, Antoine 'Lopes' Griezmann
O neto de Amaro da Cavada, jogador que ficou na história do Paços, chegou a pensar na seleção de Portugal
[artigo publicado originalmente na MF Total de 28 de setembro de 2015]
Antoine Lopes Griezmann. Podia ser assim mas em França não era habitual colocar o apelido da mãe no bebé. Ficou apenas Antoine Griezmann. Em semana de Portugal-França, recuperamos a herança portuguesa do atual avançado do Barcelona, abordada pelo jogador este domingo. A história gira em torno do eixo Paços de Ferreira-Macôn. Em 2015, a pista levou-nos a um familiar pacense. Batemos à porta e esta abre. E mais uma. Depois outra. Com hospitalidade nortenha, levaram-nos para a quarta porta. Os minutos de conversa passaram a horas e, a certa altura, chegamos a um casamento. Foi de lá que José Lopes, o tio, pegou no telefone para desenhar a árvore genealógica de Antoine. O tronco pertence a Amaro, o Amaro da Cavada que ficou na história do FC Paços de Ferreira. Garantem-nos que Antoine Griezmann tem no seu ADN futebolístico traços vincados do avô português. Defesa raçudo, «exemplo da garra pacense», Amaro fez parte da equipa pioneira na Capital do Móvel. O clube surgiu em abril de 1950, sob o nome FC Vasco da Gama, e no plantel destacavam-se elementos como o avançado Agostinho Alves, o guarda-redes Leão e o avô de Antoine Griezmann. Amaro Lopes representou o Paços, então Vasco, na primeira metade da década de 50. Era da zona da Cavada, nome do recinto que acolhia a equipa, e a alcunha ficou gravada no livro FC Paços de Ferreira – 1950/2000 – 50 anos de história.
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Posted by Antoine Griezmann on Segunda-feira, 14 de Julho de 2014
Uma memória de infância em Paços de Ferreira e o natal português Antoine Griezmann cresceu entre portugueses, de primeira ou segunda geração, mas não tinha por hábito passar as férias em terras lusas. Começou a pensar no futebol desde a infância, por influência do pai, e os verões serviam para períodos de teste em clubes de topo. Ana Isabel Silva, prima afastada, não esquece porém os dias que o pequeno Antoine passou em Portugal, numas inusitadas férias em Paços de Ferreira. «Lembro-me perfeitamente, até porque ele ficou em casa da minha avó. Parte da família da mãe dele é da freguesia de Lamoso, outra mesmo de Paços, e há muita gente nesta zona a torcer pelo sucesso do Antoine. É um motivo de orgulhoso pacense.» Griezmann cresceu, ficou sem tempo para partilhar alegrias com toda a família mas insiste em manter um hábito que o deixa mais perto dos portugueses. O tio José explica. «O dia de Natal é sempre em Macôn com a família Lopes. No dia 25, vem ele, o pai, os irmãos, e comem com os Lopes. É mais comida francesa, porque o bacalhau é na véspera, mas adoramos que ele mantenha esse hábito. É um rapaz muito ligado à família.»O tio Manuel, o Sporting de Macôn e o Torneio Amaro Lopes Antoine Griezmann não esquece a família nem o quanto aprendeu em Macôn. Foi ali, entre franceses e portugueses, que deu os primeiros pontapés na bola. O tio Manuel, antigo jogador, também desempenhou um papel importante. José faz a referência. «O meu irmão Manuel era muito bom jogador, lembro-me de um verão em que foi treinar ao Paços de Ferreira e queriam ficar com ele, mas ele preferiu voltar para França. O Antoine também ouviu muitos conselhos dele, para além de ouvir o Alain. Por mais que seja importante o lado português, também devemos reconhecer que o pai fez muito pela carreira dele. Se não fosse o Alain, se calhar o Antoine não era jogador de futebol.» Manuel ficou em França e fez carreira nos escalões inferiores do país. Mais tarde viria a ser treinador, passando pelo clube da comunidade portuguesa em Macôn: o Sporting Club. Fernando Alves, antigo emigrante na localidade francesa, foi jogador e dirigente do clube. «O irmão mais novo do Antoine, o Théo, joga lá no Sporting. É um clube de toda a comunidade portuguesa, mas lembro-me que na sede havia mais emblemas do Paços de Ferreira do que dos outros clubes, mesmo dos grandes. E no ano em que fui eu a comprar os equipamentos vestimos de amarelo e verde em honra do Paços.» Filipe Alves, ao contrário de Fernando, continua em Macôn e no Sporting. De repente, leva-nos para o início desta já longa história. «Lá no Sporting costumamos organizar um torneio em fevereiro. Sabe como se chama? Amaro Lopes, em memória do avô do Antoine, pelo que representou e fez pela comunidade.» Tudo começou em Amaro Lopes, o Amaro da Cavada, e chegou a Griezmann, Antoine 'Lopes' Griezmann. Grande parte do ADN é de Portugal, embora o avançado não sabia falar a nossa língua. Lembra-se apenas de palavras soltas, como estas, que não podemos reproduzir.
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