Comecemos pelas curiosidades. Um clássico com onze estreantes – sete no FC Porto, quatro no Benfica - acabou por ser decidido por um deles. Quase 31 anos depois da estreia do pai em jogos entre dragões e águias (em janeiro de 1985), André André tornou-se o grande protagonista da noite no Dragão marcando o golo decisivo – algo que o seu pai nunca conseguiu fazer, em onze temporadas como jogador portista.

Desde Ricardo Quaresma, em 2007, que um clássico entre estas equipas não era decidido por um golo solitário de um português –à terceira tentativa, foi o primeiro conseguido pelo FC Porto com Lopetegui como treinador, diante do Benfica. Por outro lado, este foi um dos clássicos dos últimos anos com mais jovens portugueses em campo: a presença de Rúben Neves, Gonçalo Guedes e Nélson Semedo – a que se pode juntar o nome de Danilo Pereira – mostra que Lopetegui e Rui Vitória não tiveram receio de apostar na juventude num jogo com esta dimensão.

Mas a história do jogo não se resume ao lance decisivo, como o demonstra a análise realizada pelo Centro de Estudos de Futebol da Universidade Lusófona em exclusivo para o Maisfutebol, juntamente com os dados oficiais da Liga.

Eis os pontos fortes de uma partida em que os números finais exprimem o domínio portista, mas em que a análise pormenorizada dos dois períodos de jogo contam uma história ligeiramente diferente, com um Benfica a ir de mais a menos e o FC Porto a fazer o trajeto contrário, até ao golo da vitória.

As causas de um bom Benfica até ao intervalo

Um FC Porto com dificuldade em ligar o jogo no meio campo encarnado e, mais ainda, em criar situações de finalização na área encarnada. Foi esta a tendência de um primeiro tempo em que os encarnados se mostraram confortáveis durante boa parte do tempo – aliás, dispondo das duas primeiras situações de golo, com Casillas a resolver a ineficácia defensiva dos dragões em dois lances de bola parada.

Com espaço entre as linhas e dificuldade para manter um bloco compacto, a equipa de Lopetegui foi entrando depois no jogo graças a uma ciruclação em largura que tirava partido do apoio dos laterais, em especial Maxi Pereira. E acabou a primeira parte já com posse prolongada no meio-campo encarnado, mais próxima da área de Júlio César.

Do lado do Benfica, o melhor período do jogo tem uma fórmula chave: bloco intermédio compacto. A equipa esteve sempre equilibrada nesta fase, ganhando grande parte das segundas bolas ao FC Porto. A segurança traduziu-se no escasso número de bolas perdidas na primeira fase de construção, mas teve como contrapartida alguma timidez no aproveitamento do espaço que o FC Porto abria entre linhas e limitações evidentes nas transições rápidas para o ataque. As situações de finalização criadas, com melhor aproveitamento do que o FC Porto (Benfica finalizou 12% dos ataques contra apenas 9% do seu adversário) resultaram quase sempre de lances de bola parada, nas proximidades da área de Casillas. E acaba por ser natural que o Benfica tivesse chegado ao intervalo com mais remates (quatro) do que o seu adversário (três).

Menos jogo útil e muito mais FC Porto

Ao contrário da primeira parte, com poucas faltas e uma apreciável percentagem de tempo útil de jogo, o segundo tempo trouxe um aumento do número de faltas e de intensidade nos duelos. Quem aproveitou melhor a situação foi o FC Porto, que teve tudo a mais: mais iniciativas, mais remates, mais bolas paradas ofensivas e mais tempo de posse de bola. Como maior sintoma, o facto de os dragões terem, na segunda parte, 45 por cento das perdas de bola em zona de finalização, quase o triplo da percentagem do primeiro tempo.

Nestas coisas é sempre difícil perceber onde começa o mérito de uns e o demérito de outros, mas o Benfica foi, a partir do intervalo, uma equipa mais apática, perdendo tudo o que lhe tinha permitido controlar a primeira parte – à exceção da coesão defensiva, que se manteve até final. A organização ofensiva passou de contida a quase inexistente – como o atesta o desaparecimento de situações de bola parada na área portista. A juntar a isto, a incapacidade para gerir os ritmos de jogo traduziu-se em mais perdas de bola – como a que nasce do ressalto Jardel-Pizzi, no meio-campo portista, que deu origem ao único golo do jogo.

A frequência de remates inverteu-se por completo: o Benfica só conseguiu dois no segundo tempo, e só um deles – de Mitroglou, de cabeça, nas imediações da área. O FC Porto, pelo contrário, iniciou o ascendente com a cabeça de Aboubakar ao poste, e terminou-o com o golo de André André, após uma bola perdida de ressalto em Pizzi, que permitiu a Brahimi encontrar a defesa encarnada descompensada. O trabalho de Varela e o movimento de profundidade de André André fizeram o resto.

Números chave do clássico

Posse de bola:
FC Porto-Benfica, 65/35
Remates:
FC Porto-Benfica, 12-6
Remates à baliza:
FC Porto-Benfica, 3-3
Cantos:
FC Porto-Benfica, 8-3
Faltas cometidas:
FC Porto-Benfica, 16-20