Uma bola, sorrisos e um grande palco. Se há jogo especial é este. O Monumental de Buenos Aires, casa do River Plate e um dos estádios míticos do futebol mundial recebeu no domingo os rapazes resgatados no verão de uma gruta na Tailândia, que eram, são, uma equipa de futebol. A imagem mostra os Moo Pa, Javalis Selvagens, a entrar em campo. Mãos postas em prece sob guarda de honra dos adversários, equipa sub-13 do River.

Dois meses depois de deixarem a gruta onde estiveram presos 17 dias, uma enorme história de sobrevivência e superação, eles viajaram para a Argentina a convite do Comité Olímpico Internacional.

A viagem começou com a presença na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos da Juventude, onde receberam uma ovação que mostra como a sua história tocou o mundo.

Para o dia seguinte estava reservada a visita ao Monumental. E depois o jogo. Eles levavam equipamento, mas acabaram a vestir o alternativo do River. Maravilharam-se com o que viram, conta quem lá estava. E sorriram de espanto, conta a reportagem do El País, quando a tradutora lhes disse que estavam no balneário onde equipava o Brasil quando jogava com a Argentina.

Viajaram 11 dos 12 rapazes e o treinador que viveu com eles o drama. Foi a 23 de junho, num passeio depois de um treino na região de Tham Luang. A chuva intensa inundou parte da gruta onde se encontravam e impediu-os de sair. Acabariam por ser encontrados por uma equipa de busca e resgatados, um a um , entre 8 e 10 de julho.

Nas bancadas estavam os pais dos rapazes, que empunhavam faixas a dizer «Obrigado a todo o mundo» e «Tailândia, Moo Pa».

Foi um jogo de oito para oito, em parte do campo. O treinador, EkapolChanthawong, levou o jogo a sério. Deu a palestra no balneário, e ao intervalo uma revisão da matéria, com garrafas de água a marcar posições.

O treinador, conta ainda o El País, também entrou em campo e serviu de interlocutor com o árbitro e com os adversários, por ser o único que fala um pouco de inglês. O resultado não era mesmo o mais importante, mas aqui fica: 3-3.

A vida dos rapazes mudou muito desde que deixaram a gruta. Logo depois, 11 deles entraram num mosteiro budista – todos menos um, que é cristão. Passaram lá nove dias e tornaram-se noviços, um ritual que foi também uma homenagem à única vítima mortal da sua tragédia, um mergulhador tailandês que morreu durante a operação de resgate. Em agosto, numa entrevista que os rapazes deram em conjunto à ABC News, um deles dizia que aprenderam no mosteiro a «ser pacientes» e a ter a «mente em paz».

O treinador foi ordenado monge. E em agosto recebeu cidadania tailandesa. Ele e mais três rapazes que ainda não a tinham, apesar de terem nascido na Tailândia.

Até agora, as aparições em público dos rapazes foram controladas. Estava previsto afastá-los da atenção mediática por seis meses, pelo menos, mas a pressão tem sido grande. Em setembro estiveram em Banguecoque, onde participaram em vários eventos, incluindo um banquete promovido pelo regime militar tailandês e, insólito, na inauguração de uma exposição sobre o seu resgate em que rastejaram por uma réplica da gruta onde estiveram presos.

Agora deixaram pela primeira vez a Tailândia, para uma digressão pela América. Da Argentina seguem para os Estados Unidos, onde darão uma conferência de imprensa na missão tailandesa nas Nações Unidas e deverão dar algumas entrevistas televisivas.

Artigo original: 8/10; 23:49