Apesar de ter somado quatro vitórias para chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões, ultrapassando AEK e Young Boys sem qualquer golo sofrido, o CSKA de Moscovo está longe de encantar neste início de época, até porque na Liga russa já tem cinco pontos de atraso para o líder Zenit, por força de um empate e três derrotas em nove jornadas.

No comando da (antiga) equipa do exército desde dezembro – embora antes de suceder a Leonid Slutsky tenha sido seu adjunto, quando este acumulou o clube com a seleção russa (setembro 2015 / maio 2016) -, Viktor Goncharenko está pressionado por uma época em branco no que diz respeito a títulos.

Apesar desse insucesso, o mercado de transferências foi calmo, com o maior destaque a ir até para a saída de Tosic para o Partizan. É neste contexto que Goncharenko mantém a aposta num 3x5x2 que tem dado estabilidade defensiva à equipa, mas também pouca criatividade ofensiva.

Uma das principais limitações do adversário do Benfica está na primeira fase de construção, até pelas lacunas técnicas dos elementos mais recuados, nomeadamente os centrais. Mesmo as saídas através dos alas são pouco sólidas, o que acentua a tendência para um futebol mais direto.

A inclusão de Natcho a meio-campo tende a melhorar esta primeira fase de construção, mas isso implica sacrificar o sueco Wernbloom (pouco influente na construção mas importante no equilíbrio defensivo), ou então inverter o triângulo do “miolo”, habitualmente complementado com os “interiores” Golovin e Dzagoev.

Este último, figura maior da equipa, procura muitas vezes criar soluções de jogo interior, mas é “encontrado” menos vezes do que seria desejável pelos colegas mais recuados. Mário Fernandes e Georgi Schennikov, os habituais alas, aparecem bem em zonas de finalização (este último já tem mesmo três golos marcados) mas têm influência reduzida a construir jogo pelos corredores laterais.

Dzagoev vai procurando desequilibrar entre linhas, mas a primeira fase de construção "descobre-o" com pouca frequência

A equipa tende então a recorrer a um futebol mais direto para a dupla de avançados, e ainda que o poder físico do nigeriano Aaron Olanare seja um aspeto a ter em conta - a contrapartida está na menor qualidade técnica -, a dupla habitual é formado por Fedor Chalov e por Vitinho, o elemento que dá algum calor ao ataque do CSKA.

Embora nem sempre seja servido da melhor forma, o internacional olímpico brasileiro é o grande aliado de Dzagoev na produção ofensiva da equipa. Ao atuar sobretudo como segundo avançado, funciona como elo de ligação, e a prova disso é o estatuto atual de rei das assistências do CSKA (4). Com uma rara capacidade para rematar bem com os dois pés, Vitinho soma dois golos marcados, ambos de fora da área.

Ao cair recorrentemente num futebol mais direto, o CSKA acaba por ficar menos exposto a situações de transição rápida, mas a rapidez de alguns avançados encarnados pode causar desequilíbrios nesses momentos.

Em organização defensiva a equipa russa apresenta-se em 5x3x2, com um bloco médio-baixo, até para dar o menor espaço possível nas costas da linha mais recuada, já que os centrais são algo lentos. Mas ao recuar tanto – e logo cinco elementos, deixando apenas três na linha intermédia -, o CSKA acaba por dar muito espaço que pode ser explorado pelo Benfica.

Organização defensiva em 5x3x2, mas com muito espaço entre setores
Vitinho não condiciona o passe interior, e entre a linha intermédia e a linha mais recuada já existe um espaço significativo
Povoamento do corredor central: é preciso obrigar a equipa russa a «alargar» a sua organização defensiva para conseguir avançar

A formação orientada por Viktor Goncharenko tenta “conduzir” o adversário para uma das laterais, onde intensifica a pressão, mas o Benfica pode tirar proveito da oscilação do tridente de meio-campo (e da dupla de avançados) se conseguir servir rapidamente o lateral do lado oposto, que terá condições para avançar pelo flanco até à chegada do médio interior mais próximo. Por vezes nem há tempo para tal e acaba por ser o ala correspondente a sair na cobertura, o que abre depois um espaço nas suas costas.

Mudança rápida de flanco e espaço para o lateral direito avançar
Variação rápida de flanco, para o lateral direito. O médio interior do CSKA não tem tempo de chegar a tempo da cobertura, o que obriga o lateral/ala a sair ao opositor, abrindo um espaço nas costas que o extremo do Young Boys explora

Referência ainda para a influência dos lances de bola parada no capítulo ofensivo, já que deram origem a um terço dos golos marcados pelo CSKA (quatro tentos de canto e dois de penálti, convertidos por Natcho).

Defesa mista no canto defensivo: marcação individual, mas com dois jogadores com referência zonal

A FIGURA: Alan Dzagoev

Por vezes até nos esquecemos que não foi formado no CSKA, dado que em janeiro completa uma década no clube. Aos 27 anos ainda não avançou para o desafio de enfrentar as crónicas dificuldades dos craques russos no estrangeiro, mas isso não invalida que seja, por estes dias, o jogador mais credenciado do país que vai acolher o Mundial2018.

Alan Dzagoev é o guia deste CSKA, o líder natural dentro de campo, até pela influência abrangente. Ao aliar a tradicional frieza russa a uma qualidade técnica acima da média, o camisola 10 revela-se eficaz no último terço, mas assume também idêntica preponderância em terrenos mais recuados, a assumir a construção de jogo, sem virar a cara ao espírito de luta e às tarefas defensivas. Um médio completo, portanto.