O FC Porto perdeu pontos em quatro jogos nesta Liga. Dois deles foram a seguir a uma jornada de Liga dos Campeões, os outros imediatamente antes. O Sporting não venceu seis jogos de campeonato. Três foram antes de uma ronda europeia e um, o encontro de domingo passado com o Paços, logo a seguir. A tendência é menos clara no Benfica, que perdeu em Braga depois de jogar no Mónaco, numa das duas partidas que não ganhou na Liga.


Se recuarmos para épocas anteriores, os sinais apontam no mesmo sentido: o risco de perder pontos é maior para os grandes na proximidade de uma ronda de Liga dos Campeões, em altura de campeonato muito intenso, com jornadas europeias de 15 em 15 dias. Em 2013/14, o FC Porto deixou cinco dos nove pontos perdidos até à última ronda da fase de grupos em jornadas pós-Liga dos Campeões, mais quatro imediatamente antes de rondas europeias. O Benfica não perdeu pontos depois de noites europeias, mas quatro dos nove pontos que não ganhou até à 13ª jornada aconteceram antes de rondas da Champions.


Em 2012/13, dois dos quatro pontos perdidos pelo FC Porto na Liga até ao final da fase de grupos da Liga dos Campeões foram antes de uma jornada europeia. O Benfica, em igualdade com os dragões por essa altura, à 11ª jornada, também perdeu dois pontos numa ronda pós-Champions. Os 11pontos perdidos nesse período pelo Sp. Braga, a outra equipa portuguesa na prova nessa temporada, também foram em jornadas coladas a rondas europeias.


Apostas, gestão, calendário demasiado intenso neste período? Há várias formas de olhar para a questão. A começar por uma, de certo modo irónica. Na última jornada o FC Porto empatou na Amoreira ( 2-2), frente a um adversário também ele com o mesmo ritmo competitivo, também na Europa. E o Estoril, jogando na Liga Europa à quinta-feira, tem o calendário mais apertado.


É por aí que começa José Couceiro, o treinador do Estoril, em conversa com o Maisfutebol sobre este tema: «Nós temos um calendário pior do que eles. Não foi só agora, com o Belenenses também jogámos quinta-feira e domingo. Não é a primeira vez e vai voltar a acontecer», observa o técnico, notando que as equipas que estão na Liga dos Campeões têm sempre jogado com «pelo menos quatro dias de intervalo».


Para José Couceiro, esse intervalo de quatro dias é o tempo necessário para a recuperação, pelo que o treinador, com experiência também no FC Porto e Sporting, não considera a intensidade do calendário determinante para estes resultados.


«Se houver quatro dias de intervalo, não acho que se possa atribuir ao calendário», considera. «Eu no meu caso não dou isso como justificação. Agora, jogar com menos de 72 horas é evidente que tem consequências», continua, lembrando que isso já aconteceu ao Estoril.


«Não faço uma ligação direta. O FC Porto na Amoreira não foi por desgaste físico. Se havia uma equipa mais desgastada éramos nós», nota ainda. Frente ao FC Porto, o Estoril veio de um jogo em Moscovo ao final da tarde de quinta-feira e jogou no domingo à noite. José Couceiro diz que no final da partida a equipa acusou o cansaço: «Na parte final do jogo com o FC Porto não conseguimos manter a intensidade. Baixámos linhas.»


E depois, não é só uma questão de tempo de descanso. Há muitos fatores na equação, diz. «Algumas vezes a recuperação física faz-se de forma psicológica. Se o jogo começa bem, o cansaço desaparece. Se começa mal, ele acentua-se», nota, voltando ao jogo com o FC Porto: «Há um momento do jogo em que o resultado para nós é positivo. O jogo esteve empatado a maior parte do tempo, o FC Porto esteve a ganhar pouco tempo, sete minutos. Isso ajuda. Para nós era um resultado positivo, para o Porto era negativo. Essa condição psicológica também se está a jogar nesse momento.»


A questão do acumular de jogos nacionais e europeus envolve de resto necessariamente, prossegue Couceiro, planeamento. O que não quer dizer, voltando ao tema, que a proximidade de jogos comprometa de algum modo a gestão feita pelos treinadores, a pensarem em mais do que uma partida ao mesmo tempo. «Pensar no jogo seguinte não. Mas claro que fazemos planeamento. Evidentemente, há um planeamento em função do calendário», diz, dando o exemplo do Estoril: «Entre o jogo de Moscovo e o jogo com o FC Porto, nós fizemos dois treinos à tarde. Chegámos na sexta-feira de madrugada, nesse dia treinámos à tarde, era preferível, para que os jogadores ficassem a descansar. Depois optei por treinar no sábado à tarde. Alterámos a prática comum. Claro que isso depois envolve outras questões, como a alimentação.»


O planeamento inclui não só a questão prática e física, mas também a gestão do plantel. «Neste caso preparámo-nos para que entre o jogo do Dínamo e o de domingo pudéssemos ter que fazer várias alterações. Mas depois, em relação ao onze inicial, só mudei um jogador, porque cheguei à conclusão de que a equipa estava bem e recuperada.. Claro que a mudança estratégica foi significativa, não jogámos com um ponta de lança.»


Voltando à associação entre resultados e jornadas europeias, Couceiro evita entrar na análise concreta aos outros clubes, mas deixa algumas notas, para questionar essa associação entre resultados e jornadas europeias. Como esta, a de que, se tem perdido pontos na frente interna, o FC Porto tem estado bem melhor na Liga dos Campeões que o Benfica, ao ponto de já ter garantido o apuramento para os oitavos de final: «Não vou analisar casos específicos. Mas o o Benfica, em contraponto com o FC Porto, não tem tido a mesma prestação europeia e tem ganho internamente.»


Ou esta evidência: «Claro que os clubes mais bem apetrechados têm outro tipo de soluções. Depois há quem opte por maior rotatividade ou não.» Entre os clubes «menos apetrechados», Estoril e Rio Ave, as duas equipas portuguesas na Liga Europa, têm tido comportamentos semelhantes: os resultados não aparecem, mas as exibições não podem ser consideradas negativas. «O Rio Ave em termos de prestações desportivas tem tido boas prestações, melhores que os resultados. Um bocado como acontece connosco», observa Couceiro.

Rotatividade e as condicionantes de cada jogo


A questão da rotatividade tem dado muito que falar no caso do FC Porto. José Couceiro evita entrar nesse debate, mas também diz que há muitas formas de olhar para o assunto. Um exemplo: «Nós jogámos contra o Benfica num sábado. Perdemos 3-2, num jogo com muito desgaste físico. No jogo de quinta-feira seguinte, o onze inicial tinha sete jogadores novos. Ninguém falou nisso. Mas ganhámos ao Panathinaikos. Se tivéssemos perdido, se calhar teriam dito que eram jogadores novos a mais.»


«A rotatividade, por vezes, também é feita no sentido de ter todo o plantel motivado», acrescenta.


Voltando à questão dos resultados e da proximidade de compromissos europeus, José Couceiro diz que não vê uma tendência. Há um sem número de contingências associado a cada jogo, defende: «Há uma série de condicionantes, não se pode analisar só essa. Veja-se o FC Porto. Perdeu pontos com o Boavista a seguir a golear o BATE Borisov. Foi num jogo em que teve uma expulsão aos 20 minutos, num relvado cheio de água.»


«Ou o caso do Sporting», prossegue, a propósito do empate de domingo frente ao Paços Ferreira: «Vi um bocado do jogo, antes do nosso. O relvado não estava na condição ideal. Quer para o Paços quer para o Sporting. Isso cria dificuldades acrescidas à equipa que tem mais pressão para ganhar. Não quer dizer que o Paços não quisesse ganhar, mas os grandes têm sempre mais pressão.»


É, de resto, nesse potencial de incerteza que assenta «um dos pontos mais interessantes do futebol», conclui Couceiro, a analisar, dois dias depois, as chaves para o resultado do Estoril frente ao FC Porto, num jogo em que teve Tozé «a jogar como falso 9»: «O Estoril foi uma equipa muito solidária, sob o princípio de que teríamos que tentar sempre anular os corredores do FC Porto. Eles têm dois alas de topo e dois laterais de topo. Sabíamos que teríamos de ser muito solidários a fazer as basculações. O FC Porto tem grande capacidade em criar desequilíbrios e capacidade de alimentar um ponta de lança de grande categoria.»