Foi um mercado de janeiro de contenção em Portugal e não particularmente agitado no futebol europeu, mas ainda assim manteve tendências: um jogador do campeonato nacional no topo dos mais caros do mundo e por arrastamento um clube português entre os que mais ganharam, os «grandes»a a emprestarem jogadores, a Premier League a gastar mais do que qualquer outra grande Liga europeia e a China como grande mercado alternativo, embora com sinais de abrandamento.

O Benfica, que de acordo com os valores estimados de transferências deste período (a maior parte das verbas de transferências, recorde-se, não são formalmente divulgadas) foi o terceiro clube em absoluto que mais lucrou em janeiro, foi também aquele que mais jogadores contratou entre os «grandes» portugueses neste mercado de janeiro. Três reforços, o último dos quais o médio Filipe Augusto, contratado ao Rio Ave. Antes dele, dois laterais: o jovem português Pedro Pereira, contratado à Sampdoria, e o brasileiro Hermes, que chegou a custo zero.

O FC Porto contratou apenas Soares ao V. Guimarães, além de ter reintegrado Kelvin, regressado de empréstimo ao São Paulo. E o Sporting não foi buscar nenhum jogador de novo, tendo em alternativa feito regressar cinco jovens que estavam cedidos: Palhinha (Belenenses), Podence e Francisco Geraldes (Moreirense), André Geraldes e Ryan Gauld (V. Setúbal).

Os «leões» já tinham assumido que a ordem em janeiro era emagrecer o plantel, depois de uma primeira metade de temporada aquém das expectativas, em que a equipa foi eliminada de todas as frentes de competição que não a Liga. Para já sairam quatro jogadores que foram reforços de verão (Elias, Markovic, Meli e Petrovic) e pelo menos André ainda deve sair em breve para o Brasil, com mercado ainda aberto. João Pereira foi o outro jogador que deixou Alvalade, rumo ao Trabzonspor.

No FC Porto também houve mais saídas do que entradas neste mercado: Adrian Lopez, Evandro, Varela e Sérgio Oliveira. Tal como no Benfica, onde partiram Gonçalo Guedes, Celis, Danilo, Taarabt e Alan Benitez.

Benfica em terceiro nos lucros

Mas foi suficiente para as águias aparecerem entre os clubes que mais lucraram em janeiro, graças aos 30 milhões da transferência de Guedes para o PSG e ainda aos 15 milhões da negociação em definitivo de Hélder Costa para o Wolverhampton, segundo os valores comunicados pelo clube.

O Benfica fica assim atrás apenas do Chelsea, com os 60 milhões noticiados pela transferência de Oscar para o Shanghai SIPG de André Villas-Boas, e do Wolfsburgo, com os negócios de Draxler para o PSG (40 milhões), Bruno Henrique para o Santos (4 milhões) e Caligiuri para o Schalke (2 milhões).

A «quota» portuguesa mantém-se, portanto. No ano passado tinha sido o FC Porto a entrar no top de clubes que mais lucraram em janeiro, muito graças à transferência de Gianni Imbula. E na época anterior tinha sido outra vez o Benfica, com Matic. Os «encarnados» são quem mais tem contribuído para essa tendência de uma venda relevante em janeiro (veja aqui).

Braga, Chaves, Restelo, muitas mudanças

Fora dos grandes, houve clubes que mexeram muito nesta janela. A começar pelo Sp. Braga, que foi buscar quatro reforços, três dos quais ao D. Chaves, onde o novo treinador, Jorge Simão, trabalhou na primeira metade da época. Além de Battaglia, Paulinho e Assis, o Sp. Braga contratou ainda a fechar a janela o médio Fede Cartabia, ex-Valencia e cedido pelo D. Corunha. Mas foram muitas mais as saídas do clube minhoto: Ringstad (Stromsgodset), Chidi (Dynamo Brest), Oti (Esbjerg), Luis Aguiar (Alianza Lima), Douglas Coutinho (Atlético Paranaense), Xeka (Lille), Pedro Tiba (Desp. Chaves), Crislan (Vejalta Sendai) e Bakic (Alcorcón).

No V. Guimarães também foram quatro as entradas: Rafael Martins, Sturgeon e dois jogadores cedidos pelos «grandes»: Celis, que chega do Benfica, e Sérgio Ribeiro, do FC Porto. Pedro Martins deixou de contar em contrapartida com Soares, que rumou ao FC Porto, e João Pedro, que saiu para o LA Galaxy, uma das transferências mais interessantes deste mercado.

Em termos quantitativos foi o Belenenses quem mais mexeu na Liga, um total de oito entradas: Cristiano Figueiredo, Juanto, Edgar Ié, Fábio Nunes, Filipe Mendes, Maurides, Persson e Diogo Viana. Houve ainda sete saídas no Restelo: além de João Palhinha, Gerso, Luís Silva, Sturgeon, Gonçalo Brandão, Palmeira e Joel Pereira, que estava cedido pelo Manchester United e foi chamado por José Mourinho.

Logo a seguir vem o D. Chaves. Depois de ter perdido três jogadores importantes para o Sp, Braga, o clube esteve muito ativo no mercado. Chegaram sete reforços: Davidson, Rafael Batatinha, José Xavier, Renan Bressan, Nuno André Coelho, Pedro Tiba, Rodrigo e Vítor Massaia.

Quanto a nomes, destaque para o regresso à Liga de algumas caras conhecidas: como Nuno André Coelho, mas também Licá, que regressou para o Estoril, ou o ex-benfiquista Keirrison, para o Arouca.

Empréstimos, apesar dos regressos a Alvalade

O movimento de empréstimos dos «grandes» a clubes da Liga é outra das tendências que se mantém. O Benfica cedeu mais cinco jogadores. Além de Celis, Gilson Costa (Arouca), Pelé (Feirense), Pedro Nuno (Tondela) e João Carvalho (V. Setúbal). Além disso, Luis Felipe deixou o clube da Luz em definitivo para rumar igualmente a Setúbal.

No FC Porto foram quatro os novos empréstimos na Liga: Gonçalo Paciência (Rio Ave), Rodrigo (Chaves), Sérgio Ribeiro (V. Guimarães) e Bolat (Arouca). E o Sporting, depois de ter feito regressar os cinco emprestados, cedeu Ary Papel ao Moreirense, que perdeu neste processo Podence e Geraldes. E também chega em definitivo ao clube de Augusto Inácio o agora ex-leão Wallyson.

Inglaterra a liderar, o peso da China e a França no pódio

No mercado internacional, a Inglaterra volta a liderar os gastos por campeonatos, mas desta vez o clube que mais gastou individualmente mora em França: foi o PSG, essencialmente com Gonçalo Guedes e Draxler, mas também Lo Celso.

Um estudo da consultora Deloitte estima que os gastos da Premier League tenham sido de 250 milhões de euros. Mas desta vez também ganhou, o mesmo estudo nota que o primeiro campeonato inglês teve saldo positivo no vai-vém de transferências de inverno pela primeira vez na história. Além de Oscar, contribuíram muito para estas contas as vendas do Manchester United, Schneiderlin e Depay, um total estimado de 39 milhões de euros. Em Inglaterra, os clubes do fundo da tabela são responsáveis por metade dos gastos. Entre eles o Hull City de Marco Silva, que despendeu um valor estimado de 17,8 milhões de euros em oito reforços, incluindo dois em Portugal: Evandro chegou do FC Porto e Markovic do Sporting, ainda que por empréstimo do Liverpool.

Depois de Inglaterra surge a China na lista dos mais gastadores, com 174 milhões. Quatro das maiores dez transferências deste período foram para o futebol chinês: além de Oscar, as de Odion Ighalo, do Watford para o Changchun Yatai (23 milhões estimados), de Axel Witsel, do Zenit para o Tianjin Quanjian (20) e de Alexandre Pato, do Villarreal para o Tianjin Quanjian (18). Mas os sinais que chegam da China são também de abrandamento, com receios de uma bolha sem sustentação e a intenção de introduzir limitações de gastos e de estrangeiros.

A França ocupa neste inverno de 2017 o segundo lugar entre as grandes Ligas, não apenas à boleia do PSG, mas também do Marselha, por exemplo, que gastou 29 milhões de euros na contratação de Payet. Ainda de acordo com os dados da Deloitte, o futebol francês gastou 151 milhões de euros neste período.

Segue-se a Alemanha, com 99 milhões, depois a Itália, com 93. Na cauda do pelotão das «Big 5» a Espanha, onde nenhum dos três maiores clubes contratou: Real Madrid e At. Madrid estão impedidos pela FIFA, o Barcelona não foi ao mercado. Assim, a Liga espanhola ficou-se por gastos de 23 milhões de euros.

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