[Análise feita a 2 de abril antes do Sevilha eliminar o FC Porto na Liga Europa]

Ponto forte: o equilíbrio como ponto fundamental

Unai Emery é um técnico que gosta pouco do risco. É provável até que partilhe da opinião de Vítor Pereira, quando este diz que prefere ganhar 1-0 do que 4-3. O equilíbrio é, por isso, uma questão fundamental neste Sevilha. A equipa arrisca pouco em ataque organizado, e também raramente é apanhada em desequilíbrio defensivo. Não costumam permitir que o jogo fique partido, e por isso o número de golos em transição rápida é reduzido (apenas nove marcados e sete sofridos dessa forma).

Ponto fraco: dependência de Rakitic
Adiantando desde já quem é a principal ameaça, a fraqueza do Sevilha é mesmo a dependência do médio croata, que se tem apresentado a um nível absolutamente fantástico esta época. Rara é a jogada de ataque que não passa pelos seus pés, e os colegas andam inevitavelmente à sua procura na construção das jogadas. Se Rakitic não tiver espaço (o que não é fácil), a equipa fica sem ideias.

Principal ameaça: Ivan Rakitic
Época absolutamente assombrosa do internacional croata. Os números dizem tudo: treze golos e dezassete assistências esta época!! Só aqui temos um terço dos golos da formação espanhola. Tanto joga como médio ofensivo em 4x2x3x1 como mais recuado, em 4x4x2, mas sempre como passagem obrigatória para a construção dos ataques. Está numa fase em que mete a bola onde quer, basicamente, não só em bola corrida como também nas situações de bola parada. 

 

Onze base:



Beto: em dúvida para a primeira mão, o guarda-redes que já passou pelo FC Porto dispensa apresentações, e está a fazer uma época de grande nível. Pese embora um ou outro erro, é já um herói em Sevilha, sobretudo depois do embate europeu com o rival Betis.

Coke: tem dividido a titularidade com o português Diogo Figueiras. É menos competente na circulação de bola mas aparece melhor em zonas de finalização, e por isso soma já cinco golos.

Pareja: treinado por Emery no Spartak de Moscovo, juntou-se ao técnico também em Sevilha. É o central tecnicamente mais evoluído, e por isso é muitas vezes ele que dá início às jogadas de ataque, apostando com alguma frequência em passes longos.

Fazio: argentino, tal como o colega de eixo, destaca-se sobretudo pelo poder aéreo. A sua ausência na primeira mão, devido a castigo, pode ser especialmente significativa em relação a esse aspeto.

Alberto Moreno: a coqueluche do Sevilha. Produto da «cantera» do clube, aos 21 anos já chegou à seleção espanhola e tem sido apontado com alguma insistência ao Real Madrid. Competente a defender, é depois muito ativo na vertente ofensiva, com qualidade de passe, de cruzamento e de remate. Marcou três golos até ao momento, e soma ainda duas assistências, ambas na visita ao rival Betis, para a Liga Europa. A segunda merece ser vista vezes sem conta:



Carriço: tem falhado os últimos jogos devido a lesão, e está mesmo em dúvida para a visita ao Dragão, mas se recuperar deve ser titular, até pelo castigo de MBia. Tem jogado mais a meio-campo do que na defesa, e já apontou três golos, explorando os lances de bola parada.

Iborra: é um médio com maior porte físico, importante sobretudo nos duelos aéreos. Revela-se muito influente também nos lances de bola parada, sobretudo quando aparece ao primeiro poste.

Victor Machín (Vitolo): contratado esta época ao Las Palmas, tem sido um elemento muito regular, conciliando qualidade técnica com capacidade de trabalho. Aparece bem tanto na ala como em zonas mais interiores, nas costas do(s) avançado(s). É o segundo jogador com mais assistências (oito), e tem ainda seis golos marcados.

Reyes: o ex-benfiquista perdeu o início de época devido a lesão, e a sua influência na equipa tem aumentado nos últimos tempos. Mais do que as arrancadas, o perigo vem quando decide levantar a cabeça e utilizar o pé esquerdo para servir um colega, seja com um cruzamento ou um passe de rutura. Tem seis assistências, e dois golos.

Bacca: «rival» de Jackson Martínez na seleção colombiana, o avançado contratado ao Club Brugge está a justificar plenamente a aposta. Felino na área, movimenta-se também de forma exímia. Revela, de resto, enorme cumplicidade com Rakitic. Já marcou 19 golos, e tem ainda cinco assistências.

Outras opções:
Javi Varas será o titular na baliza do Sevilha, caso Beto não recupere dos problemas físicos. No eixo da defesa, perante a ausência de Fazio, o parceiro de Pareja será Navarro, ao que tudo indica, que pode ser utilizado também como lateral esquerdo. Se estiver apto Diogo Figueiras é também uma possibilidade para o «onze», em detrimento de Coke. O lateral português é forte no 1x1, tanto ofensiva como defensivamente, e sente é algumas dificuldades quando é preciso responder a situações de cruzamento dentro da área (cinco golos sofridos desta forma).

Com Cristóforo de fora por lesão (foi operado ao joelho), Unai Emery enfrenta problemas para definir o parceiro de Iborra no «duplo pivot». Até porque MBia, um médio possante fisicamente mas também com competência técnica (quatro assistências), está castigado para o Dragão. Se Carriço não recuperar sobram duas hipóteses: apostar em Trochowski, que tem feito uma temporada muito apagada, ou recuar Rakitic.

Nas alas não faltam alternativas ao técnico do Sevilha. Tem Marko Marin, que tarda em reencontrar o nível que o levou ao Chelsea, mas do qual se deve sempre esperar perigo (dois golos e quatro assistências). E depois há ainda Jairo Samperio, um jovem de 20 anos que tem deixado muito boas indicações (cinco golos e seis assistências).

O ataque também está muito bem servido, pois para além de Bacca há ainda Kevin Gameiro. Unai Emery junta os dois na frente muitas vezes, de resto, em 4x4x2. O francês já marcou 14 golos, pelo que a média não é muito inferior à de Bacca.

Análise detalhada:

Depois de um início de época irregular, no qual o cargo de Unai Emery chegou a estar em risco, o Sevilha encontrou a regularidade exibicional e reafirmou a sua ambição europeia. Tanto no que diz respeito à presente campanha na Liga Europa, como na pretensão de voltar às competições da UEFA na próxima temporada, quem sabe até na Liga dos Campeões.

O Sevilha utiliza o 4x4x2 com alguma frequência, juntando Bacca e Gameiro na frente, mas o sistema base é o 4x2x3x1, com Rakitic nas costas do colombiano.

O croata é, conforme já referido, o cérebro da equipa. É ele que marca o ritmo, com praticamente todas as jogadas a passarem pelos seus pés. Com uma capacidade de passe extraordinária, representa um perigo em qualquer zona do campo.

O Sevilha é uma equipa que raramente perde as referências posicionais em termos coletivos. Por mais que esteja com dificuldades em entrar no setor defensivo contrário, nunca fica demasiado balanceado para o ataque.

Opta várias vezes pelo passe longo, mas não se trata propriamente de um futebol direto, à procura de uma referência ofensiva que ganhe nas alturas. É antes uma forma mais fácil de fazer a bola chegar aos pés dos extremos, ou de explorar as costas da defesa adversária. E também uma fórmula mais segura, pois não obriga a equipa a «desarrumar-se».

Só nos instantes finais é que o Sevilha revela alguma tendência para permitir que o jogo se parta. É nesse período que marca mais (24 por cento dos golos), mas é sobretudo nesses últimos quinze minutos que sofre golos (39 por cento nessa altura!!).

Referência ainda para o peso significativo das bolas paradas, semelhante no que diz respeito à vertente ofensiva e defensiva (33 e 32 por cento, respetivamente). Mas se no contexto defensivo há predominância dos pénaltis (sete), algo que não está relacionada com a questão áerea, no ataque destaca-se a importância dos pontapés de canto (doze), cobrados sobretudo ao primeiro poste, para um desvio diretamente para a baliza ou para posterior conclusão ao segundo poste (Iborra, Fazio ou Carriço costumam ser os escolhidos para o tal desvio).