A convocatória da Seleção Nacional para os últimos jogos antes da concentração para o Mundial 2018 tem nesta altura apenas três jogadores a atuar no futebol português, todos no Sporting. Dois desses jogadores, Rui Patrício e Gelson Martins, são formados em Alcochete, enquanto o terceiro, Bruno Fernandes, tem um percurso diferente, de volta a Portugal depois de ter passado os últimos anos de formação em Itália. Todos os outros estão no estrangeiro, longe dos clubes onde começaram. É o espelho de uma realidade que se acentua, a cada vez menor continuidade dos jogadores no clube da sua formação. Um problema global, mas mais notório em Portugal, com FC Porto e Benfica a contribuirem para lugares de fundo na comparação com os outros campeonatos europeus.

Os dados são confirmados por uma análise do CIES – Observatório do Futebol, que olhou para a utilização de jogadores formados nos clubes em 31 campeonatos europeus. Dados que estabelecem uma comparação época a época desde 2009 e que notam uma tendência de descida constante em quase uma década. Nesta altura, a utilização de jogadores formados no próprio clube atingiu em 2017 os 18,4 por cento do total do plantel, em média. «Esta constatação evidencia a intensificação da mobilidade dos jogadores desde muito jovens, bem como a ineficácia das medidas que procuraram encorajar o emprego de jogadores formados no clube», conclui o estudo.

Olhando país a país, Portugal está lá para o fundo da tabela, na 29ª e antepenúltima posição, com 10,1 por cento de utilização de jogadores formados, um conceito que replica o da UEFA: são jogadores que entre os 15 e os 21 anos tenham passado pelo menos três no clube. E se esta é uma tendência global, não quer dizer que seja uma aposta defendida pelos resultados ou pelo sucesso. Algumas das grandes Ligas da Europa têm apostas bem mais consistentes em jogadores da formação. É o caso da Espanha, mas também da França, ambas bem acima da média, com 23.6 e 23.2 de jogadores formados, respetivamente.

Portugal, já se sabe, é um país exportador por necessidade, o que pode ajudar a explicar essa saída precoce de jogadores. Mas há outro dado para o debate. Se olharmos para a média de idades de jogadores utilizados em cada campeonato, ela está a meio da tabela, na ordem dos 25 anos. Ou seja, a fraca aposta em jogadores formados pelo próprio clube na Liga portuguesa não significa tanto uma opção por jogadores mais velhos ou relutância em dar lugar aos mais novos, mas reflecte outro dado da Liga portuguesa, a de porta de entrada de jogadores jovens vindos do estrangeiro.

É essa a conclusão do CIES, olhando para os dados de Portugal mas também da Bélgica, similares neste ponto: «Em ambos os casos, esperar-se-ia uma proporção mais alta de jogadores treinados no clube, tendo em conta a relativamente jovem idade dos jogadores do plantel. Esta constatação reflecte sobretudo a tendência dos clubes das primeiras divisões da Bélgica e de Portugal para importarem jovens talentos do estrangeiro. Também demonstra a alta mobilidade interna dos jogadores nacionais.»

O estudo também tenta encontrar uma ligação entre o sucesso dos clubes e a utilização de jogadores formados. Ela não é linear, mas encontra uma maior percentagem de jogadores treinados nos clubes em equipas campeãs do que a média global, 24.1 por cento contra 21.2 por cento.

O maior exemplo de aposta de um campeão em jogadores formados é o Barcelona, que em 2012/13 foi campeão com 57.7 por cento do plantel oriundo de La Masia. Um valor apenas igualado por outra equipa singular, os romenos do Viitorul Constanta,  clube de Gheorghe Hagi, em 2016/17.

Há em contrapartida um campeão português no fundo da lista: o FC Porto de 2011/12, no primeiro ano de Vítor Pereira, com apenas 3,8 por cento de jogadores formados no clube.

Mais uma vez, esta é uma tendência bem portuguesa, nomeadamente de FC Porto e Benfica. Quando se olha para os campeões de cada Liga e a utilização que fizeram de jogadores formados, Portugal volta a aparecer no fim da lista, em penúltimo lugar, com 9.3 por cento, à frente apenas da Grécia.