FC Porto-Benfica a 10 jornadas do fim do campeonato, um ponto a separá-los. Não há maior que isto, sábado teremos um daqueles Clássicos definidores. Não ficará entregue o título, claro. Mas o duelo pode relançar o FC Porto para o bicampeonato, prolongar o equilíbrio de forças ou deixar o Benfica a correr na frente. Estão frente a frente as duas melhores equipas da Liga, os melhores ataques e as melhores defesas, duas equipas diferentes nos caminhos mas também com pontos em comum. Como veremos neste olhar para os números dos dois clubes no campeonato, com base nos dados recolhidos pelo SofaScore para o Maisfutebol a partir das estatísticas da Opta, à procura de tendências para ler o Clássico. 

De um lado um FC Porto consolidado num estilo que chegou na época passada com Sérgio Conceição e que tem sabido readaptar-se, mesmo com baixas e quebras, de novo a dar a volta por cima depois de um abaixamento que o Benfica aproveitou para se aproximar. Chega ao Clássico com três vitórias seguidas na Liga, três jogos sem sofrer golos. Do outro um Benfica renascido desde a chegada de Bruno Lage, com novas ideias e novos rostos, entre jogadores que encontraram espaço e jovens a crescer na equipa principal.  Ganha para a Liga há oito jogos seguidos e também não sofre golos há três. Tiveram dois duelos diretos esta época. O Benfica ganhou na primeira volta da Liga, 1-0 na Luz, o FC Porto venceu a meia-final da Taça da Liga por 3-1, naquela que é até agora a única derrota de Bruno Lage.

O Benfica tem de longe o melhor ataque, com um impressionante total de 64 golos marcados, fruto de uma série de goleadas – dos 6-2 ao Sp. Braga aos 10-0 ao Nacional, quatro ou mais golos marcados em oito jogos. Média de 2.78 por jogo, contra 1.95 do FC Porto, que tem 47 marcados. O Dragão tem a melhor defesa, apenas 12 golos sofridos em 23 jogos, e manteve a baliza fechada em mais de metade dos encontros da temporada, 14.

Benfica com mais bola a circular

São caminhos diferentes. Nesta análise, começamos por ver que o Benfica tem mais a bola em campo, maior percentagem de posse, ainda que a diferença não seja substancial. Nenhuma das equipas tem no controlo permanente da bola a sua identidade. Embora o Benfica de Bruno Lage queira caminhar para aí, como já revelou o seu treinador, embora admitindo que para isso precisa de trabalhar mais o equilíbrio entre o momento ofensivo e defensivo.

Os dados retratam ainda assim um Benfica com um futebol que explora mais o passe e circulação, com maior acerto e maior precisão do que o FC Porto. E também com maior capacidade de circular a bola no meio-campo adversário e no último terço do terreno.

O FC Porto, com um estilo de jogo mais direto, mais rápido, aposta marginalmente mais em passes longos, com precisão ligeiramente melhor. Estes números são a síntese da época, um quadro macro para uma abordagem que tem obviamente muitas variáveis e não é estanque. As nuances são evidentes no Benfica, com a mudança de treinador, mas também o FC Porto tem momentos diferentes ao longo da época, em função dos jogos e do perfil dos jogadores em campo. Óliver, que passou a ser opção regular, traz por exemplo outra capacidade de posse e circulação de bola ao FC Porto.

Bolas paradas, trunfo do FC Porto que o Benfica descobriu tarde

O jogo de FC Porto e Benfica traduz-se num volume ofensivo semelhante, como se percebe pelo número de ataques desenvolvidos por cada equipa. O Benfica cria e também converte mais grandes oportunidades, enquanto ambos falham número exatamente igual de lances de golo.

Dado curioso o dos golos marcados de bola parada. Tem mais o FC Porto em absoluto, 13 contra 10. E tem bem mais se olharmos para a percentagem de golos. Quase um terço dos tentos apontados pelos dragões na Liga resultam de livres, cantos, lançamentos ou penálti. Sendo que há apenas um golo de grande penalidade.

O Benfica tem 10 golos de bola parada, quase um sexto do total, portanto percentualmente menos de metade do FC Porto. E melhorou muito nesse capítulo com Bruno Lage. Esse trabalho é uma das marcas da equipa com o novo treinador. O Benfica fez todo o primeiro terço da Liga sem marcar um único golo de bola parada e foi depois da saída de Rui Vitória e da entrada de Bruno Lage que começou a ver-se um trabalho a esse nível que deu frutos. Ainda assim, por força do défice original, muito abaixo do rival nas contas totais.

Os mesmos remates dão mais golos do Benfica

Se não se encontram grandes diferenças no volume ofensivo e na capacidade de remate de ambos, salta à vista a maior eficácia do Benfica.

Com o mesmo número de remates por jogo para ambos, as águias marcam mais golos. O quadro seguinte ajuda a explicar: mais remates enquadrados com a baliza, menos remates para fora. O Benfica também tenta mais a sorte de fora da área.

FC Porto, a solidez lá atrás e o registo disciplinar mais limpo

Olhando agora para a defesa, o registo absoluto do FC Porto é claramente melhor, com menos oito golos sofridos que o Benfica. Todos os golos sofridos pelo FC Porto resultaram de lances dentro da grande área, sem deixar que os adversários encontrem condições para remates bem sucedidos de longe. O Benfica, por outro lado, sofreu quatro de fora da área. Ambos sofreram apenas dois golos de bola parada até agora.

Quanto aos momentos em que sofrem os golos, a tendência do FC Porto é para ser mais batido no quarto de hora final de jogo: sofreu cinco dos 12 golos na Liga nesse período. O Benfica sofre mais no final da segunda parte (seis), e também no quarto de hora final (4).

Na luta pela bola, o FC Porto é mais eficaz nos duelos e nas interceções, embora perca mais vezes a bola, enquanto o Benfica tem registo ligeiramente melhor nos desarmes do adversário.

O FC Porto comete menos faltas por jogo, ainda que a diferença não seja relevante, mas o Benfica viu mais cartões e teve seis expulsões, contra zero do FC Porto. Os encarnados são a equipa da Liga com mais cartões vermelhos, a par do Tondela, enquanto os dragões têm a companhia de Nacional e Feirense como as únicas que ainda não tiveram jogadores expulsos.

Marega e Jonas, que diferença fazem as referências?

Para o Clássico de sábado o FC Porto tem à partida um ambiente mais desanuviado em termos de lesões, com Brahimi e Danilo de novo disponíveis e Marega igualmente recuperado, à partida. O maliano tem sido uma das referências do ataque o Maisfutebol foi também por aí para mais um olhar pelo Clássico. Qual a diferença no jogo ofensivo do jogo portista com e sem Marega?

O avançado falhou até agora cinco jogos na Liga e a principal diferença à luz dos números é que sem ele a equipa troca menos a bola no meio-campo adversário e no último terço, ainda que o contraste não seja grande.

Na mesma linha de raciocínio, olhámos para uma referência do outro lado que, por motivos diferentes, foi perdendo espaço esta época. O sucesso da dupla Seferovic-João Félix complica ainda mais as perspetivas do veterano avançado, mas ele está aí e, diz o seu treinador, como «um jovem» cheio de vontade. Mas os números também não definem uma tendência clara. Olhando para os dados do Benfica com e sem Jonas, a ausência do avançado só parece notar-se mais nos passes no último terço do terreno, embora sem ele a equipa crie mais oportunidades claras de golo.

(Artigo originalmente publicado às 23:51 de 28-02-2019)