China: começou a Grande Marcha no futebol mundial?

Artigo atualizado (ao ritmo a que se fazem os negócios na China) 

Agora é mais ou menos oficial: a China invadiu o mercado futebolístico e promete agitar a soberania europeia.
 
Não é nada de novo, é verdade: basta lembrar que Jorge Mendes já tinha avisado que estava no Oriente a futura superpotência mundial. Fê-lo há dois meses, na apresentação de uma parceria com a Fosun, uma das mais poderosas empresas mundiais, com a qual Jorge Mendes vai trabalhar no desenvolvimento desportivo e comercial do futebol chinês.
 
Por isso, repete-se, não é nada de novo, mas para os mais céticos vale a pena recordar como os clubes chineses atacaram o mercado de inverno para provar que sim, o maior mercado de consumidores do mundo promete agitar o futebol como poucos.
 
Mas vamos a números, que é para isso que cá estamos.
 
A liga chinesa movimentou até agora 290 milhões de euros, o que só tem paralelo com o fluxo de dinheiro na liga inglesa: 353 milhões de euros, mais 63 milhões, portanto.

Ligas que movimentaram mais dinheiro

 
No entanto, e se ao valor de negócios da primeira divisão chinesa se juntar o valor da segunda (56 milhões), conclui-se que o futebol chinês movimentou praticamente 350 milhões

 
É mais do que o valor total de negócios das ligas alemã, espanhola, francesa e portuguesa todas juntas. Para além de que o mercado chinês ainda não fechou. Sintomático, não é?
 
Mas há mais.
 
Há por exemplo que destacar que salta à vista uma diferença básica entre o investimento chinês no futebol e o que aconteceu em mercados como o americano ou o árabe: no caso chinês não se trata apenas de jogadores em final de carreira e muito menos de jogadores em final de contrato, que atraem para uma reforma dourada com bons salários.
 
Os chineses investem na compra de passes. Este mercado de inverno, por exemplo, garantiram Jackson Martínez (At. Madrid), Fredy Guarin (Inter Milão), Ramires (Chelsea) e Gervinho (Roma). Os dois primeiros têm 29 anos, os dois últimos têm 28 anos. São todos opções regulares nas respetivas seleções.

 


Vale a pena acrescentar, aliás, que quatro das dez transferências mais caras aconteceram para o futebol chinês.
 
Há no entanto outro pormenor curioso: o futebol chinês tem uma forte limitação de jogadores estrangeiros, permitindo apenas quatro por cada equipa. O que leva os clubes a investir grandes quantias nos melhores jogadores chineses.
 
O TJ Quanjian, por exemplo, gastou 24,6 milhões de euros com a venda de apenas três jogadores: Lu Zhang, Ke Sun e Xuri Zhao. Já alguma vez tinha ouvido falar deles?

 
Por outro lado, dois dos três clubes que mais gastaram no mundo, durante este mercado de inverno, foram chineses: tratou-se do Guangzhou Evergrande e do HB China Fortune (só ultrapassados pelo Watford, de Inglaterra).

O primeiro gastou 42 milhões de euros em Jackson Martínez, o segundo investiu 39,4 milhões de euros em Gervinho (Roma), Mbia (Trabzonspor) e mais uns quantos chineses desconhecidos.
 
O HB China Fortune tem um percurso curioso: trata-se de um clube fundado em 2010, mas que foi comprado em 2015 pela empresa China Fortune Land Development, que garantiu a subida à primeira divisão logo no final desse ano e que agora, na preparação da estreia na liga, investiu forte no reforço da equipa.
 
A história do HB China Fortune, aliás, é um pouco a história do futebol chinês.
 
Os clubes são propriedade de grandes empresas, que acabam por apostar muito dinheiro no desenvolvimento dos mesmos. Por que o fazem? Dizem que a explicação está no presidente da China: Xi Jinping. Trata-se de um apaixonado pelo futebol, grande adepto do Manchester United, que desafiou os grandes empresários a desenvolver o futebol local: quer através da construção de academias de futebol, quer através do reforço das equipas.
 
Ora os grandes empresários do país, que como em todas as grandes economias querem um lugar à mesa ao lado da influência do poder, não olharam a meios para cair nas boas graças de Xi Jinping. O futebol foi crescendo por arrasto.
 
Pelo meio dão casos curiosos.
 
O campeão Guangzhou Evergrande, por exemplo, vendeu o melhor marcador da liga chinesa - o brasileiro Elkeson - ao Shangai SIPG por 18 milhões de euros. Por que o fez? Por duas razões: para melhorar a competitividade da liga e para fortalecer uma equipa chinesa que disputa a Liga dos Campeões Asiáticos.

Surpreendente, não é? É sim senhor. Mas prova também outra coisa: o futebol chinês pode ter dinheiro, muitos adeptos e milhões de consumidores, mas ainda não tem a paixão da rivalidade. E esse é um pormenor que pode fazer toda a diferença.
 
Curiosamente rivalidade é coisa que não falta do outro lado do mundo: nas ligas europeias. Aí o problema parece ser mesmo dinheiro.
 
Basta dizer que os colossos espanhóis (Barcelona e Real Madrid) não movimentaram um euro que fosse. Tal como o PSG, o Marselha e a Lázio. O Man. City movimentou 320 mil euros e o Man. United 135 mil euros. O Bayern teve negócios no valor de 4 milhões.
 
Este foi de facto um mercado atípico.
 
Quem movimentou dinheiro, afinal? Simples: foram sobretudo as equipas do fundo da tabela de Inglaterra.
 
O Newcastle teve negócios no valor de 38 milhões de euros, o Norwich de 32,4 milhões, o Watford de 24,9 milhões, o Stoke City de 24,2 milhões e o Bournemouth 24,1 milhões.
 
Por isso a liga inglesa foi a única que realmente rivalizou com o futebol chinês. O que, lá está, só sublinha o que foi dito no início do texto: a China invadiu o mercado futebolístico e ameaça agitar a soberania europeia. Será que o consegue fazer no futuro?

*Valores retirados do site transfermarkt.de e não todos necessariamente oficializados pelos clubes