* por Luís Mateus

Quique Setién é um dos treinadores da moda. Apaixonado pelo xadrez e pelo futebol, e disposto a transportar conceitos dos tabuleiros para os relvados, o atual treinador do Betis tem como inegociável uma filosofia de ataque e de posse, que aplica em todas as equipas que treina. Uma posse não fundamentalista, capaz de terminar com uma bola longa ou uma transição veloz, e que já levou o central Marc Bartra, de regresso a Espanha e agora em Sevilha, a fazer paralelismos com o tempo passado na Catalunha: «Sinto que jogo o mesmo jogo que jogava com Guardiola.»

Setién vai ao ponto de acrescentar que nunca proibirá um jogador de driblar. Um futebol que o próprio, antigo médio criativo, gostaria ainda de jogar. É a ideia do jogo como entretenimento, acima de qualquer resultado.

A ligar Pep e Setién ainda há Cruijff. O mesmo que teria levado o técnico a abdicar de um dedo, se lhe pedissem, para poder ser treinado por ele. Garantia dada pelo próprio.

Um bom arranque no Las Palmas, a recuperação final, com direto a lugar europeu, no Benito Villamarín, deram-lhe crédito para uma nova temporada, em que recebeu jogadores de enorme categoria, capazes de tratar a bola ainda melhor do que antes. São os casos do ex-sportinguista William Carvalho, do antigo médio do Real Madrid Sérgio Canales, do médio criativo argentino Giovani Lo Celso, e do avançado japonês Inui.

Pressão alta e demasiado central do Valencia. Mandi com Francis Guerrero como opção à direita, e Boudebouz a recuar e a ganhar espaço nas entrelinhas.
A bola entra precisamente em Boudebouz e o internacional argelino decide apostar na verticalidade, apesar do duplo triângulo formado por Guerrero, Canales e Guardado.
Sanabria e Inui dão opções de passe a Boudebouz, que se decide pelo japonês, a procurar o espaço, na diagonal, nas costas da defesa do emblema «che».
Inui vai ultrapassar o guarda-redes e é Piccini, ex-jogador do Sporting, que evita o golo.

No entanto, o início não foi famoso. Uma vitória no dérbi da cidade, quatro empates (três 0-0) e uma derrota logo a abrir, em casa, perante o Levante (0-3) mostraram o registo de uma equipa que ainda bastante instável. O 2-2 perante o Athletic Bilbao traz de novo a atualidade a frase que se ouviu várias vezes quando Setién ainda andava pelas Canárias: «Queremos matá-los, mas também não conseguimos deixar de amá-los.»

Os béticos jogam desde a baliza, saem a jogar, só carregam no botão de pânico e desatam a chutar para a frente em último caso. Os bascos aproveitaram essa filosofia, pressionaram, ganharam duas vezes a bola, e chegaram ao 0-2. Se podiam ter morrido por culpa das suas próprias ideias foi também por estas que recuperaram. Sidnei subiu no terreno, pela faixa, e expulsou Susaeta, e no segundo tempo, Bartra rematou de fora da área para reduzir. Lançados para o ataque, como tanto gostam, o empate era uma inevitabilidade e a vitória, depois de um cruzamento de Joaquín, ficou a centímetros.

A construção começa na baliza, aqui por Pau López. O pânico raramente aparece, muitas vezes até em situações de alto risco.

A identidade passa então por uma construção paciente, mas objetiva, destinada a encontrar espaço e em disparar para a baliza contrária. Atacar, mas manter a estabilidade atrás. Posse a espreitar a vertigem. Formam-se triângulos posicionais no meio-campo, os extremos baixam para ajudar na construção, a linha defensiva sobe para reduzir espaços a contra-ataques e manter os setores mais juntos.

Desequilíbrio criado, a equipa atira-se para a frente. Júnior Firpo acabou de receber a bola, e Inui e Sanabria já se preparam para a continuidade. 

A novidade tática deste ano passa a transformação do 4x3x3 ou do 4x1x4x1 habituais num 3x4x3 com extremos muitas vezes a privilegiar espaços interiores, e os laterais projetados no ataque. Com a presença na Liga Europa e algumas lesões, como no caso de William, o onze tem sofrido várias alterações. Destaque para Francis Guerrero, um miúdo da cantera que tem sido aposta na lateral direita, e para o qual o treinador reclamava apoio, face a alguma instabilidade vivida, e foi importante no novo ciclo que a equipa atravessa, de dois triunfos seguidos. Em Girona, é sua a assistência para o golo de Loren Morón. Perante o Leganés, com novo triunfo pela margem mínima (1-0), ficou na bancada, dando o seu lugar a Barragán.

Qualidade técnica de Canales. Momento de abrir o jogo para Junior (fora da imagem), colado à lateral esquerda.

A ideia está lá, a qualidade também, o tempo parece já ter vindo em auxílio de Quique Setién.

Onzes utilizados:

Levante, 0-3 (d): Pau López; Mandi, Bartra e Feddal; William Carvalho; Francis Guerrero, Canales, Guardado e Júnior Firpo; Boudebouz e Loren

Alavés, 0-0: Pau López; Mandi, Bartra e Feddal; Francis Guerrero, William Carvalho, Guardado e Júnior Firpo; Canales, Loren e Inui

Sevilha, 1-0 (v): Pau López; Mandi, Bartra e Feddal; Tello, William Carvalho, Guardado e Júnior Firpo; Canales, Loren e Inui

Valencia, 0-0: Pau López; Mandi, Bartra e Sidnei; Francis Guerrero, Canales, Guardado e Júnior Firpo; Boudebouz, Sanabria e Inui

Olympiakos, 0-0: Robles; Mandi, Javi García e Sidnei; Barragán, Lo Celso, Guardado e Tello; Joaquín; Loren e Sergio León

Athletic Bilbao, 2-2: Pau López; Mandi, Bartra e Sidnei; Francis Guerrero, Lo Celso, Guardado e Júnior Firpo; Canales, Sanabria e Joaquín

Girona, 0-1 (v): Pau López; Mandi, Bartra e Sidnei; Francis Guerrero, Canales, Guardado e Júnior Firpo; Boudebouz, Loren Morón e Inui

Leganés, 1-0 (v): Robles; Mandi, Javi García e Bartra; Barragán, Boudebouz, Canales, Lo Celso e Tello; Sergio León e Joaquín