Este domingo chegou ao fim o Open da Austrália, que consagrou aquele que era apontado como o principal favorito. Novak Djokovic. Aliás, na grande final percebeu-se o porquê do sérvio ser o número um mundial, o grande candidato à vitória e o porquê de estar a dominar a modalidade desde julho de 2018.

Realizou uma final a roçar a perfeição.

Derrotou Rafa Nadal sem qualquer dificuldade, enviando um sinal claro de que 2019 pode ser mais um ano de domínio, e demonstrou pelo caminho uma superioridade total frente àquele que é historicamente um dos grandes rivais.

Foi um daqueles poucos dias em que Nadal parecia ser um jogador sem soluções, o que é absolutamente lapidar da categoria do tenista sérvio.

Para se perceber, desde julho de 2018 Djokovic venceu Wimbledon, US Open e agora o Australian Open, ou seja, conquistou os últimos três Grand Slams da modalidade.

No total já são 15.

Já é o terceiro tenista da história com mais Majors alcançados (está a dois de Nadal e a cinco de Roger Federer) e o maior campeão de sempre em Melbourne com sete títulos: mais um que Roger Federer e Roy Emerson. Começa, por isso, a faltar palavras para descrever aquilo que o tenista de 31 anos tem feito.

Depois de ter sido o principal protagonista de 2011 a 2016, depois de ter tido um apagão em 2017, depois de ter sido operado ao cotovelo há praticamente um ano, quem diria que Djokovic estaria nesta forma?

Marian Vajda, treinador de Nole, tem um grande mérito em todo este domínio e a grande questão que se levanta logo no primeiro mês do ano é simples: quem é que vai ser capaz de derrubar o melhor jogador da atualidade?

Mas vamos tentar perceber o que se passou em Melbourne nas últimas duas semanas.

Um dos grandes destaques é, inevitavelmente, João Sousa.

O número um nacional chegou à terceira ronda em singulares, tendo perdido para Kei Nishikori: o que por si só já seria um motivo de orgulho. O grande feito, porém, esteve nos pares. Sousa atingiu as meias-finais com Leonardo Mayer e alcançou o melhor resultado da história do ténis português em torneios do Grand Slam (singulares ou pares).

Mas melhor ainda que os resultados, foram as exibições. O vimaranense mostrou que a pré-temporada foi útil: o seu serviço esteve melhor que nunca, revelou muita confiança e uma grande intensidade no seu jogo de fundo do court, em especial, com a pancada de direita. Trabalhou muito mas tirou frutos de todos os segundos passados em court.

Dois anos depois, está de regresso ao top 40 do ranking ATP de singulares e entretanto estrou-se também no top 40 na variante de pares. Vai ser muito interessante de acompanhar os resultados nos próximos torneios.

Quem desiludiu, especialmente depois da prestação na Hopman Cup, foi Roger Federer. Venceu as últimas duas edições do Open da Austrália, estava a jogar muito bem, mas caiu nos oitavos de final frente a Stefanos Tsitsipas (vai estar no Millennium Estoril Open).

Perder com um dos jovens mais promissores do circuito não é motivo de vergonha mas aquilo que mais chamou a atenção foi a falta de capacidade em dar a volta à adversidade. Dispôs de 12 pontos de break e... não converteu nenhum.

Foi, desde logo, o seu pior encontro da carreira na taxa de aproveitamento de pontos de break. Teve set points para ficar a vencer por 2-0 em sets mas não conseguiu aproveitar.

Vamos ser francos: Federer tem 37 anos. Já conquistou tudo o que havia para conquistar, mas é cada vez mais normal não ter a capacidade física para derrotar os melhores, ainda para mais em encontros à melhor de cinco sets.

O seu jogo assenta em tentar terminar os pontos muito cedo, o que exige que o serviço e a pancada de direita estejam mais do que afinadas. E isso, no encontro com Tsitsipas, ura e simplesmente não aconteceu.

Não é que Federer já não tenha a capacidade de vencer Grand Slams: bem pelo contrário. Mas serão necessários vários fatores para que isso seja possível.

Uma coisa é certa, porém: quem disser que o suíço já passou à história... arrisca-se a desmentido pelos factos. É que ele já o provou várias vezes ao longo dos últimos anos.

Por falar em Tsitsipas, o que dizer do talento deste jovem de 20 anos? Aliás, a NextGen foi um dos grandes destaques deste Open da Austrália, com o grego e Frances Tiafoe a atingirem as meias-finais e os quartos de final, respetivamente.

Uma curiosidade. Os dois perderam de forma clara para Rafa Nadal, mas uma coisa é certa: o ténis está bem entregue para o futuro. Mesmo sabendo que ainda têm muito para evoluir, é nestes palcos, frente aos melhores da história, que se evolui e que se prepara o terreno para um dia os grandes títulos serem uma realidade.

Ainda em relação à NextGen, quem tem tido alguma dificuldade nestes torneios é Alexander Zverev. O número quatro mundial voltou a desiludir. Foi arrasado por Milos Raonic nos oitavos de final e ainda não foi desta que realizou um bom torneio do Grand Slam (o seu melhor resultado da carreira nestas provas são os quartos de final).

Parece ser uma questão de tempo até Sascha conquistar um Major, mas a sua (não) capacidade de atingir o melhor ténis nestas provas é algo muito estranho. Tem 21 anos? Certo. Tem muito para evoluir? Certo. Mas também é um jogador que já conquistou três Masters 1000 e uma ATP Finals, ou seja, o talento está lá e já foi colocado em prática frente aos melhores nos grandes torneios.

Falta o desbloqueio mental em Grand Slams e isso só vai acontecer no dia em que deixar de colocar sobre si tanta pressão. Aquele jogo com Raonic foi do pior que já se viu de um dos jovens mais promissores dos últimos anos e que ocupa o top 5 do ranking mundial.

Uma palavra também para Rafa Nadal.

Esteve sem competir desde o US Open e no início do ano mostrou ainda estar bem longe de índices competitivos elevados. Desistiu de Brisbane no início de 2019, mas já sabemos que El Toro não se vai abaixo facilmente.

Mudou o gesto de serviço para se resguardar fisicamente, trabalhou no duro e apresentou-se em Melbourne com um nível de jogo assinalável. Não cedeu um único set até chegar à final mas pela frente teve um jogador que demonstra estar noutro patamar.

Quem surpreendeu – e de que maneira – foram Milos Raonic e Lucas Pouille. O canadiano atingiu os quartos de final e foi o jogador que teve, provavelmente, o quadro mais complicado em toda a competição: eliminou Nick Kyrgios, Stan Wawrinka, Pierre Herbert e Alexander Zverev.

Caiu perante Lucas Pouille apenas, sendo que o francês mostrou finalmente todo o seu talento numa grande competição.

Ele que surpreendeu na pré-temporada ao anunciar Amelie Mauresmo e ele também que somou quatro derrotas em quatro jogos no início de 2019. Soube, no entanto, ter a capacidade de superar o mau momento e pode ter conseguido, pelo caminho, ganhar uma confiança determinante para um ano bem melhor que o de 2018.

Uma última referência também para aquele jogador que deu, muito provavelmente, mais espetáculo em toda a competição. De quem se fala? Kei Nishikori.

O japonês desistiu nos quartos de final contra Novak Djokovic, muito por culpa das mais de 15 horas em court. Protagonizou dois embates épicos e que mostraram toda a sua capacidade de superação e de nunca baixar os braços: na segunda ronda derrotou o gigante Ivo Karlovic no match tie break do quinto set e nos oitavos de final venceu Pablo Carreno Busta, também no match tie-break do quinto set, num jogo que ficou marcado pela enorme polémica entre o espanhol e o árbitro de cadeira.

Destaques negativos:

Marin Cilic – Defendia o estatuto de finalista de 2018, mas foi eliminado por Roberto Bautista Agut nos oitavos de final. O croata ainda está bem longe da sua melhor forma.

Dominic Thiem – Ainda não foi desta que chegou longe num Grand Slam, com exceção de Roland Garros. Desistiu na segunda ronda da competição devido a doença e afirmou estar com dores por todo corpo...

John Isner – Foi o primeiro tenista do top 10 eliminado. Caiu com estrondo na primeira ronda frente ao compatriota Reilly Opelka, naquele que foi o jogo mais alto da história em torneios do Grand Slam (Isner tem 2,08m, Opelka 2,13m).

Nick Kyrgios – Muito talento, pouca disciplina. Chegou ao Open da Austrália sem ser cabeça de série, mas nunca se mostrou muito preocupado com isso. Defrontou Milos Raonic na primeira ronda e foi eliminado de forma clara. Vai sair do top 60 do ranking mundial e, apesar de ter contratado dois psicólogos na pré-temporada, a verdade é que ainda não demonstra maturidade competitiva. Há por isso uma grande curiosidade para perceber se vai ser capaz de impor (de uma vez por todas) o seu talento em campo.

Hyeon Chung – O vencedor das NextGen ATP Finals de 2017 ainda não encontrou aquele nível do início de 2018. No ano passado atingiu as meias-finais da prova, mas desde meio da temporada passada que tem sido atingido por problemas físicos e desde então nunca mais produziu aquele ténis que muitos consideravam ser idêntico ao de Novak Djokovic. Saiu do top 50...

Kyle Edmund – Também foi semifinalista em 2018 e também tem sofrido alguns problemas físicos. Mostrou que ainda está bem longe da sua melhor forma e abandonou o top 20 do ranking mundial.

Uma última palavra para Andy Murray. Antes do começo do torneio, o escocês surpreendeu tudo e todos ao anunciar que 2019 vai ser o seu último ano a competir devido a uma lesão na anca que teima em não dar tréguas.

Foi eliminado na primeira ronda frente a Bautista Agut, numa longa batalha de quatro horas, mas caiu de pé e honrou aquilo que foi toda a sua carreira: uma luta estoica por cada ponto, que o obrigava a deixar todos os pingos de suor no court.

A sua retirada vai ser uma perda grande para o ténis, mas todos compreendemos que primeiro está a saúde e bem-estar. Obrigado por tudo, Andy.

Feitas as contas, foram duas semanas de muita emoção e de poucas (bem poucas) horas de sono. No final fica o triunfo de Djokovic mas acima de tudo fica a garantia de que 2019 vai ser um ano recheado de muito bom ténis, incógnitas, certezas e espetáculo.

(Artigo originalmente publicado às 23:52 de 28-01-2019)