O Maisfutebol desafiou os jogadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. É isso que farão daqui para a frente:

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«Olá a todos,

O meu nome é Anselmo e aos 28 anos, depois de passar por clubes como E. Amadora, Nacional e Rio Ave, com o convite do Tractor Sazi de Tabriz (Irão), iniciei a minha primeira experiência no estrangeiro.

Confesso que sempre tive alguma curiosidade em conhecer outra realidade, outros costumes e não poderia ter escolhido melhor destino para me deparar com uma cultura tão divergente daquela que temos em Portugal.

Apercebi-me desde logo que o povo iraniano procura saber qual a opinião que os estrangeiros têm do seu país, pois preocupam-se em passar uma boa imagem do mesmo. Têm uma cultura mais fechada que a nossa devido à falta de liberdade de expressão a que estão sujeitos, no entanto, conseguem ser bastante hospitaleiros e simpáticos.

É um país maioritariamente islâmico e por conseguinte existem diversos locais sagrados onde fazem as suas peculiares orações. Neste âmbito convivi durante cerca de um mês com o ramadão, e neste período ninguém pode comer ou beber em público, podendo ser punido quem ouse não cumprir as normas instituídas.

Estas regras vão para além da época do ramadão, por exemplo, as mulheres têm muitas restrições ao nível do vestuário, sendo obrigadas a usar um lenço na cabeça e os homens não podem vestir calções. Entrar na casa de uma família iraniana obriga-nos a retirar os sapatos à entrada. É um costume bastante higiénico.

Quando estamos em Portugal nem nos apercebemos muitas vezes da importância que tem poder estar numa simples esplanada a beber um café, ir a um cinema, estar num bar com amigos, coisas banais a que temos acesso sempre que desejamos. Com esta minha experiência deparo-me com ausência total das mesmas e dou-lhes muito mais enfase porque não posso usufruir delas.

Se estivermos dispostos a um passeio pela cidade, esta possui alguns jardins, sempre vigiados por polícias do regime, um teleférico e algumas ruas com imensas lojas, a fazer lembrar o comércio tradicional.

No que concerne ao futebol, o Irão é um país que ama a modalidade. Tenho a sorte de estar no clube com os adeptos mais fervorosos do Irão, são realmente fantásticos e é difícil exteriorizar o que sinto quando entro em campo e à minha volta estão em média 60 mil fãs em todos os jogos no nosso estádio. Durante os 90 minutos apoiam-nos, independentemente do resultado. É de facto maravilhoso e dos melhores momentos que temos neste país.

O campeonato é muito competitivo e existe uma semelhança qualitativa entre a maioria das equipas. Felizmente o Tractor está na liderança neste momento depois de duas vitórias muito saborosas diante de rivais na corrida ao título, nomeadamente o Esteghlal (2-0) e o Sepahan (1-4).

Depois de uma lesão muscular que me impediu de jogar nas primeiras jornadas estreei-me como titular nestes dois jogos e não poderia correr melhor.

O Tractor possui na sua estrutura mais portugueses que facilitam bastante na adaptação ao país. São eles o João Vilela e o Flávio Paixão, assim como a equipa técnica formada pelo mister Toni, o Paulo Grilo, o Vítor Campelos e o António Oliveira.

Em fevereiro terá início a Asia Cup, que se assemelha à Liga dos Campeões na Europa e será com certeza mais uma experiência para recordar. Por agora, o desejo é vencer na próxima terça-feira o jogo contra o Damash de forma a manter o primeiro lugar da classificação.

Até breve!

Anselmo»