*com Pedro Jorge da Cunha

Fernando Santos apresentou um dos últimos leques de escolhas na reta final da preparação para o Campeonato da Europa de 2016. O Selecionador Nacional vai compondo o derradeiro grupo para a prova em França e sobram pouco tempo e espaço para surpresas.

Analisando esta lista de convocados da Seleção, percebe-se que os clubes estrangeiros continuam em óbvia maioria (16 representados contra 8 da Liga). Essa tem sido uma evidência ao longo dos últimos anos e não pode ser dissociada da realidade do nosso futebol: os grandes importam cada vez mais e os nossos talentos emigram cada vez mais cedo.

O Maisfutebol recuou até agosto de 2010, na ressaca da participação de Portugal no Campeonato do Mundo da África do Sul. Iniciava-se nessa altura a qualificação para o Europeu, com Carlos Queiroz perto da saída e Agostinho Oliveira a segurar o barco. Paulo Bento chegaria no mês seguinte.

Em cinco anos e meio e mais de trinta convocatórias (iniciais, antes de mudanças pontuais) há sinais claros e conclusões a tirar. Percebe-se por exemplo que a influência dos clubes portugueses na Seleção Nacional não vai além dos 37,2 por cento contra os 62,8 por cento de emblemas de outros países. Aliás, Real Madrid e Zenit surgem entre os clubes com maior presença na equipa das Quinas.

O Sporting é o principal fornecedor de matéria humana, seguido de Real Madrid, FC Porto, Sp. Braga, Zenit e Benfica.

Para esta análise foi contabilizada cada presença de um jogador na Seleção. Ou seja, se Cristiano Ronaldo foi convocado em mais de vinte ocasiões, tem naturalmente maior peso que Marafona, por exemplo, chamado por uma vez.

Portanto, compilámos dados de total de 32 convocatórias e 702 escolhas do Selecionador Nacional – Agostinho Oliveira no período de castigo de Carlos Queiroz, Paulo Bento e agora Fernando Santos.

Nos últimos anos o Sporting reforçou a sua posição no leque de opções (83 presenças), sobretudo com Fernando Santos, ultrapassando Real Madrid (79) e FC Porto (68). Os dragões estiveram em primeiro até 2014, sempre com os merengues por perto, graças a jogadores indiscutíveis como Cristiano Ronaldo e Pepe, para além de Fábio Coentrão e Ricardo Carvalho, entretanto transferidos para o AS Mónaco.

O Sp. Braga é encarado como um clube de nível alto para colocar jogadores na Seleção e ocupa a quarta posição na tabela, com um número interessante (59). Segue-se o Zenit S. Petersburgo (47) e só depois o Benfica (40), menor presente que os outros três clubes portugueses.

Nota ainda para os restantes emblemas neste «top ten», que se associam a ciclos de apostas em jogadores lusos. O Valência (37) tem sido pródigo nesse aspeto , o Besiktas (25) já o foi e tem deixado de o ser, o Fenerbahçe (24) tornou-se um fenómeno recente e o AS Monaco (21) surge na mesma linha.

Top Ten de presenças nas convocatórias da Seleção:

1. Sporting, 83 presenças

2. Real Madrid, 79

3. FC Porto, 68

4. Sp. Braga, 59

5. Zenit, 47

6. Benfica, 40

7. Valência, 37

8. Besiktas, 25

9. Fenerbahçe, 24

10. AS Mónaco, 21

São dezenas de clubes representados mas apenas de 13 países. 12 deles da Europa. Para além de Portugal, naturalmente, a Seleção encontrou nomes em Espanha, Inglaterra, Alemanha, Itália, França – o chamado Big Five – mas igualmente em campeonatos de outra expressão como Rússia, Turquia, Grécia, Croácia, Roménia e Ucrânia. Recentemente, abriu-se outra porta: para o Championship, segundo escalão do futebol inglês.

Em cinco anos e meio, houve apenas um jogador a ser chamado quando representava um clube-não europeu. Sabe quem foi? Ricardo Costa. No arranque para a fase de qualificação para o Europeu de 2016, Paulo Bento manteve a confiança no defesa polivalente, que estava nessa altura vinculado ao Al-Sailiya do Qatar.

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Que espaço sobra para os outros clubes portugueses?

Outro aspeto interessante nestes dados recolhidos pelo Maisfutebol: a importância residual de outros clubes portugueses (para além de Sporting, FC Porto, Benfica e Sp. Braga) no leque de escolhas da Seleção Nacional.

Tendo em conta a totalidade de opções dos diversos selecionadores após o Mundial 2010, observa-se que a representação de emblemas distintos da Liga se limita a 1,6 por cento do bolo. Ou seja, apenas 11 chamadas em 702, ao longo de 32 listas de convocados.

Curiosamente, foi Fernando Santos a contribuir em larga escala para a melhoria desse parâmetro na sequência de uma convocatória especial para um particular com Cabo Verde, já em março de 2015.

O atual selecionador apresentou uma lista com onze nomes exclusivamente da Liga para defrontar a seleção africana. Dessa forma, abriu-se espaço para representantes de clubes como Rio Ave (Tiago Pinto e Ukra), Vitória de Guimarães (André André), Marítimo (Danilo Pereira), Nacional (Lucas João) e Moreirense (Marafona). O Belenenses também reforçou o seu peso, com Rui Fonte.

Esse duelo particular alterou um cenário globalmente pobre. Para além dos jogadores chamados para defrontar Cabo Verde, houve apenas um a chegar à Seleção Nacional, entre setembro de 2010 e março de 2016, sem vestir nessa altura a camisola de um dos quatro principais clubes.

Ventura, então com 23 anos, foi convocado por Paulo Bento em 2011 quando representava o Portimonense por empréstimo do FC Porto. O guarda-redes voltou à equipa das Quinas quatro anos mais tarde, já como jogador do Belenenses e pela mão de Fernando Santos. A exceção à regra.

Quando o foco da análise são apenas os clubes portugueses, a fatia reservada a Sporting, FC Porto, Benfica e Sp. Braga ascende aos 95,8 por cento. Os restantes 4,2 por cento ficam para outros que não os quatro tradicionais.

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