A expulsão em Gelsenkirchen, por duas faltas a mais de trinta metros da baliza em apenas quinze minutos, foi apenas mais um exemplo de algo que não é novo: nos jogos grandes, e mesmo quando não há necessidade disso, Maurício comete erros graves.

Acima de tudo parece ser um caso de demasiada vontade: a ansiedade de fazer tudo, muito bem, muito depressa, acaba por traí-lo nos momentos mais indesejados.

A expulsão que tanto penalizou o Sporting na Alemanha é o último exemplo, e talvez por isso o mais óbvio, mas não é caso único. Vale aqui a pena recordar outros.

31/08/2013: Sporting-Benfica, 1-1 (jogo da Liga)
Maurício comete falta sobre Cardozo dentro da área, quando o jogo estava 1-1, mas o árbitro não assinala.

27/10/2013: FC Porto-Sporting, 3-1 (jogo da Liga)
Maurício comete falta sobre Alex Sandro dentro da área, quando lateral procura a linha de fundo e se afasta da baliza. O árbitro assinalou penálti e Josué faz o 1-0.

9/11/2103: Benfica-Sporting, 4-3 (jogo da Taça de Portugal)
Maurício comete uma falta dura sobre o lateral André Almeida fora da área, o árbitro assinala e Cardozo, na transformação do livre, faz o 1-0.

18/10/2014: FC Porto-Sporting, 1-3 (jogo da Taça de Portugal)
Maurício comete falta desnecessária sobre Jackson dentro da área, quando o avançado se afasta da baliza, o árbitro assinalou mas Rui Patrício defende o penálti de Jackson que faria o 2-2 e relançaria o jogo.

21/10/2014: Schalke 04-Sporting, 4-3 (jogo da Liga dos Campeões)
Maurício faz duas faltas duras, uma sobre a linha de meio campo e outra a trinta metros da baliza, é expulso e deixa a equipa a jogar quase uma hora com 10 jogadores. O Sporting ganhava por 1-0 e acabou por perder por 4-3.

A estes erros podem acrescentar-se outros, pode acrescentar-se por exemplo o erro na Eslovénia, numa rosca que colocou a bola na área quando procurava colocá-la longe, mas a verdade é que em jogos de menos pressão Maurício até comete menos erros.

Como se explica isto?

Ora para procurar a resposta, o Maisfutebol pegou no telefone e ligou a Jorginho, treinador brasileiro que conhece Maurício como poucos: orientou-o nas camadas jovens do Palmeiras, foi ele que promoveu a subida do central à equipa principal do clube, depois ainda voltou a encontrá-lo na Portuguesa.

«Quando o conheci, nos juniores do Palmeiras, era um miúdo rápido, sempre muito voluntarioso e com uma atitude fantástica em campo. Era muito forte nas bolas aéreas. Depois subiu aos seniores e manteve essas virtudes, às quais acrescentou algumas outras coisas como a experiência», começa por referir.

«Mas a verdade é que ele tem momentos em que pensa que é melhor do que é. Ele tem uma confiança exacerbada. Há muitas coisas que podia fazer simples e quer fazer em grande estilo, podia aguentar, cobrir, e ele quer ir imediatamente à bola.»



Quem olha de fora pode pensar que Maurício acusa a pressão dos jogos grandes, mas Jorginho garante que o problema não é esse: pelo menos no Brasil nunca foi.

Maurício jogou vários clássicos no Palmeiras, com Corinthians, São Paulo e Santos, e o treinador nunca o sentiu mais pressionado nesses jogos.

O problema é outro.

«Ele é vaidoso, isso não posso mentir. Fora de campo, sempre muito preocupado com o aspeto, com o cabelo, com o gel, mas também dentro de campo. Tenta em demasia passar uma boa imagem, preocupa-se mais com o que as pessoas pensam nas bancadas em relação a ele do que com ser simples e discreto.»

No fundo são problemas que, diz Jorginho, o central leonino «já traz do futebol amador».

«Precisa de amadurecer nesse sentido. Ele tem qualidade, mas é necessário melhorar nisso. Nós discutíamos muito isso com ele. Por vezes ele fazia um jogo perfeito e depois num lance comprometia tudo e prejudicava a equipa.»

Nessa altura, na sequência de longas conversas nos treinos e nos balneários, que incluíam muitas interrupções durante os treinos e visionamento de vídeos em particular, Maurício acabou por melhorar, conta Jorginho.

Mas é preciso não desarmar.

«Esse é um problema solucionável. É uma questão de falar muito com ele, de lhe exigir e tirar de dentro dele esse defeito com muita conversa», garante.

«Muitas vezes insistia com ele sobre como fazer, repetia-lhe que não precisa de complicar, de arriscar e colocar a equipa em risco.»

O treinador brasileiro garante por isso que é uma questão de não desistir de Maurício: arriscar, não ser simples, cometer erros desnecessários é uma vertigem que o acompanha há muito e tem de ser controlada. Até porque ele tem apenas 26 anos acabados de fazer e concentra em si uma qualidade que é fundamental num jogador.

«É muito trabalhador. Um enorme profissional. Era sempre dos primeiros a chegar e dos últimos a sair, treinava mesmo depois de terminar a sessão, queria ser cada vez melhor.»

Ora esta qualidade tornou Maurício um central predileto para Jorginho. A chamada termina com as vulgares despedidas, mas o brasileiro ainda tem algo para acrescentar atnes de desligar o telemóvel.

«Estou a torcer pelo Maurício. Ele vai dar certo aí em Portugal.»