O Maisfutebol lançou esta segunda-feira todos os cenários possíveis e imaginários para a reta final da corrida pelo título.

As contas são relativamente simples: se o Benfica vencer três dos últimos quatro jogos é campeão.   

Ora, o cenário de aparente baixo grau de dificuldade pode, porém, esconder alçapões e obstáculos ingratos. É que não é nada raro ver as águias a perder pontos nas últimas quatro rondas do campeonato.

Nos últimos 30 anos - como se pode ver abaixo no levantamento feito pelo nosso jornal -, o Benfica foi incapaz de ganhar pelo menos três das últimas quatro partidas em 19 temporadas.

Naturalmente, cada campeonato tem uma história distinta e em muitas dessas campanhas tudo já estava decidido na última curva antes da reta da meta. Ou seja, as consequências para o Benfica foram nulas.

Mas há exceções, e exceções graves, em pelo menos três épocas: 1985/86, 1992/93 e 2012/13.

Nestas edições da Liga, o Benfica entrou sempre à frente do FC Porto e foi ultrapassado pelos dragões no photo-finish. É para os casos supracitados que vamos olhar com mais detalhe.

Nota importante: estes dados só são determinantes para a nossa análise se o FC Porto vencer os quatro jogos que lhe restam (Setúbal e Belenenses fora, Gil Vicente e Penafiel em casa).

BENFICA: MENOS DE TRÊS VITÓRIAS NAS ÚLTIMAS QUATRO JORNADAS

1985/86: 2 vitórias e 2 derrotas (2º lugar) *
1986/87: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (campeão)
1987/88: 1 vitória, 2 empates e 1 derrota (2º lugar)
1988/89: 2 vitórias e 2 empates (campeão)
1991/92: 1 vitória, 2 empates e 1 derrota (2º lugar)
1992/93: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (2º lugar) *
1993/94: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (campeão)
1996/97: 1 vitória e 3 derrotas (3º lugar)
1997/98: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (2º lugar)
1998/99: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (3º lugar)
2000/01: 2 empates e 2 derrotas (6º lugar)
2001/02: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (4º lugar)
2004/05: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (campeão)  
2005/06: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (3º lugar)
2007/08: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (4º lugar)
2008/09: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (3º lugar)
2010/11: 2 vitórias e 2 empates (2º lugar)
2012/13: 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota (2º lugar) *
2013/14: 2 vitórias, 1 empate  e 1 derrota (campeão)

* épocas em que o FC Porto ultrapassa o Benfica neste período

1985/86: Phil Walker (Boavista) assina a sentença encarnada   

O Benfica de John Mortimore entra para os quatro últimos jogos com 43 pontos. O FC Porto segue logo atrás, com 42. As águias cumprem a obrigação na receção à Académica (1-0 na Luz, autogolo de Rolão) e no Restelo (0-1, golo de Manniche, de penálti).

A seguir, hecatombe. O Sporting silencia o Estádio da Luz, pela primeira vez desde 1965/66, e vence por 1-3: Morato e Manuel Fernandes marcam para os leões no primeiro tempo, Manniche reduz aos 60 minutos. Nesta ronda, o FC Porto vence em Setúbal (Paulo Futre, aos 40 minutos) e iguala as equipas no comando: 47 pontos para águias e dragões à entrada da última ronda.

O desastre encarnado fica sentenciado no Bessa. O Boavista marca por Phil Walker e vence 1-0. O FC Porto faz a festa nas Antas, com um sobressaltado 4-2 sobre o Sp. Covilhã. A meia-hora do fim, os serranos ganhavam por 1-2.

Wando (jogador do Benfica entre 1984 e 1988) faz 90 minutos contra o Sporting e 27 no Bessa. Ao Maisfutebol recorda essas tardes negras.

«A nossa equipa era muito competitiva, mas a pressão nessa altura foi insuportável. Mesmo assim, depois da derrota contra o Sporting, pensávamos que seríamos campeões. O jogo no Bessa foi terrível, duríssimo. Era a ditadura do major Valentim e passar lá não era brincadeira. Que doideira! Entrámos mal, a pensar que o golo acontecia mais cedo ou mais tarde. Demo-nos mal. Nem me quero lembrar do que passámos no regresso a Lisboa!»

«O pior não era jogar na Luz contra o Sporting. O pior era nos jogos contra os clubes mais pequenos. Havia menos gente nas bancadas e ouvíamos as bocas todas, os palavrões. Confesso que às vezes eu tremia mesmo. O Benfica é enorme, não pode falhar, por isso tive medo ao ver o jogo contra o FC Porto. Comecei a lembrar-me desse ano de 1986»
.

«Na derrota do Bessa, depois do golo do Boavista começámos a tentar arrancar um penálti. Coisas normais. Sentíamos um toque e caíamos no chão. O pior é que jogámos tão mal que a bola nunca chegou lá à frente. Foi dos dias mais tristes que eu tive no Benfica».

A vitória do Sporting na Luz em 1986:



1992/93: Dino, um Furacão para as águias em Aveiro

Quatro semanas para o fim do campeonato e o Benfica a liderar: 47 pontos contra os 46 do FC Porto. A 16 de maio, no entanto, tudo muda. As águias treinadas por Toni não resistem ao Beira-Mar num Estádio Mário Duarte a rebentar pelas costuras.

O inesquecível Dino Furacão foge do meio para a esquerda e abate Silvino com um remate seco: rasteiro, saltitante e muito colocado. Pacheco e Yuran são expulsos na última meia-hora, o golo de Dino surge aos 86 minutos.

O FC Porto triunfa no Municipal de Chaves (1-2) e ultrapassa o Benfica, seguindo diretamente para o título com mais três vitórias: V. Guimarães, Beira-Mar (fora) e Marítimo.

O Benfica ainda volta a perder pontos (0-0 no Estoril na penúltima jornada), mas é o jogo de Aveiro que não sai da cabeça de Isaías (avançado do Benfica entre 1990 e 1995).

«Tenho muitas histórias para contar sobre o Benfica e esta não é boa. Eu não joguei nessa derrota em Aveiro, e o Futre também não. Estávamos lesionados, falámos os dois e vingámo-nos na final da Taça de Portugal, numa altura em que a equipa estava de rastos, arrasada emocionalmente. No campeonato voltei para jogar contra o Estoril e nada. Rematei, rematei e as bolas acabavam na bancada».

«O Benfica tinha muitos problemas de organização nessa altura, todos os dias havia escândalos nos jornais e cedemos à pressão. Mas o pior veio depois, com a entrada do Artur Jorge e do Manuel Damásio. Esse treinador não fez uma limpeza de balneário, esse treinador destruiu o clube por uma década»
.

O golo de Dino ao Benfica (5m30s):

 

2012/13: Kelvin, claro

Quando o Benfica vence o dérbi lisboeta diante do Sporting (2-0 na 26ª jornada), poucos se atrevem a sugerir que o título não vai acabar na Luz. O FC Porto segue a quatro pontos de distância.

Na 27ª ronda, a equipa de Jorge Jesus impõe-se nos Barreiros (1-2 ao Marítimo) e celebra no relvado como se não houvesse amanhã. Mas há, e revela-se negro.

O empate na receção ao Estoril (1-1) e a derrota no Dragão (Kelvin faz o 2-1 nos descontos) provocam um terramoto na classificação. O golo continua a ser falado um pouco por todo o lado, como confessa o próprio Kelvin em entrevista ao Maisfutebol.

Os dragões acabam a época com mais um ponto do que o Benfica.

O decisivo golo de Kelvin no Dragão: