12 de maio de 2015. Segunda mão da meia-final da Liga dos Campeões, em Munique. Depois de 3-0 em Camp Nou, Pep Guardiola e os bávaros têm uma verdadeira montanha à frente, no Arena. No seu escritório em Säbener Strasse, o treinador espanhol desenha inúmeros planos para tentar chegar à tão desejada final – nunca a conseguirá alcançar durante a estadia na Baviera –, que têm eco num primeiro golo, logo aos 7 minutos, por intermédio de Benatia.
O Barça reage. Neymar é portador das más notícias para o conjunto da casa, com dois golos, aos 15 e 29 minutos, sentenciando praticamente a eliminatória. Os espanhóis ficam com uma vantagem de 5-1, só que os germânicos não desistem. Aos 41 minutos, Thiago conduz a bola até à grande área dos catalães, e um ressalto entrega-a de bandeja a Lewandowski. O polaco não demora muito tempo a reagir, e remata forte.
Com 23 anos, Marc-André ter Stegen ainda luta então com Claudio Bravo pela titularidade, tendo-se tornado recentemente no favorito de Luis Enrique. No entanto, os adeptos ainda têm dúvidas. A crítica ainda é feroz. O alemão alterna o muito bom com alguns erros graves, e demora a estabilizar. Em Munique, sofre três golos, mas, já antes da dupla defesa que nos traz aqui, tinha feito uma defesa de deixar cair os queixos perante um cabeceamento de Schweinsteiger.
Aos 41 minutos, Robert Lewandowski não podia ser mais rápido, embora pudesse ter sido mais cirúrgico, colocando a bola perto dos postes. Só que isso é analisar a posteriori... Ter Stegen abre os braços e tenta ocupar o maior espaço possível perante o golo iminente e consegue mesmo, com o esquerdo, tocar-lhe. Parece não ser suficiente, e esta dirige-se rapidamente para lá da linha de golo. Ter Stegen, hoje titular da Mannschaft, mas na altura suplente de Manuel Neuer, que precisamente ocupa a outra baliza, volta a não desistir. Dá passos rápidos para junto ao poste, e lança-se, tocando-lhe quase para lá da linha de golo. Um centésimo depois e já teria contado.
O Bayern vai virar o jogo, ganhará por 3-2 com golos de Lewandowski (59) e Müller (74), e muitos dirão que o voo de Stegen não evita praticamente nada, tal a vantagem final (5-3) e a que estava em vigor na altura (5-1). Talvez. No entanto, o próprio resultado final mostra que os alemães continuaram a lutar com honra e a carregar, a obrigar o Barcelona a defender-se. A exibição também consolida o estatuto de número 1 do ex-Borussia Mönchengladbach na cidade-condal.
Depois de eliminar o Paris Saint-Germain e o Bayern – que tinha afastado o FC Porto na eliminatória anterior –, o Barcelona derrotará a Juventus no Olympiastadion de Berlim. É a quinta e última Taça/Liga dos Campeões conquistada pelos culé até hoje.
A dupla-defesa de Ter Stegen é eleita a melhor da época pela UEFA.
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