A geração de 1995 é de qualidade no futebol português. Os atuais sub-21 são prova disso e André Ceitil também.

Não sabe quem é? É o rapaz do momento na Margem do Sul do Tejo, depois de marcar no terceiro minuto dos descontos, conseguir a reviravolta no resultado, evitar o prolongamento e colocar o Cova da Piedade na quarta eliminatória da Taça de Portugal.

«Não sou o herói, não me considero assim. Heróis somos todos. É a equipa toda. Todos unidos é que conseguimos dar a volta fantástica ao resultado. Eu tive sorte: estava no lugar certo, na hora certa. Podia ter sido outro qualquer», começou por dizer ao Maisfutebol.

Este domingo, o Cova da Piedade perdia em casa com o Alcanenense por 0-3 aos 78 minutos e tinha menos um jogador em campo, mas os 12 minutos finais (mais os três de compensação) bastaram para a equipa treinada por Sérgio Boris derrotar a formação de Alcanena.

«Sinceramente, acho que ninguém achava que era possível. Só o treinador. Acho que ele era mesmo o único. E essa crença e o trabalho dele deram frutos. Conseguiu gerir bem a equipa, fez umas alterações posicionais e com isso chegámos ao primeiro golo. Depois disso, toda a gente passou a acreditar e deu-se a reviravolta.»

Caramelo marcou o primeiro e bisou mais tarde, já depois de Marco Bicho fazer o 2-3. Com o empate a 3-3 após os 90 minutos, o árbitro ainda deu três minutos de compensação, antes de ir para prolongamento e foi aí que André Ceitil marcou.

«Foi num canto e após recarga. O guarda-redes defendeu e eu, de pé esquerdo, em queda ainda consegui rematar e fazer o golo», começou por dizer admitindo em jeito de brincadeira: «O meu pé esquerdo não é o melhor. Jogo mais com o direito, mas o esquerdo também joga. Agora até tenho é de lhe dar primazia.»
 
De 0-3 para 4-3 em 12 minutos... (faltam as imagesns do primei...

Épico! Único! Maravilhoso! Impensável! Inacreditável!Cada um escolhe o adjectivo que quiser... mas quem lá esteve sabe que assistiu a um jogo memorável! Provavelmente, assiste-se a um jogo destes numa vida!(sorteio na sexta-feira, às 12 horas) #cdcpemmovimento

Posted by Clube Desportivo Cova Da Piedade - Equipa Sénior on Domingo, 18 de Outubro de 2015



Ainda assim, a viver um sonho, o médio defensivo do Cova da Piedade mantém os pés na terra e o percurso até aqui demonstra isso muito bem. Esteve nos escalões de formação do Benfica, mas após ser campeão em iniciados decidiu sair.

«Passei lá cinco anos, desde as escolas aos iniciados, mas como no último ano não joguei muito senti necessidade de mudar. Decidi dar um passo atrás, ir para um clube de menor dimensão para poder ter mais minutos de jogo, aprender e evoluir.»

«Joguei com ou contra a maior parte dos jogadores de 1993 a 1995 e que agora estão em destaque: Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, Rony Lopes e Gelson Martins», disse Ceitil acrescentando que não se arrepende de ter saído do Benfica.

«Sinceramente não me arrependo. Deu para ver outra realidade. No Benfica felizmente não falta nada, é fantástico. No Almada, sendo da distrital, é diferente, mas aprendi muito e não me arrependo porque foi nesse ano que cresci como jogador e como homem.»

O Almada foi o clube seguinte à saída da Luz, mas depois seguiram-se experiências no V. Setúbal e Rio Ave, clubes pelos quais passou na formação antes de se tornar sénior no Cova da Piedade, em 2014/2015.

«Cheguei ao Cova da Piedade porque no final do primeiro ano no Rio Ave não me apresentaram contrato. Algo que encarei como natural, porque é sempre difícil chegar a sénior nos clubes da I Liga. O Cova da Piedade mostrou interesse, fui ver as condições de trabalho e fiquei impressionado: são muito boas para serem de um clube do CNS.»

«Disseram-me sempre que não tinha lugar garantido e que tinha de lutar para o conseguir. Assim o fiz e tem corrido bem», justificou.

Por isso, e porque está perto da família, que é de Charneca de Caparica, está feliz no Cova da Piedade: «O meu objetivo é jogar o máximo possível esta época e jogar bem. E, se no final da temporada, surgir algo melhor é questão de pensar. Agora estou feliz aqui, dão-me o que quero, sinto-me bem e está a ser o meu melhor ano.»

No entanto, André Ceitil admitiu ao Maisfutebol que «gostava de representar o Benfica ou o Sporting»: «Mesmo começando na equipa B de um deles, já seria um grande passo e algo de que gostaria muito. São clubes que me dizem muito. Sou sportinguista, mas criei laços com o Benfica quando lá joguei.»

Enquanto isso não acontece, e não chega «ao topo mundial», espera pelo sorteio da quarta eliminatória da Taça de Portugal, marcado para esta sexta-feira, no qual gostaria que lhe calhasse um desses dois clubes. E se marcasse?

«Claro que festejava! É evidente. Já festejei efusivamente este golo, quanto mais um marcado ao Sporting ou ao Benfica. É o sonho de quase todos os jogadores destes escalões. Festejava até porque era golo da minha equipa. Dentro de campo sou do Cova da Piedade, fora… é outra coisa.»

Profissionalismo, acima de tudo. Por isso é que também fez uma pausa nos estudos, após concluir o 12.º ano em Ciências e Tecnologia com média de 14,6.

«Decidi interromper os estudos até aos 23 anos para me focar no futebol. Geralmente, é até esta idade que um jogador se torna profissional. Assim sendo, optei por abdicar dos estudos para ter mais tempo e poder dedicar-me a 100 por cento à modalidade e conseguir tornar-me profissional.»

«Quando o conseguir, aí sim penso em tirar uma licenciatura. Gostava de ir para Ciências do Desporto e posteriormente especializar-me numa área. Além disso, também gostava de tirar um curso de nutrição», acrescentou Ceitil mostrando-se empenhado e sabendo que a sorte - que também teve no golo ao Alcanenense - dá trabalho.

«Sempre me disseram que a sorte dá muito trabalho. Não penso que por ter marcado o golo decisivo vá dar outros voos. Sei que isso só acontecerá com boas exibições e bons jogos. O golo pode dar alguma projeção, sim, mas só provando dentro de campo que tenho valor é que posso chegar a outros patamares.»

Tal como o Cova da Piedade na Taça, ainda que «dependa do adversário»: «Calhe quem calhar, vamos dar luta até ao fim e sonhar. Porque não? Se chegámos até aqui, podemos ir mais longe.»