Tem quase cinco décadas e é seguramente um dos logotipos mais familiares do planeta desportivo. Aquela figura estilizada de um jogador e uma bola de basquetebol a branco, sobre um fundo vermelho e azul, é a NBA. Uma silhueta que tem na origem um nome e um rosto, ainda que a NBA nunca o tenha assumido. É Jerry West, que até nem se importava que o logo mudasse, ao fim de todos estes anos.

A NBA nunca quis personalizar uma imagem que se quer global, mas foi uma foto do antigo jogador dos Lakers que inspirou os criadores do logotipo. Era 1969, quando a Liga norte-americana de basquetebol profissional, a precisar de crescer e ganhar nome e marca, encomendou o logotipo e escolheu Alan Siegel, um designer que era fã de basquetebol e tinha criado um ano antes o logo da Major League Baseball (MLB). A ideia dos responsáveis da NBA era terem uma imagem que se aproximasse daquela.

Alan Siegel contou ao LA Times em 2010 que o então comissário da NBA, J. Walter Kennedy, lhe disse que queriam ter «uma relação familiar com o basebol e usar o vermelho, branco e azul para posicionar o basquetebol como um jogo completamente americano».

Siegel procurou inspiração em imagens de basquetebol. Mergulhou nos arquivos da revista «Sport» e foi então que se deteve naquela imagem, um drible de Jerry West com a sua camisola de sempre, a dos LA Lakers. Esta imagem, uma foto de Wen Roberts.

E foi dali que partiu para o logotipo. «Encontrei aquela imagem do Jerry West a driblar e, tendo crescido em Nova Iorque e ido muitas vezes com o meu pai ao Madison Square Garden, tinha visto muitos jogos de West. Tinha um toque apelativo, e selecionámo-la. Era perfeita. Era vertical e tinha uma sensação de movimento. Foi uma daquelas coisas que fez clique», conta Siegel nessa entrevista.

Portanto, o autor do logo não tem dúvidas. «É o Jerry West.» A NBA sempre foi mais relutante na conclusão e Siegel diz que compreende. «Eles querem uma lógica institucional e não individual. Tornou-se um símbolo tão omnipresente e clássico da identidade e do programa de licenciamento deles que eles não o querem identificado com um jogador.»

Jerry West tem vivido com esse segredo mal guardado. Ele é muito mais que isso. Foi como jogador, uma carreira inteira nos Lakers entre 1960 e 1974, campeão em 1972, MVP da final perdida em 1969. E foi sobretudo como dirigente. Depois de terminar a carreira continou nos Lakers, primeiro como treinador, depois como diretor. É o homem por trás da equipa dos Lakers que foi cinco vezes campeã nos anos 80. Mas não ficou por aí, voltou a construir uma equipa tricampeã no início dos anos 2000. Depois saiu para os Memphis Grizzlies e em 2011 para os Golden State Warriors, que chegariam ao primeiro título da sua história em 2015. É lá que continua, agora com 78 anos.

Na semana passada, West deu uma entrevista à ESPN e o tema do logo veio de novo à conversa. E ele disse que se sente lisonjeado por estar na origem de algo tão icónico, mas compreende que é embaraçoso para a NBA. E que, por ele, podem mudá-lo.

«Gostava que nunca se tivesse sabido que eu estou no logo. Gostava mesmo. Já o disse mais que uma vez, e é lisonjeiro se for eu – e eu sei que sou eu», disse. «Mas se eu fosse a NBA, ficaria embaraçado com isso.»

«Não gosto de fazer nada que chame a atenção para mim próprio, e quando as pessoas falam nisso, aquilo não é quem eu sou», explicou. «Se quiserem mudá-lo, gostava que mudassem. Em muitos sentidos, gostaria que mudassem», continou West, que há uns anos sugeriu que podiam fazer um novo logo com a imagem de Michael Jordan, mas agora deixou uma sugestão mais irónica, propondo que o façam a partir da imagem do atual comissário da NBA: «O Adam Silver ficaria muito bem.»