Resisto sempre aos textos pessoais.

São os 20 anos do Maisfutebol, não os meus 20 anos.

Talvez o Maisfutebol tenha começado por ser bom por ser de muitos.

Um projeto muito debatido, por um conjunto de pessoas que na altura andavam entre os 20 e alguns e os 30 e poucos.

O conjunto de fundadores tinha em comum algumas coisas: enorme capacidade de trabalho, amor pelo futebol, sentido de humor, respeito pelo jornalismo, diversas leituras partilhadas, amizade e respeito pelas qualidades uns dos outros. Tudo somado, formou-se uma equipa.

O Maisfutebol começou por ser pensado, uns anos antes do 5 de junho de 2000, como uma revista de desporto. Nas tais leituras cruzadas, as revistas internacionais de futebol não faltavam.

O projeto também se fez por oposição. O panorama da imprensa desportiva já estava muito preenchido, era preciso ser diferente. Mais do que ser preciso, era o que nós queríamos. E todos nós saímos de empregos estáveis para um grupo que estava a formar-se e para a loucura da internet (nem digital havia, imaginem). Saímos porque prometeram deixar-nos fazer o que queríamos.

O Maisfutebol foi também o resultado do trabalho de diversas pessoas que não eram jornalistas. Menciono duas, mas houve mais. O Pedro Morais Leitão, à época administrador da Media Capital Multimedia, que nos deixou trabalhar e cumpriu o prometido, ensinando-me pelo caminho muitas outras coisas. E o Fernando Soares, responsável técnico e que tinha em comum com a equipa um passado no jornalismo de desporto.

Sobretudo nos primeiros tempos (leia-se, pelo menos durante dez anos), divertíamo-nos a fazer diferente. Com uma redação muito pequena, mas sem o embaraçado de ter de guardar as notícias para o dia seguinte.

Vinte anos depois, com o olhar distanciado de quem agora só espreita de longe, acho que o Maisfutebol cumpriu aquilo para que foi criado: contar histórias, alargar o espaço para treinadores e jogadores. Para o próprio jogo.

Aliás, acho que o Maisfutebol continua a ser fiel a si próprio sempre que os seus jornalistas sentem que publicaram uma história que só ali podia ter sido publicada.

O futebol precisa – mais do que nunca? – de projetos que apelem ao melhor de cada leitor, que sejam espaços saudáveis e que nos contem histórias do jogo. O Maisfutebol é, sem dúvida, um desses locais.

À sua dimensão, o Maisfutebol foi um acelerador, no tempo em que a internet era mais do que um motor de busca, uma plataforma de vídeo e redes sociais. A história do jornalismo dirá se acelerar foi o movimento certo, mas na altura parecia.

Tento sempre escapar de textos na primeira pessoa, mas desconfio que provavelmente desta vez não o consegui. Enfim, só se faz 20 anos uma vez.

(durante uns tempos, uma das principais dificuldades era explicar o nome. Para os menos atentos, Mais Futebol. Duas palavras. Para nós, uma palavra nova que incrivelmente nenhum dicionário acolhera: Maisfutebol. Um url, um conceito, uma vontade. Sempre detestei o nome escrito em duas palavras)

*Texto escrito por Luís Sobral, fundador e primeiro diretor do Maisfutebol, jornal que dirigiu entre 2000 e 2014.