Senegal no Mundial e a memória recua 15 anos até àquele 31 de maio em Seul. Jogo de abertura do Mundial 2002 e a França, campeã do Mundo e da Europa, a cair aos pés do estreante africano, um dos grandes choques da história do Campeonato do Mundo. Agora o Senegal está pela primeira vez de volta ao grande palco, a sonhar com momentos como este. A forma como lá chegou desta vez já tem muito que contar, incluindo uma derrota transformada em vitória.

O Senegal garantiu a qualificação para o Mundial 2018 na sexta-feira em Polokwane, numa vitória por 2-0. Era um «dejá vu», porque este jogo já se tinha realizado em novembro do ano passado. E a África do Sul tinha vencido por 2-1. Mas a FIFA mandou que se repetisse, porque o árbitro dessa primeira partida, o ganês Joseph Lamptey, foi banido para a vida por ter sido considerado culpado de «influenciar ilegalmente resultados», precisamente naquela partida.

Em causa uma grande penalidade assinalada por Lamptey a favor da África do Sul, por uma mão na bola que na verdade tinha sido no joelho.

É este o lance:

A decisão foi anunciada em março deste ano e em setembro ficou decidido que o jogo seria repetido em novembro, antes da última jornada. E o Senegal venceu por 2-0, com um primeiro golo de Diafra Sakho e depois um autogolo de Thamsanqa Mkhize. Essa vitória arrumou as contas do Grupo D, onde estavam também o Burkina Faso de Paulo Duarte e Cabo Verde, e tornou irrelevante a última jornada, marcada para a próxima terça-feira.

É um grande momento para o Senegal, que volta a ter uma seleção promissora, como em 2002, liderada em campo por Sadio Mané e no banco por Aliou Cissé. Coincidência, ele era o capitão daquele Senegal de 2002.

O então médio chegava à Coreia do Sul e ao Japão, naquele verão, vindo do campeonato francês. Como grande parte dos seus companheiros de equipa. El Hadji Diouf, a estrela da companhia, jogador africano desse ano, que tinha acabado de assinar pelo Liverpool antes do Mundial depois de se destacar no Lens, resumiu assim a coisa: «Somos a equipa B de França.»

A imagem que abre este artigo ilustra o momento que consumou o choque naquele dia em Seul: o golo de Papa Bouba Diop, após um passe de Diouf, em insistência, deitado no chão e Barthez a vê-la entrar. Seguido de outra imagem icónica: a camisola de Diop no chão e eles a dançarem em volta dela.

A França não tinha nesse jogo Zinedine Zidane. Estava lesionado e falhou também a segunda partida, o empate a zero com o Uruguai. Voltou para o último jogo, com a Dinamarca, mas apenas para ver confirmada a humilhação: derrota por 2-0, a França e Zidane recambiados para casa, o pior campeão do mundo da história, eliminado na primeira fase sem um único golo marcado.

Quanto ao Senegal, partiu dali para uma alegre caminhada que só parou nos quartos de final, na eliminação frente à Turquia. Não voltou a um Mundial desde então, até agora. No início deste ano a seleção senegalesa já tinha dado bons sinais no CAN, onde foi afastado nos quartos de final pelos Camarões. Agora carimbou mesmo o passaporte para o regresso. À espera de voltar a dançar.