Ponto forte: a influência do treinador
A figura do Basileia é Paulo Sousa. Também pelo currículo enquanto jogador, mas sobretudo por aquela que é agora a sua valia enquanto treinador (naturalmente influenciada pela carreira anterior). E se o português era um jogador com uma cultura tática acima da média, como treinador vai confirmando, a cada dia que passa, que reúne também enorme conhecimento. O Basileia é claramente inferior ao FC Porto no que diz respeito ao valor individual dos jogadores, mas compensa isso com uma cativante versatilidade tática (analisada adiante). E se o FC Porto negligenciar esse aspeto, por pouco que seja, terá problemas.

Ponto fraco: menor equilíbrio do lado esquerdo
O Basileia é uma equipa que se organiza bem defensivamente, mas ainda assim o seu lado esquerdo revela maior fragilidade, sobretudo em transição rápida. O lateral esquerdo costuma jogar bem por dentro quando a equipa está com a bola, e por isso o flanco está mais desprotegido. E se o extremo for Grashi o risco é ainda maior, por tratar-se de um jogador pouco sólido defensivamente. Do lado contrário é o lateral que dá largura, e por isso recupera com mais facilidade, para além de que Derlis é também um extremo bem mais cooperante defensivamente.

A figura: Shkëlzen Gashi
Foi eleito o «melhor jogador de 2014» na Gala da federação suíça, depois de um ano cheio de golos. Melhor marcador da época anterior, ao serviço do Grasshopper (dezanove tentos), parece empenhado em reconquistar o título de rei dos goleadores com a camisola do Basileia, pois nesta altura lidera a lista com treze tentos. Se englobarmos outras competições sobe para quinze a contabilidade de golos de um jogador que nem é ponta de lança. Internacional albanês (nascido na Suíça), Gashi joga habitualmente como extremo esquerdo, mas destaca-se realmente pela forma como aparece em zonas de finalização para dar uso ao potente pé esquerdo, ou até mesmo para concluir de cabeça, nomeadamente ao segundo poste, após cruzamentos da direita.


Onze base:


VACLIK: recrutado esta época ao Sparta Praga, o guarda-redes checo tem estado claramente à altura de Yann Sommer, transferido para o Borussia Mönchengladbach. Vaclik, de 25 anos, apresenta fantásticos reflexos entre os postes, é muito forte nas «manchas» perante jogadores que surgem isolados e, para além disso, revela grande segurança a jogar com os pés, mesmo sob alguma pressão. Habitualmente preciso quando recorre ao pontapé longo, à procura da referência ofensiva (Streller ou Embolo). Foi expulso no último encontro, mas será um obstáculo difícil no caminho do FC Porto.

XHAKA: um lateral que faz lembrar Maxi Pereira, pela forma combativa e aguerrida com que encara o jogo. E também por projetar-se muito ofensivamente, funcionando muitas vezes como porta de entrada na defensiva contrária, através do lado direito. O internacional albanês de apenas 23 anos pode jogar igualmente como central ou médio defensivo.

SCHÄR: internacional suíço de apenas 23 anos, é uma das figuras da equipa. Tem mostrado potencial, destacando-se sobretudo no jogo aéreo. Tem tendência, contudo, para dar demasiado espaço ao adversário direto quando este consegue dominar a bola em zonas de perigo. Falha a primeira mão devido a castigo.

SUCHY: o internacional checo joga habitualmente como central pela esquerda, mas pode funcionar também como lateral desse lado. Destaca-se igualmente no jogo aéreo, embora não tanto quanto Schär.

SAFARI: com 30 anos recém-cumpridos, o internacional sueco nascido no Irão é o habitual lateral esquerdo. Sobe pouco no terreno, sobretudo pelo modelo de jogo da equipa, e nem tanto assim pelas suas características. Fecha muito bem junto dos centrais (até no início do ataque organizado).

FABIAN FREI: se na seleção suíça ainda procura conquistar o seu espaço, no Basileia é um elemento preponderante. Concilia rigor tático com qualidade técnica, seja como médio mais recuado ou como interior direito, num plano intermédio. Inteligente na forma como ocupa os espaços, dinâmico na pressão sobre o adversário e muito astuto no passe longo para as costas da equipa contrária. Soma dois golos e cinco assistências.

ELNENY: promessa do futebol egípcio, soma 35 internacionalizações com apenas 22 anos. É um parceiro à altura de Frei, pela forma como também revela competência tática e qualidade técnica para participar no jogo de «xadrez» do Basileia. Tem dois golos e duas assistências.

ZUFFI: pode jogar encostado ao lado esquerdo, mas habitualmente desempenha o papel de médio mais ofensivo, que deambula entre uma posição de interior esquerdo e de «10». É nessas zonas que procura criar desequilíbrios entre linhas, com um pé esquerdo muito requintado. É o rei das assistências da equipa (oito), também por ser um dos responsáveis pela cobrança de lances de bola parada, e soma ainda três golos marcados.

DERLIS: Paulo Sousa está fora de Portugal há vários anos, mas direta ou indiretamente continua muito atento ao futebol luso, e por isso decidiu avançar para a compra do jovem avançado paraguaio ao Benfica (estava emprestado ao Olímpia e nunca chegou a ser utilizado por Jesus). Derlis tem justificado plenamente a aposta de Paulo Sousa, revelando sobretudo uma fantástica evolução no comportamento tático. Embora jogue habitualmente como extremo direito, já foi utilizado como ala direito num esquema de três defesas, ou mesmo como lateral direito numa defesa a quatro. E através destas adaptações está cada vez mais envolvido no processo defensivo, inclusive quando joga a extremo. Tem quatro golos e quatro assistências até ao momento.

STRELLER: tem dividido a titularidade com Embolo (catorze jogos de início para cada um), mas quando ambos estão disponíveis a opção recai quase sempre no avançado de 33 anos. Entre os pontos fortes destaca-se a capacidade para segurar a bola na frente quando a equipa vê-se obrigada a recorrer a um futebol mais direto, e a eficiência na finalização. Uma das imagens de marca são os remates cruzados, de pé esquerdo, depois de ter explorado o espaço entre o central e o lateral direito. Praticamente infalível em situações dessas.

Outras opções:
Com Schär castigado para o jogo da primeira mão, Paulo Sousa deve recorrer ao argentino Walter Samuel, um jogador com imensa experiência a este nível, dadas as passagens por clubes como Roma, Real Madrid e Inter, mas que aos 36 anos revela evidentes dificuldades físicas, sobretudo ao nível da velocidade (de reação e de progressão). A outra possibilidade é colocar Xhaka na zona central e dar o lado direito da defesa a Degen, um jogador mais alto e menos ágil, mas que também integra o ataque com qualidade, nomeadamente através de cruzamentos (duas assistências). Menos provável é a aposta em Arlind Ajeti, defesa de 21 anos que fez apenas três jogos até ao momento, e só um deles como titular.
Armand Traoré, contratado ao Vitória de Guimarães, ainda aguarda pela estreia oficial (tem estado com problemas físicos), mas é uma alternativa para o lado esquerdo, seja como lateral ou mais à frente. Na mesma situação está Callà, de 31 anos, capaz de assumir essa polivalência tanto na esquerda como na direita. Pode funcionar como lateral ou jogar ligeiramente mais adiantado, quando Paulo Sousa pretende proteger mais esse flanco.
Na zona central, e perante as saídas de Serey Die (Estugarda) e Marcelo Díaz (Hamburgo), a alternativa a Frei e Elneny acaba por ser também Xhaka. Marcelo Delgado é opção para o papel de «10», que vai partilhando com Zuffi, e aos 32 anos o argentino mostra-se extremamente inteligente na exploração do espaço entre linhas, para além de exímio no último passe (seis assistências, o segundo melhor registo da equipa).
No que diz respeito ao ataque, e perante a saída de Sio (Bastia), Paulo Sousa conta ainda com outro egípcio, Hamoudi, e com o japonês Kakitani, talhados sobretudo para jogar nas alas. O jogador nipónico, de 25 anos, tem sido mais utilizado, e por isso tem revelado maior influência (três golos e três assistências), até na medida em que aparece melhor em zonas de finalização. Hamoudi, um ano mais novo, regista um golo e uma assistência, e sente-se mais confortável na ala, sobretudo na direita, embora seja canhoto. Um pouco à imagem do compatriota Salah, que o Basileia vendeu ao Chelsea (está agora emprestado à Fiorentina).
Embolo é um nome a ter claramente em conta, até por ter os mesmos jogos a titular do que Streller. Com 18 anos festejados no dia de São Valentim, é um avançado possante, rápido e explosivo. Pode jogar como ponta de lança ou extremo direito, e revela boa capacidade de finalização (é o segundo melhor marcador da equipa, com onze golos), assim como vocação para explorar os espaços que a mobilidade da equipa cria nas defesas contrárias.

ANÁLISE DETALHADA:
Líder confortável da Liga suíça (oito pontos de vantagem sobre o Young Boys), e com presença assegurada nos quartos de final da Taça interna, o Basileia chegou aos oitavos de final da Liga dos Campeões à custa do Liverpool (o Real Madrid venceu o grupo e o Ludogorets foi último). Embora a equipa inglesa esteja a fazer uma temporada aquém das expectativas, a campanha do Basileia é altamente meritória, até por não ter perdido com a formação de Brendan Rodgers (vitória caseira e empate em Anfield, na última jornada).

Também neste duelo europeu foi a qualidade tática do Basileia que fez a diferença, com o trabalho desenvolvido por Paulo Sousa a dar frutos. Depois de alguma alternância inicial entre o 3x4x2x1 e o 4x2x3x1 como estrutura-base, o técnico português acabou por consolidar um desenho tático que oscila entre estes dois desenhos dentro do mesmo jogo. E esta versatilidade tática apresenta-se, de resto, como o grande trunfo do Basileia, com as ideias de Paulo Sousa muito bem assimiladas pelos jogadores.
Curiosamente, e para se ter um exemplo próximo, o modelo de jogo do Basileia tem algumas semelhanças com aquilo que é feito pelo Benfica, sobretudo no que diz respeito à organização ofensiva. À semelhança do que é feito por Jorge Jesus, Paulo Sousa introduziu uma primeira fase de construção com três jogadores. Só que em vez de pedir o recuo de um dos médios, é o lateral esquerdo que forma uma primeira linha com os dois centrais. O lateral direito projeta-se bastante ofensivamente no seu corredor, e do lado contrário é o extremo esquerdo que dá largura.



Os dois médios mais defensivos oferecem uma linha de passe próxima, mais segura, mas muitas vezes a bola entra diretamente no extremo direito ou no «10», que procuram desequilibrar no espaço interior (um ligeiramente à direita e o outro ligeiramente à esquerda). Esta é uma das principais «armas» do Basileia, a forma como explora a «terra de ninguém». A «zona cega» entre a linha média e a linha defensiva, e entre o corredor central e as faixas.



Temos, desde logo, duas possibilidades para a saída. Ou pelas alas, e neste cenário o alvo preferencial é o lado direito (com Xhaka ou Degen), ou pela zona central, que se tiver sucesso cria imensas dificuldades ao adversário. Ao fazer entrar a bola nestas «zonas cegas», ou até mesmo só pela simples movimentação dos jogadores mais adiantados, o Basileia obriga o adversário e a reorganizar-se. Por exemplo: se o extremo direito faz uma diagonal para dentro, a criar uma linha de passe no corredor central, a tendência será o lateral esquerdo acompanhar o movimento, ou então ser o central mais próximo a subir ligeiramente. Seja qual for a solução, isso vai criar, nem que seja por frações de segundo, um desposicionamento da defesa contrária. Ou na ala, ou no eixo defensivo. E esse é um aspeto que o Basileia explora muito bem, sobretudo através do ponta de lança, e com Frei assumindo-se como um jogador muito certeiro no passe longo.



Mas embora saiba tirar proveito da referência ofensiva (Streller ou Embolo) quando é preciso, o Basileia só recorre a um futebol mais direto quando todas as linhas de passe se fecham. Esse é, na hierarquia de Paulo Sousa, o último recurso.

No que diz respeito à organização defensiva, o Basileia segue a linha mais tradicional do 4x4x2, com o «10» a juntar-se ao ponta de lança na primeira linha, e depois duas formações de quatro jogadores. Neste contexto os extremos assumem maior importância no seu «habitat natural», os flancos, que procuram fechar com rigor, o que permite aos laterais jogarem bem próximos dos centrais. Callà é o mais rigoroso nesse capítulo, mas o ex-benfiquista Derlis González também tem revelado impressionante evolução tática, muitas vezes jogando até como lateral direito.

Uma coisa é certa: este Basileia renuncia a autocarros. Paulo Sousa aposta num futebol atraente, e isso passa até por pressionar em zonas adiantadas, se possível.