Está a fazer 20 anos uma daquelas imagens que ficam na memória, de tão fortes. O rosto de Maradona depois daquele que seria o seu último golo no Mundial. Impressionou logo na altura, ganhou dimensão depois dos acontecimentos dos dias seguintes.

Diego Maradona fez questão de jogar um último Mundial. O quarto. Já não era o que foi, já se tinha perdido numa nuvem negra, numa espiral de auti-destruição. Mas não resistiu a regressar. Ele que já tinha cumprido 15 meses de castigo por doping, deixado o Nápoles, passado sem glória pelo Sevilha e voltado para a Argentina, para o Newells Old Boys, preparou-se com intensidade, com treinador e fisoterapeuta privados, para viajar para o primeiro Mundial da história nos Estados Unidos, nos meses antes da competição. Demasiada intensidade, percebeu-se depois.

Mas naquele início do Mundial 1994, o primeiro nos Estados Unidos, ainda conseguiu alimentar a ilusão. A Argentina estreava-se frente à Grécia, dominou o jogo e teve aquele golo de Maradona, na vitória tranquila por 4-0. Uma combinação com Redondo e Caniggia, três toques e pronto. Seguiu-se uma corrida desenfreada em direção a uma câmara de televisão, aquele grito naquele olhar transtornado. Veio do fundo.

As imagens em movimento, com relato de Victor Hugo Morales, o narrador uruguaio autor do relato mais famoso do golo de Maradona à Inglaterra em 1986 («Barrilete cósmico, de qué planeta viniste», lembra-se?)



A Argentina vivia o sonho, o mundo assistia e interrogava-se, Maradona ainda pode ser Maradona? O jogo seguinte foi quatro dias mais tarde, frente à Nigéria. Diego jogou os noventa minutos, esteve nos dois golos de Caniggia na reviravolta da Argentina para uma vitória por 2-1, saudou o público do Foxboro Stadium e depois foi o fim.



Tudo o que envolveu Maradona foi sempre grande, excessivo. Seria difícil imaginar um enredo de filme assim. No final do jogo com a Nigéria Maradona foi escolhido para o controlo antidoping. Mas não se limitou a ir, discretamente. Uma enfermeira foi ao relvado buscá-lo. 

Deu-lhe a mão. E é assim, levado pela mão por aquela mulher, que Maradona deixa pela última vez o relvado de um Campeonato do Mundo como jogador.



O resto já se sabe. Efedrina, disse a FIFA. Maradona acusou positivo, a Argentina ficou em choque, o mundo dividiu-se entre os gritos de batoteiro e a tristeza de ver alguém tão grande acabar assim.

Maradona fez 21 jogos em Mundiais, de 1982 a 1998, poucos fizeram tantos como ele. Foi campeão do mundo quando levou a Argentina às costas em 1986 e foi vicecampeão, em 1990. Marcou oito golos em fases finais, incluindo, naquele único jogo com a Inglaterra de 1986: o melhor do século, e o mais discutido de todos os tempos, a «Mão de Deus».Mas 1994 também faz parte da história de Maradona. E do Campeonato do Mundo, elas confundiram-se tantas vezes.