Terminada a temporada 2014/15 recomeça não só a dança de jogadores no futebol português, como também a de treinadores. Alguns dos clubes que participaram na Liga já anunciaram mudanças no banco - assim como os clubes promovidos ao principal escalão - , e para os próximos dias estão reservadas mais novidades, seguramente. Mas ainda em tempo de balanço da época que findou vale a pena olhar para o efeito das «chicotadas», e os números apontam uma conclusão clara: trocar de treinador compensou para quase todos.
 
Das oito mudanças de treinador em emblemas da Liga, apenas duas não geraram melhores resultados: a troca de Lito Vidigal por Jorge Simão, no Belenenses, e a de Rui Quinta por Carlos Brito, no Penafiel.
 
Mas a verdade é que, embora Jorge Simão tenha feito menos pontos do que Lito Vidigal, o Belenenses acabou por garantir a qualificação europeia. Por altura da mudança a equipa do Restelo ocupava a sexta posição do campeonato (em igualdade pontual com o Paços de Ferreira), e acabou a época precisamente nessa posição (isolado).
 
A diferença entre os dois técnicos foi reduzida, de resto. Lito Vidigal conseguiu 48 por cento dos pontos, na Liga, e Jorge Simão conseguiu 44 por cento. Se alargarmos a análise a todas as provas, então Lito conseguiu 50 por cento dos pontos (Simão apenas orientou o Belenenses na Liga).
 
A título de comparação refira-se que Manuel Machado e Paulo Fonseca, os dois treinadores que ficaram à porta da qualificação europeia, fecharam a época com um aproveitamento pontual de 46 por cento.


 
Relativamente ao Penafiel registou-se uma melhoria nos resultados com a primeira «chicotada», até porque Ricardo Chéu saiu com um aproveitamento zero (quatro derrotas em quatro jogos). Rui Quinta fez indiscutivelmente melhor (25 por cento dos pontos), mas não chegou a terminar a época. Carlos Brito fez os últimos nove jogos, com um registo inferior (22 por cento dos pontos).
 
A verdade é que mesmo o melhor registo do Penafiel, os 25 por cento de Rui Quinta, não seria suficiente para garantir a permanência. É que o Arouca, a primeira equipa a terminar fora da zona de despromoção, fez 27 por cento dos pontos em disputa, com Pedro Emanuel no banco.
 
Ivo Vieira com registo europeu
 
Todas as outras mudanças de treinador trouxeram melhorias em termos de resultados. E aquela que trouxe uma maior diferença no aproveitamento pontual foi a do Gil Vicente, mas o emblema de Barcelos não evitou a despromoção. E neste caso é preciso ter em conta que João de Deus sai logo após a terceira jornada (três derrotas). José Mota somou 25 por cento dos pontos que disputou, um registo que também não seria suficiente para garantir a permanência (perante os tais 27 por cento do Arouca).
 
Posto isto o grande destaque vai para Ivo Vieira, que pegou no Marítimo na 11ª posição e acabou em 9º, envolvendo-se na luta europeia quase até ao fim. O antecessor, Leonel Pontes, conseguiu 39 por cento dos pontos em disputa na Liga, e Ivo Vieira elevou este registo para os 52 por cento. Uma marca claramente superior à global do Belenenses (47 por cento), juntando Lito Vidigal e Jorge Simão.
 
Se alargarmos a análise a todas as competições, então a diferença entre os dois treinadores do Marítimo é reduzida (47 por cento dos pontos para Leonel Pontes e 51 por cento para Ivo Vieira), por força do percurso feito pelo ex-adjunto de Paulo Bento nas Taças, complementado depois pelo sucessor com a presença na final da Taça da Liga.
 
Logo a seguir surge José Viterbo, que gerou um aumento de 12 por cento no aproveitamento de pontos por parte da Académica. Paulo Sérgio conseguiu 24 por cento dos pontos, e o sucessor somou 36 por cento.


 
No Estoril a «chicotada» também provocou uma melhoria considerável nos resultados. José Couceiro amealhou 36 por cento dos pontos que disputou, mas Fabiano Soares conseguiu 45 por cento.
 
No Vitória de Setúbal o registo de Domingos Paciência também seria suficiente para garantir a permanência (27 por cento dos pontos), mas Bruno Ribeiro conseguiu subir ligeiramente o aproveitamento (para os 29 por cento), fazendo mais um ponto em igual número de jogos.
 
Lopetegui iguala Jesus se formos além da Liga
 
Jorge Jesus foi, como é óbvio, o treinador com melhor aproveitamento de pontos na Liga (83 por cento, para 80 por cento de Julen Lopetegui), mas é curioso verificar que se alargarmos a análise a todas competições então verifica-se uma igualdade (ambos os técnicos conseguiram 76 por cento dos pontos em disputa). A aproximação explica-se na prestação europeia de Benfica e FC Porto.

Marco Silva conseguiu 75 por cento dos pontos disputados pelo Sporting na Liga, e englobando todas as competições o registo desce para os 68 por cento, por força das provas europeias e da Taça da Liga.
 
Aproveitamento de pontos por técnico (só na Liga):
 
BENFICA
Jorge Jesus: 85 pontos de 102 = 83 por cento
 
FC PORTO
Julen Lopetegui: 82 pontos de 102 = 80 por cento
 
SPORTING
Marco Silva: 76 pontos de 102 = 75 por cento
 
SP. BRAGA
Sérgio Conceição: 58 pontos de 102 = 57 por cento
 
V. GUIMARÃES
Rui Vitória: 55 pontos de 102 = 54 por cento
 
BELENENSES (quebra de 4 por cento)
Lito Vidigal: 36 pontos de 75 = 48 por cento
Jorge Simão: 12 pontos de 27 = 44 por cento
 
NACIONAL
Manuel Machado: 47 pontos de 102 = 46 por cento
 
PAÇOS DE FERREIRA
Paulo Fonseca: 47 pontos de 102 = 46 por cento
 
MARÍTIMO (melhoria de 13 por cento)
Leonel Pontes: 27 pontos de 69 = 39 por cento
Ivo Vieira: 17 pontos de 33 = 52 por cento
 
RIO AVE
Pedro Martins: 43 pontos de 102 = 42 por cento
 
MOREIRENSE
Miguel Leal: 43 pontos de 102 = 42 por cento
 
ESTORIL (melhoria de 9 por cento)
José Couceiro: 25 pontos de 69 = 36 por cento
Fabiano Soares: 15 pontos de 33 = 45 por cento
 
BOAVISTA
Petit: 34 pontos de 102 = 33 por cento
 
VITÓRIA DE SETÚBAL (melhoria de 2 por cento)
Domingos Paciência: 14 pontos de 51 = 27 por cento
Bruno Ribeiro: 15 pontos de 51 = 29 por cento
 
ACADÉMICA (melhoria de 12 por cento)
Paulo Sérgio: 15 pontos em 63 = 24 por cento
José Viterbo: 14 pontos em 39 = 36 por cento
 
AROUCA
Pedro Emanuel: 28 pontos em 102 = 27 por cento
 
GIL VICENTE (melhoria de 25 por cento)
João de Deus: 0 pontos de 9 = 0 por cento
José Mota: 23 pontos de 93 = 25 por cento
 
PENAFIEL (melhoria de 25 por cento e depois quebra de 3 por cento)
Ricardo Chéu: 0 pontos de 12 = 0 por cento
Rui Quinta: 16 pontos de 63 = 25 por cento
Carlos Brito: 6 pontos de 27 = 22 por cento
 
Aproveitamento de pontos por técnico (todas as competições):
 
BENFICA
Jorge Jesus: 112 pontos de 147 = 76 por cento
 
FC PORTO
Julen Lopetegui: 119 pontos de 156 = 76 por cento
 
SPORTING
Marco Silva: 108 pontos de 159 = 68 por cento
 
SP. BRAGA
Sérgio Conceição: 82 pontos de 135 = 61 por cento
 
V. GUIMARÃES
Rui Vitória: 62 pontos em 120 = 52 por cento
 
BELENENSES (quebra de 6 por cento)
Lito Vidigal: 53 pontos de 105 = 50 por cento
Jorge Simão: 12 pontos de 27 = 44 por cento
 
NACIONAL
Manuel Machado: 59 pontos de 135 = 44 por cento
 
P. FERREIRA
Paulo Fonseca: 54 pontos de 117 = 46 por cento
 
MARÍTIMO (melhoria de 4 por cento)
Leonel Pontes: 42 pontos de 90 = 47 por cento
Ivo Vieira: 20 pontos de 39 = 51 por cento
 
RIO AVE
Pedro Martins: 70 pontos de 171 = 41 por cento
 
MOREIRENSE
Miguel Leal: 53 pontos de 123 = 43 por cento
 
ESTORIL (melhoria de 11 por cento)
José Couceiro: 34 pontos de 99 = 34 por cento
Fabiano Soares: 15 pontos de 33 = 45 por cento
 
BOAVISTA
Petit: 40 pontos de 123 = 33 por cento
 
V. SETÚBAL (melhoria de 2 por cento)
Domingos Paciência: 18 pontos de 60 = 30 por cento
Rui Silva: 3 pontos de 3 = 100 por cento *
Bruno Ribeiro: 19 pontos de 60 = 32 por cento
 
ACADÉMICA (melhoria de 9 por cento)
Paulo Sérgio: 21 pontos de 78 = 27 por cento)
José Viterbo: 14 pontos de 39 = 36 por cento)
 
AROUCA
Pedro Emanuel: 35 pontos de 120 (29 por cento)
 
GIL VICENTE (melhoria de 28 por cento)
João de Deus: 0 pontos de 9 = 0 por cento
José Mota: 34 pontos de 120 = 28 por cento
 
PENAFIEL (melhoria de 29 por cento e depois quebra de 7 por cento)
Ricardo Chéu: 0 pontos de 12 = 0 por cento
Rui Quinta: 23 pontos de 78 = 29 por cento
Carlos Brito: 6 pontos de 27 = 22 por cento

* Rui Silva fez a transição entre Domingos e Bruno Ribeiro, no Vitória de Setúbal, num triunfo sobre o Vitória de Guimarães para a Taça da Liga (2-0).

Nota: a análise alargada a todas as competições parte sempre do pressuposto de que em todos os jogos a vitória vale três pontos, o empate um e a derrota zero