Sábado, 20.30 horas, Estádio da Luz.

Já há data, hora e local, claro, para se disputar aquele que ameaça ser o jogo da época no futebol português. O Benfica recebe o Sp. Braga e muito da luta pelo título acabará por ser definido pelo que sair deste confronto. Para um lado ou para outro.

Se o Benfica ganhar e entrar nas últimas três jornadas com quatro pontos de avanço, dificilmente não será campeão. Já se perder pontos, antes de jogar em Alvalade, arrisca-se a entrar numa espiral de pressão à qual será seguramente difícil sobreviver.

Ora por isso, o Maisfutebol olha para este jogo com especial atenção e pela perspetiva de três especialistas: três homens habituados a analisar o futebol que vamos vendo em Portugal.

A pergunta é muito simples: que aspeto tático pode ser definir o Benfica-Sp. Braga?

Os três deram respostas diferentes, embora Pedro Bouças e Diogo Arcelão tenham uma análise com pontos em comum. Pedro Bouças acredita que a chave do jogo, sobretudo olhando para o que foi a deslocação do Sp. Braga a Alvalade, pode estar na capacidade bracarense se pressionar alto e do Benfica em ultrapassar essa pressão alta. Quem ganhar esse duelo, fica em clara vantagem.

Já Diogo Arcelão destaca a importância das transições defensivas, tanto para o Benfica como para o Sp. Braga, pela capacidade muito forte das duas equipas em situações de igualdade ou superioridade numérica nas saídas rápidas para o ataque.

Já o treinador João Nuno Fonseca destaca a capacidade de Benfica e Sp. Braga se adaptarem ao que o jogo pede durante a própria partida, pelo que imagina um confronto muito equilibrado e encaixado. Por isso mesmo, aponta às bolas paradas como decisivas para o desfecho.

Vale a pena referir, já agora, que a este propósito o analista Diogo Arcelão considera que vamos poder ver um de dois jogos distintos: ou muito fechado, com as equipas à procura de uma brecha para ganharem num lance isolado, ou então completamente aberto, com muitos ataques rápidos e contra-ataques, para um resultado com vários golos.

«As dinâmicas inicialmente criadas por Roger Schmidt, como o jogo interior, aproveitamento do espaço entrelinhas, dinâmicas do Gonçalo Ramos a arrastar a oposição (com o extremo ou o 10 a atacar o espaço livre) e a construção de jogadas através de superioridade nos corredores laterais já não têm a mesma fluidez e imprevisibilidade do início da época», refere.

«Já o Sp. Braga apresenta índices de confiança bem acima do adversário e dinâmicas ofensivas muito fortes, tanto em construção pelos corredores laterais como no ataque à profundidade, aproveitando o facto de Abel Ruiz e Banza serem muito fortes nas roturas entre adversários.»

Pedro Bouças, treinador, analista e comentador

Ex-Boavista, Santos, BSad e Futebol Benfica

«O que eu acho que pode ser um fator chave para a resolução do jogo tem a ver com a capacidade de pressão do Sp. Braga e a capacidade do Benfica para sair dessa pressão. O que é que eu quero dizer com isto? Se recordarmos por exemplo aquilo que o Sp. Braga fez em Alvalade, é uma equipa que pressiona a campo inteiro e, quando essa pressão resulta, quando consegue recuperar bolas no meio-campo ofensivo, torna-se uma equipa muito perigosa: faz muitos golos dessa forma, porque recupera a bola e fica a atacar só contra os defesas adversários. E aí tem o Ricardo Horta e o Uuri e o próprio Abel Ruiz, que são jogadores que definem com muita qualidade. Por outro lado, se se depara com uma equipa que consegue bater essa primeira pressão, como foi o caso do Sporting, abre-se ali espaço e a equipa que bate a pressão fica a atacar apenas contra os defesas do Sp. Braga e com muito espaço para correr. Se recordarmos os golos em Alvalade, há mais que um golo em que os jogadores do Sporting têm muito espaço para correr no meio-campo adversário, contra poucos adversários. Portanto, eu acho que essa capacidade que o Benfica demonstrar para, quando a bola estiver nos seus defesas, conseguir sair a jogar batendo os jogadores do Sp. Braga que vêm pressionar alto, pode decidir muito do jogo. Ou seja, se o Sp. Braga recuperar bolas nesse momento pode chegar ao golo, se não recuperar está no limbo de poder sofrer golo. Portanto, acho que esse pode ser uma das chaves táticas do jogo: a capacidade de pressão do Sp. Braga e a capacidade de sair dessa pressão por parte do Benfica. Quem for bem-sucedido nesse momento, acho que está em vantagem.»

João Nuno Fonseca, treinador de futebol

Ex-Reims, Benfica, Nantes e Academia Aspire

«Acho que vai ser um jogo taticamente muito equilibrado, porque as duas equipas têm tido uma consistência bastante grande ao longo da época. Apesar do Benfica ter um ascendente em termos coletivos, vai acabar por impor o seu jogo ofensivo, mas acredito que o jogo vai ser muito importante nas bolas paradas. Acredito que o encaixe das equipas poderá ser quase perfeito, porque tanto o Benfica como o Sp. Braga demonstram inteligência para se ajustarem ao longo da partida, ainda que do meu ponto de vista, e pelo que têm sido os últimos jogos, o Benfica vai por necessidade impor o seu jogo ofensivo e tentar dominar o encontro. Já o Sp. Braga estará mais à procura das transições ofensivas rápidas. Mas de qualquer forma, reforço a importância das bolas paradas no que vai ser a definição deste jogo.»

Diogo Arcelão, observador e analista de futebol

Sacavenense, ex-Sporting e Sintrense

«Um dos aspetos específicos que acredito que pode ser decisivo é o trabalho das transições defensivas. Ambas as equipas possuem jogadores muito rápidos e eficazes em ataques com superioridade, e a equipa que apresentar um equilíbrio ofensivo mais eficaz terá mais facilidade na reação à perda da bola e na sua recuperação, não deixando assim o adversário criar oportunidades de golo com superioridade ou igualdade numérica. A defesa dos corredores pode tornar-se muito importante devido à imprevisibilidade das equipas nesse aspeto, com Ricardo Horta e Bruma ou David Neres e João Mário. Por isso a equipa que conseguir defensivamente colocar pelo menos dois homens a defender nos corredores vai ter coberturas garantidas e uma vantagem enorme. Acredito que será um jogo muito equilibrado, no qual os detalhes vão ser decisivos. Acredito, no fundo, que será um jogo muito equilibrado, no qual os detalhes vão ser decisivos para ditar o vencedor, sem esquecer que o estádio cheio a apoiar o Benfica também pode ser importante para a equipa, tornando-se na realidade o 12º jogador.»