Uma decisão de campeonato na última jornada é aquilo com que sonha quem gosta de futebol. Emoção, intensidade e drama garantidos. Mas, claro, há umas mais agitadas que outras. Itália, no início dos anos 2000, teve decisões do Scudetto loucas e bizarras. Que o digam Inzaghi, Totti ou ainda Buffon, os protagonistas, claramente involuntários e com roupa a menos, das imagens de que falamos.


Em 1999/00 o título foi para a Lazio de Sven-Goran Eriksson. Aquele que é apenas o segundo Scudetto da história da equipa romana foi garantido na última jornada com uma vitória sobre a Reggina, aliada a uma derrota polémica da Juventus em Perugia, num relvado alagado. O árbitro Pierluigi Collina suspendeu a partida, mas decidiu retomá-la, apesar dos protestos da equipa de Turim, que exigia a repetição.


E na época seguinte a história repetiu-se. Desta vez a festa foi da Roma, a Juventus voltou a ficar do lado errado da história. A Roma campeã pela primeira vez em 18 anos, naquele que é até hoje o último título da Serie A que não foi para a Juventus ou para um dos grandes de Milão. Ainda não será desta que se repete, o que resta do campeonato italiano em 2015 será um passeio para a Juve, nesta altura com 14 pontos de vantagem sobre o segundo, por sinal a Roma.

Aqueles ainda eram outros tempos. Naquele ano de 2001 tudo se decidiu na última jornada. Dia 17 de junho, voltemos lá. A Roma de Fabio Capello na frente, a dois pontos a Juventus de Carlo Ancelotti, ambas a jogar em casa.


Eram tempos de mudança na Juve. O clube tinha já anunciado que Ancelotti iria ser substituído na época seguinte por Marcelo Lippi. Aquele seria também o último jogo de Zinedine Zidane em Turim, antes de se mudar para Madrid. E igualmente de Filippo Inzaghi, que foi bianconero antes de se tornar um símbolo do Milan.


Eram tempos de tensão na Juve e, naquele último dia da época, ela acabou por passar das bancadas ao relvado. Em campo, os bianconeri começaram por fazer o que lhes competia, aos cinco minuos um golo de Trezeguet garantia vantagem e, até ver, igualdade pontual com a Roma. Mas a ilusão da luta pelo título só durou mais 14 minutos, até Francesco Totti marcar, no Olímpico, o golo que lançava a Roma para o Scudetto.


Aos 63m a Juve marcava o segundo, por Tacchinardi, mas a Roma também fazia o seu trabalho: 2-0 por Montella aos 40m e 3-0 por Gabriel Batistuta aos 78m.


E em Turim acontecia o impensável. Uma onde de adeptos forçou a entrada por uma porta de acesso ao relvado e invadiu o terreno. Os jogadores tentaram fugir, mas houve quem não conseguisse. Inzaghi não foi a tempo e viu-se engolido pela multidão.





Passaram 15 minutos até o árbitro e os dirigentes da Juve, com apelos pela instalação sonora, convencerem os adeptos a abandonar o relvado. O jogo foi retomado mas, com milhares de pessoas a manterem-se junto à linha, o árbitro acabou por dar o assunto por encerrado ao fim de nove minutos.


Em Roma o cenário era igualmente de caos, ainda que o estado de ânimo dos adeptos fosse bem diferente. Muitos não aguentaram até ao final a ansiedade pelos festejos do Scudetto e, a cinco minutos do final, invadiram o campo.



E sim, também eles com uma estranha fixação em deixar a roupa interior dos jogadores à mostra. Francesco Totti ainda encontrou ânimo para sorrir, ao lado de Montella, quando teve de trocar os calções rasgados por outros, para poder terminar o jogo.





Mas houve muito quem não achasse graça. A começar por Fabio Capello, o treinador da Roma, que andou pelo relvado a ajudar a polícia a dispersar a multidão. Ou Gianluigi Buffon, então guarda-redes do Parma, que acabou assim.