Ronaldo Nazário de Lima foi o melhor jogador do mundo para a FIFA em 1996. Nesta imagem mostra o troféu ao Camp Nou, com Vítor Baía como espectador privilegiado. Não foi Bola de Ouro em 1996, no tempo em que coexistiram os dois troféus. A escolha da France Football recaiu numa personagem bem mais discreta: Mathias Sammer. O líder a partir de trás da Alemanha campeã da Europa nesse ano.

Não podiam ser mais diferentes as escolhas, a apontar caminhos tão diferentes. Sammer era apenas o segundo defesa da história a conseguir a distinção, depois de Franz Beckenbauer, em 1972. A seguir a ele não houve muitos mais jogadores defensivos a levar o troféu. Foi apenas um, na verdade: Fabio Cannavaro, em 2006. A imagem da France Football em que recebe o troféu não precisa de mais comentários, diz tudo sobre a diferença de ambiente que acolheu Ronaldo e Matthias.



O dia em que a FIFA anuncia os finalistas à Bola de Ouro, num tempo em que o debate está bipolarizado entre os dois fenómenos de outro planeta que são Cristiano Ronaldo e Messi, pode ser uma oportunidade para olhar para trás. E para outras vias. O que valorizar mais num prémio destes, o génio ou alguém que encarna a sublimação do objetivo coletivo? A discussão não terá fim, provavelmente, mas isso não quer dizer que não faça sentido.

Tem ganho, de goleada, a primeira corrente. O talento, a popularidade. O princípio que não deixou levantar o troféu alguns dos jogadores que mais influência tiveram no jogo nos últimos anos. Como Xavi, ou Iniesta. O mesmo princípio que cilindra, abafada por uma vaia de adeptos indignados, a opinião de Michel Platini, quando o presidente da UEFA, e já agora três vezes vencedor da Bola de Ouro, disse que fazia sentido envolver um jogador da Alemanha campeã do mundo na discussão este ano.

Naquele ano de 1996, Sammer ganhou a Bola de Ouro a Ronaldo por um triz. Na verdade, ganhou por um voto de diferença. E Ronaldo, 20 anos, tornou-se o mais jovem de sempre a ser eleito melhor do mundo pela FIFA, que tinha instituído o seu prémio em 1991. Os dois troféus coexistiram até 2010, altura em que se fundiram num só.

A Bola de Ouro existia desde 1956, primeiro aberta apenas a jogadores europeus. Em 1995 alargou o foco a futebolistas de todo o mundo a jogar na Europa. Ganhou Weah nesse primeiro ano, no ano seguinte irrompeu o Fenómeno Ronaldo. Não ganhou por um triz, naquela época em que seduziu o mundo a partir do Camp Nou.

Era apenas uma questão de tempo para Ronaldo. Venceria em 1997 os dois troféus, tal como aconteceria em 2002. Quando, bem menos exuberante e quando já tanta gente não dava muito por ele, depois do ocaso que se seguiu à final do Mundial 1998, ajudou o Brasil a tornar-se campeão do mundo.

No final de 1996, Ronaldo ainda era uma promessa. Tinha chegado à Europa ano e meio antes, para o PSV. Em duas épocas na Holanda abriu o apetite para o que se seguiria: a mudança para o Barcelona, onde fez apenas uma época, sublime. Quando se decidiram os troféus de melhor do ano já tinha dado para perceber tudo o que ele era. Já tinha acontecido, por exemplo, aquele golo ao Compostela.

O tal que deixou meia equipa adversária para trás e fez Bobby Robson levar as mãos à cabeça, maravilhado. 



Não há vídeos destes para mostrar de Mathias Sammer. Nunca haverá, quando falamos de jogadores como ele. E as memórias dos realmente grandes, todos sabemos, fazem-se destes momentos. Mas aí falamos de eternidade, não de distinções periódicas em jeito de balanço de um ano. Não dá mesmo para falar sobre isto?