Recupero um artigo com alguns dias. Faz sentido hoje, outra vez. Um estudo recente da Universidade Católica, para a Liga portuguesa, fala sobre os clubes portugueses e a sua vocação de comprador-vendedor. Onde também se fala nos fundos. Este texto é uma análise a partir desse estudo, cuja leitura atenta recomendo vivamente

Os fundos de investimento e/ou as empresas que participam na compra de passes de jogadores chegaram para ficar. Esta é a realidade, sobretudo no futebol português. O estudo recente da Universidade Católica para a Liga portuguesa, sobre o nosso futebol, explica o fenómeno. Maisfutebol propõe-lhe uma viagem pelo documento.

Portugal e os outros

O estudo da Católica permite perceber que o futebol português é um caso diferente de todos no universo europeu. Por razões várias, os clubes, sobretudo os maiores, conseguiram estabelecer-se como valorizadores de futebolistas. Na última década, compraram muitas vezes barato, em mercados secundários (América do Sul e África, sobretudo), valorizaram e venderam uns meses depois bem mais caro, para os mercados fundamentais: Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha. Além de comprarem, também formaram.

Este papel de valorizador dá ao futebol português uma estrutura de receitas diferente de todas as ligas, as maiores e as que têm uma dimensão semelhante à nossa.

Ao contrário do que sucede nos grandes campeonatos, onde as maiores receitas chegam dos direitos televisivos, das receitas de publicidade/patrocínio e da venda de bilhetes, os clubes portugueses de topo vivem sobretudo do dinheiro que ganham com a venda de futebolistas. Na média da Liga portuguesa, 25 por cento das receitas dos clubes chegam das transferências que realizam.

Isto sucede, em grande parte, devido a três factores: qualidade de quem tem gerido os maiores clubes (saber comprar e saber vender), capacidade de formação (na última década o futebol português produziu grandes talentos) e presença nas maiores provas de clubes e selecção (é aí, sobretudo, que se valorizam os jogadores).

Os mercados mais baratos

Os responsáveis portugueses adquiriram, ao longo do tempo, conhecimentos relevantes em mercados que reúnem condições invulgares: o brasileiro e o argentino. Aí os jogadores são mais baratos do que na Europa, os clubes estão longe de exibirem saúde financeira e por serem sobretudo pontos de saída, os futebolistas mais jovens têm grande facilidade de chegar cedo aos patamares mais elevados de competição. Ou seja, crescem mais depressa.

Este conhecimento, mais a disposição legal que permite aos brasileiros não contar como estrangeiros em Portugal, tem possibilitado a importação de jovens talentos sul-americanos. Uma vez chegados aos melhores emblemas portugueses têm encontrado espaço para competir, evoluir e, consequentemente, ser vendidos para campeonatos mais competitivos. Um, dois ou três anos são suficientes.

A mais-valia gerada por este fluxo tem permitido aos clubes portugueses libertar dinheiro que lhes permite aguentar os melhores jogadores o tempo suficiente para ter sucesso desportivo na Europa e, ao mesmo tempo, continuar a investir nos tais mercados secundários.

De acordo com o estudo da Católica, este modelo está numa fase crítica.

(continua)