14 de maio de 2005. A imagem mostra o desalento de adeptos e jogadores do Hansa Rostock, juntos no adeus à Bundesliga. Pela primeira vez desde a reunificação da Alemanha, o campeonato principal deixava de ter equipas do Leste. Ainda voltariam, o Hansa Rostock subiu dois anos mais tarde para voltar a descer, o Energie Cottbus aguentou até maio de 2009. Desde então, mais nenhuma chegou ao topo. 25 anos depois, ainda são duas as Alemanhas no futebol.



O Hertha Berlim tentou reclamar alguma dessa herança do Leste. Poucos dias depois da queda do muro teve mais de dez mil adeptos de Berlim leste no estádio a assistir a um jogo. E ainda no passado sábado celebrou no Olympiastadion os 25 anos da reunificação, com uma coreografia a assinalar o momento e cartazes que diziam «Unimos o Leste e o Oeste porque o Herta representa Berlim inteira».



Mas, ainda que o clube tenha tido essa capacidade aglutinadora da cidade nos tempos que se seguiram à queda do Muro, o facto é que o Hertha jogava na Bundesliga já nos tempos da Guerra Fria.

O Muro caiu no final de 1989, a reunificação aconteceu formalmente a 3 de outubro de 1990. Na época seguinte, 1991/1992, a Bundesliga absorveu duas equipas do Leste: o Hansa Rostock e o Dynamo Dresden.

As coisas tinham começado a mudar antes disso para o futebol do Leste. Para os jogadores, sobretudo. Ainda em 1989, as até aí fechadas sedes e estádios dos clubes passaram a ter visitas regulares de representantes dos grandes clubes da RFA. O relato na primeira pessoa de Ulf Kirsten, então uma promessa do Dínamo Dresden e ainda da seleção da RDA. «Era uma experiência nova ter tantos empresários e diretores de clube a visitar-nos nos jogos e treinos. Na segunda metade da época 1989/90 passou a outro nível, havia imensa gente a contactar-nos», recordou agora Kirsten em entrevista à FIFA.

Ele próprio daria o salto em 1990 para o Bayer Leverkusen, onde se tornou uma das grandes referências goleadoras da Alemanha nos anos 90. Também Mathias Sammer, Thomas Doll ou Steffen Freund ou Michael Ballack, anos mais tarde, fizeram a viagem para ocidente.

Era um tempo de esperança e, em teoria, abria-se um mundo novo também para os clubes do Leste. Mas era desigual à partida. A saída dos melhores jogadores, as enormes diferenças estruturais e de capacidade financeira são muros invisíveis mas difíceis de transpor. Kirsten, de novo, a tentar analisar o que falhou: «Há muitos factores, mas a principal causa é económica. Para os clubes do Leste a estabilidade financeira não tem sido fácil. Quando a Alemanha estava dividida havia grande disparidade entre o Leste e o Ocidente, mas está a ser muito difícil diminuir o fosso.»

Passaram pouco mais de 15 anos até o Leste desaparecer por completo do mapa da Bundesliga. A queda do Energie Cottbus num play-off com o Nuremberga, em 2009, selou esse momento.



Para trás tinha ficado também a ilusão de uma seleção capaz de juntar as duas Alemanhas. Se nos anos 90 e no início do século a «Mannschaft» ainda teve como protagonistas jogadores do Leste, essa tendência foi-se esbatendo com o passar dos anos. A Alemanha campeã do mundo em 2014 tinha apenas um jogador com raízes no Leste, Toni Kroos.

Uma representação desproporcional para uma região que tem 15 por cento da população alemã, mas de que o futebol é apenas espelho. As assimetrias são ainda hoje transversais à sociedade e à economia do Leste.

Olhando mais para baixo na pirâmide do futebol alemão o cenário também não melhora. Na 2. Bundesliga está o Union Berlin, um clube com fortes raízes populares e adeptos entusiastas, mas a subida é ainda uma miragem. A equipa do Leste mais bem colocada no segundo campeonato alemão é, ironia, o RB Leipzig, um clube com seis anos de vida que faz parte do império da empresa Red Bull.