É uma imagem de união e junta mais que uma equipa. Os jogadores na foto são do San Lorenzo e preparam-se para entrar em campo frente ao Olimpo em jogo do campeonato argentino, neste sábado. Mas as camisolas que vestem são da Chapecoense. São as camisolas que trocaram com os jogadores adversários quando se defrontaram na meia-final da Taça Sul-Americana.

Foi há dez dias. A meia-final começou com um empate a um golo no Nuevo Gasómetro, acabou com um nulo em Chapecó e colocou a Chape numa final internacional pela primeira vez na sua história, deixando o San Lorenzo pelo caminho. Depois aconteceu a tragédia estúpida e brutal, o despiste do avião que levava toda a comitiva brasileira para a Colômbia, onde iria jogar a primeira mão da final frente ao Atlético Nacional. Morreram 71 pessoas e o mundo passou a semana a tentar lidar com o choque.

Nestes tempos de mediatização massiva, a tragédia da Chapecoense tornou-se de imediato universal, emoção partilhada por milhões e já, tão pouco tempo passado, com lugar selado na memória coletiva. Entre tantas e tantas imagens que vimos ao longo dos últimos dias, uma avalanche de dor, reações e homenagens, um olhar para o gesto simples e solidário do San Lorenzo.

Do futebol para o futebol, com a memória real e física da Chapecoense e do que estava a construir o pequeno «outsider» brasileiro, a terminar aquela que era apenas a sua terceira época na Série A.

Os jogadores do San Lorenzo levaram ao relvado as camisolas que foram dos adversários, com os nomes deles nas costas. Depois, o capitão Néstor Ortigoza chamou os suplentes, também os jogadores adversários, e posaram juntos para a fotografia.

Dignidade, respeito e solidariedade, neste gesto do San Lorenzo mas também em tantos outros, a grande maioria dos que vimos por estes dias, no silêncio em cada estádio, naquela manifestação esmagadora dos milhares e milhares de adeptos colombianos que se juntaram no Atanasio Girardot, casa do Atletico Nacional, à hora da final que não aconteceu. Deviam ser princípios de todos os dias e todos os dias nos mostram que não são, mas, quando algo assim brutal grita o que é afinal essencial, ainda lá estão.