O Legia Varsóvia está de ressaca, mas por estranho que pareça nada tem a ver com a festa por ter quebrado dezanove anos de afastamento polaco da fase de grupos da Liga dos Campeões. As dores de cabeça começaram antes, com a saída do técnico Stanislav Cerchesov, que conquistou a «dobradinha» na última época mas não resistiu à oportunidade de assumir o comando da seleção russa.

Besnik Hasi, o sucessor, conseguiu o apuramento para a prova milionária, ultrapassando os modestos Zrinjski Mostar (Bósnia), Trencin (Eslováquia) e Dundalk (Irlanda), mas nem assim escapou ao despedimento, dois meses e meio depois da estreia oficial.

Campeão em título, o Legia é antepenúltimo classificado da Liga polaca e já foi eliminada da taça. Em 19 jogos soma cinco vitórias, sete empates e sete derrotas. Já a contar com o nulo na visita ao Wisla Cracóvia, da passada sexta-feira, com a equipa entregue ao técnico interino Aleksandar Vukovic.

A visita a Alvalade, agendada para terça-feira, marca a estreia do novo técnico: Jacek Magiera, alguém com mais de dez anos de ligação ao clube, primeiro como jogador e depois como treinador adjunto e da equipa de reservas, mas que agora liderava o segundo escalão ao serviço do Zaglebie Sosnowiec.

A equipa técnica liderada por Jorge Jesus tem a difícil tarefa de tentar antecipar as ideias de Magiera, mas com apenas dois dias de trabalho é impossível esperar uma revolução, pelo que a análise realizada previamente não pode ser atirada para o lixo.

Curiosamente, Vukovic recuperou a «fórmula 4x4x2» de Cherchesov, juntando Prijovic a Nikolic na frente de ataque, algo em que Besnik Hasi só apostou duas vezes. Com o técnico albanês o Legia partia quase sempre do 4x3x3, sem problemas em entregar a iniciativa de jogo ao adversário. A equipa conciliava períodos em que procurava pressionar o adversário logo à saída da área contrária (fê-lo logo na primeira parte da visita ao Trencin, por exemplo, mas também quando já estavam em vantagem no reduto do Dundalk), com outros momentos em que o 4x5x1 defensivo se convertia em duas linhas defensivas muito juntas, em zonas mais recuadas. Por vezes até uma espécie de 4x5x0x1, tal a distância a que ficava remetido o ponta de lança.

Legia a «apertar» em zonas adiantadas
Legia com as linhas mais recuadas

Mais requisitados para a missão de sacrifício defensiva do que propriamente para desequilibrar na frente, os extremos apoiam não só os laterais como fecham bem o espaço para os médios interiores, formando assim uma segunda linha defensiva de cinco elementos frequentemente traída pela escassa agressividade sob o portador da bola.

Quando opta por um bloco médio, o Legia tem revelado lacunas evidentes na coordenação entre o primeiro momento de pressão e a linha intermédia. Frente ao Borussia Dortmund, por exemplo, a subida de um médio (Jodlowiec) para ajudar o ponta de lança a pressionar os centrais criou inúmeros desequilíbrios entre linhas, explorados de forma venenosa pela equipa alemã, muitas vezes através do português Raphael Guerreiro. Uma situação que o Sporting tem potencial também para explorar, através dos movimentos interiores de um dos alas, já procurados habitualmente por jogadores como Bryan Ruiz ou Bruno César.

Espaço entre linhas explorado pelo Dortmund, sobretudo quando Jodlowiec via-se «obrigado» a ir pressionar o avanço de Barta

Em organização ofensiva o Legia tem sido uma equipa muito previsível, insistindo quase sistematicamente na saída pelas alas, do central para o lateral e deste para o extremo, com escasso sucesso na progressão.

A formação polaca raramente consegue construir perigo pelo corredor central, até porque o «6» (Odjidja?) passa ao lado da primeira fase de construção e muitas vezes é Jodlowiec, presença habitual na seleção polaca, costuma aparecer em zonas mais adiantadas. O antigo internacional sub-21 francês Thibault Moulin é que aparece ocasionalmente a tentar pegar no jogo com critério, tanto em zonas recuadas como mais adiante, pelo que deve justificar maior atenção por parte dos sportinguistas. É, de resto, o jogador com mais assistências: cinco.

As transições ofensivas do Legia ficam muitas vezes condicionadas pela distância que fica para o ponta de lança quando a equipa aposta em duas linhas defensivas mais juntas e recuadas, mas ainda assim é de ter em conta a velocidade de extremos como Langil e Kucharczyk, muito verticais a atacar o flanco, e a qualidade de Nikolic, um ponta de lança que segura bem de costas para a baliza e que também cai bem nas alas, para além das qualidades como finalizador (mas já la vamos).

No plano defensivo o Legia não tem sido muito punido em transições rápidas, até por entregar frequentemente a iniciativa de jogo ao adversário, mas as bolas paradas têm sido um enorme problema. Dos 27 golos sofridos até ao momento, 16 surgiram de bola parada (59 por cento), com destaque para uma mão cheia de tentos de cantos desviados ao primeiro poste, onde a formação polaca tem demonstrado uma fragilidade impressionante.

Legia nos cantos defensivos: um ou dois jogadores na zona do primeiro poste e os restantes com referências individuais de marcação

A FIGURA

Nemanja Nikolic: nascido na Sérvia, foi na Hungria, país natal da mãe, que construiu a carreira profissional (Barcs, Kaposvölgye, Kaposvár e Videoton), acabando por juntar-se à seleção magiar. Mudou-se para a Polónia em 2015, e na época de estreia pelo Legia marcou 36 golos, 28 dos quais na Liga, prova em que foi melhor marcador e melhor jogador. Esta época já leva nove tentos, de longe o melhor registo da equipa. Avançado não muito alto mas robusto e possante, segura bem a bola de costas para a baliza e mostra-se também competente a cair nas alas, mas é sobretudo pela capacidade finalizadora que se destaca. Frio e pragmático em zonas de finalização, e a grande figura do Legia Varsóvia.