O alargamento do Campeonato da Europa a 24 equipas trouxe «clientes» menos habituais das fases finais e com isso, necessariamente, diminuiu, também, a exigência aos finalistas, uma vez que os dois primeiros classificados de cada grupo de apuramento (e alguns terceiros) tiveram espaço na fase final, quando, antes, era necessário vencer o grupo para garantir, de certeza, uma vaga.

Ora, neste cenário, com a existência de mais equipas e mais dois grupos, seria mais difícil um sorteio que colocasse frente a frente, logo a abrir, equipas com aspirações a chegar longe. A verdade é que, neste Euro 2016, embora com diferenças assinaláveis para outras edições, há um grupo forte.

Não será, necessariamente, um «grupo da morte», alcunha que se atribuiu a estes caprichos do sorteio, mas é competitivo. Falamos do grupo E, que juntou Bélgica, Itália, Suécia e República da Irlanda.

EURO 2016: o calendário completo da fase final

Dos quatro, apenas a Itália é crónica candidata ao título, mas a Bélgica é líder do ranking da FIFA e uma das equipas mais interessantes do panorama atual (era dos belgas o estatuto de cabeça de série e não dos italianos), a Suécia é sempre uma seleção a ter em conta, até por ter um homem chamado Ibrahimovic, e a República da Irlanda era, a par da Turquia, a equipa de maior tradição do pote 4.

Desde 1996, quando o Europeu teve, pela primeira vez, 16 equipas, que se começou a detetar os «grupos da morte». Nem sempre consensuais pois se, umas vezes, é fácil usar o argumento do título (no Euro 2000 houve quatro campeões da Europa no mesmo grupo), outros têm a ver com critérios mais interpretativos, como potencial e momentos de forma.

Recorde, contudo, os «grupos da morte» de cada Europeu desde o de 1996 e o que aconteceu aos seus protagonistas.

EURO 96: França, Espanha, Bulgária e Roménia

O primeiro Europeu com 16 equipas teve, claramente, dois grupos mais competitivos que os demais. Por um lado, no grupo C juntaram-se quatro campeões da Europa: Alemanha, Itália, República Checa e Rússia. Mas a Rússia não tinha, na altura, os pergaminhos de outros tempos e os checos, que chegariam à final, foram uma enorme surpresa na prova, fazendo cair Itália (no grupo), Portugal, França e só perdendo no golo de ouro com a Alemanha, na final. Ou seja, foi desse grupo que saíram os dois finalistas.

Porquê, então, destacar o grupo B? França e Espanha não precisam de argumentos. Dois campeões da Europa (os franceses a dois anos de conquistarem o Mundial). Seguiram os dois em frente.

O que tornava este grupo tão interessante era a performance, ainda fresca na memória, de búlgaros e romenos no Mundial dos EUA. A Roménia caiu nos quartos de final, a Bulgária terminou em quarto lugar, a sua melhor classificação de sempre.

Por isso, antes de a bola rolar, ninguém tinha dúvidas que era o B o grupo mais equilibrado. Mas a Roménia esteve muito longe do que mostrara dois anos antes e terminou o grupo com três derrotas. A Bulgária empatou com a Espanha a abrir, venceu a Roménia mas caiu por 3-1 frente aos franceses no jogo decisivo. Curiosidade: os três golos búlgaros no Europeu tiveram o mesmo autor. Um tal de Hristo Stoichkov.



EURO 2000: França, Holanda, República Checa e Dinamarca

Outro torneio com dois grupos claramente acima dos demais. O citado é o grupo D, que juntou quatro ex-campeões da Europa e mostrou alguns dos melhores espetáculos dessa fase, com destaque para o Holanda-França, que os da casa venceram por 3-2.

Holandeses e franceses seguiram em frente, de resto. A Holanda caiu nas meias-finais, nos penáltis com a Itália, que depois seria derrotada pela França no prolongamento, na segunda final seguida decidida por golo de ouro.
A Dinamarca foi a desilusão do grupo: três derrotas e nem um golo marcado, numa fase de evidente renovação da seleção mas ainda com o histórico Peter Schmeichel na baliza.

O outro grupo de alto calibre foi o grupo A. Alemanha e Inglaterra partiam como favoritas, mas acabaram por ser as equipas eliminadas. Portugal (fase de grupos perfeita com três vitórias) e Roménia seguiram em frente.



EURO 2004: Alemanha, Holanda, República Checa e Letónia

Um elemento a mais, é certo, mas foi o grupo que melhores espetáculos deu na fase inicial do torneio português. Este grupo D seria ainda mais duro com outra equipa que não a Letónia, mas a verdade é que conseguiram uma das surpresas da competição ao empatarem com a Alemanha, vice-campeã do mundo na altura.

A República Checa ganhou os três jogos do grupo e só caiu nas meias finais com a Grécia. A Holanda também seguiu em frente e foi até à mesma fase da competição, sendo eliminada por Portugal.

Entre os jogos do grupo, difícil é escolher o melhor. Sobretudo pela ação da República Checa, claramente a equipa que mais espetáculo deu no Europeu: começou a perder todos os jogos e venceu todos, incluindo uma reviravolta de 2-0 para 2-3 frente à Holanda.



EURO 2008: Itália, Holanda, França e Roménia

Em 2008 não houve dúvidas. O grupo mais forte era o C, que acabou por ser o da desilusão da França que não venceu qualquer jogo e só marcou um golo. Um prenúncio do que seria a participação da equipa de Raymond Domenech no Mundial da África do Sul.

Convém sublinhar que os dois finalistas do Mundial que se jogou dois anos antes estavam neste grupo, além dos sempre perigosos holandeses que, de resto, ganharam os três jogos, despachando os campeões do mundo por 3-0 e os vice-campeões por 4-1.

A Roménia, longe do estatuto de outros anos, era o parente pobre do grupo, mas ainda empatou com França e Itália, chegando ao jogo decisivo, com a Holanda, com esperanças de apuramento. A laranja mecânica foi forte de mais.

Holanda e Itália seguiram em frente mas não foram longe. Caíram ambos nos quartos de final frente a Rússia e Espanha, respetivamente.



EURO 2012: Alemanha, Holanda, Dinamarca e Portugal

No último Europeu, o grupo mais forte incluiu quatro finalistas de anteriores edições, entre eles Portugal, vice-campeão em 2004. E a seleção nacional deu-se bem, apurando-se em segundo lugar, atrás da Alemanha, depois de ter perdido o primeiro duelo, precisamente com os germânicos.

A Holanda acabou por ser a grande desilusão, perdendo todos os jogos. Se com Alemanha e Portugal se esperariam duelos equilibrados onde a vitória poderia pender para qualquer lado, a derrota inaugural com a Dinamarca surpreendeu tudo e todos e deu aos nórdicos hipóteses de sonhar com uma chegada à fase seguinte, que acabou por não se concretizar.

O duelo mais emocionante foi o Dinamarca-Portugal, em que os portugueses permitiram uma igualdade a dois depois de estarem a vencer 2-0 mas ainda foram a tempo de ganhar o jogo, com um golo de Varelo perto do final.