O treinador português Luís Castro recordou como uma «coisa incrível» a chegada ao FC Porto na época 2006/2007, para coordenar a formação do clube no qual esteve cerca de dez anos. Tudo começou com uma chamada do então diretor-geral Antero Henrique e duas conversas que, inicialmente, tinham sido adiadas até setembro de 2006, quando a época da maior parte das equipas já estava em curso, dos seniores aos jovens.

Antes de chegar ao FC Porto, Luís Castro treinou duas épocas o Penafiel, a primeira delas em 2004/2005, a da sua estreia como técnico na I Liga, seguida de um ciclo, em 2005/2006, em que os durienses acabariam por descer à II Liga.

«A história da chegada ao Porto é uma coisa incrível, eu não tinha qualquer relação com o FC Porto. Não conhecia ninguém dentro do FC Porto. Quem está a chegar de uma II Divisão a uma I Liga, chega e parece que cai de paraquedas ali. Não é aquela pessoa que faça um caminho de I Liga. O meu percurso como jogador também é discreto. As relações com a rede de cima do futebol eram nenhumas, a minha rede era a distrital, eu passei muito ano enquanto comercial de uma empresa e ia treinar o Estarreja, o Mealhada, Sanjoanense, Águeda, a minha rede era outra (risos)», começou por dizer, numa conversa no programa de Youtube “Vamos falar de futebol”.

Do convite do Estrela ao encontro com Antero e os milhões

«Termino a época no Penafiel e tenho um convite do Estrela da Amadora, em que me é dito claramente assim: “Ou és tu, ou o Daúto Faquirá”. Fui falar com o presidente e foi-me dito, passado uns dias de ter reunido: “O escolhido vai ser o Daúto”. Ok, siga. Fui para casa à espera de alguma coisa. Quando tu não tens rede… vais para casa e esperas um pouco. Mas eu pensava: tudo o que eu fiz há um ano, antes desta época [a da descida] de certeza que está tudo diluído», contou, antes de tudo despontar para o FC Porto, após uma ida às compras.

«Um dia, fui fazer umas compras ao supermercado e, quando chego ao carro, tenho duas chamadas no telemóvel, um número que eu não conhecia. E eu assim: “não vou gastar dinheiro a devolver uma chamada em que não conheço o número (risos)”. Estou desempregado, vou lá devolver a chamada. O poupar superiorizou-se à curiosidade e ao desejo de ser um clube. Fui para casa, não devolvi, no outro dia o mesmo número a ligar. E do outro lado dizem: “daqui fala Antero Henrique”. E eu, Antero Henrique, do FC Porto? “Sim, sim, do FC Porto”. E eu: “epá”. Comecei a fazer contas. Diz ele: “Gostaria de ter uma conversa consigo sobre futebol”. E eu: ok, sim, sim, vamos falar. Quando desliguei fiquei muito excitado. Eu sem nada, FC Porto… o que é que está a acontecer? Começo a fazer as minhas contas, fazia contas por todo o lado: Co Adriaanse, Rui Barros a assistente, equipa técnica toda, não sendo para assistente, será para quê? Condutor? Autocarro? O que vai acontecer?», expôs Luís Castro, que viu o encontro adiado por um alegado problema no FC Porto.

«[Antero] marcou uma data, acho que houve um problema qualquer no estágio do Co Adriaanse, aquilo embrulhou-se e ficou assim. Morreu ali. Passado 15 dias, três semanas, outra vez o senhor Antero Henrique a ligar: “Desculpe, atrasou-se, problemas dentro do FC Porto. Vamos marcar nova data”. Então lá vou eu para a reunião, falar de futebol. Ia em cima da Arrábida recebo um telefonema: “não pode ser hoje” (risos). Isto já era setembro, já o campeonato a andar. Voltei para trás, para Águeda, vivia lá na altura e a minha esposa dava lá aulas e é a nossa casa principal. Voltei, nova chamada e lá me encontrei finalmente, no antigo Tivoli. Conversamos… modelo de jogo, dinâmicas, organização. Muito bem. Um abraço e boa viagem. Cheguei a casa e a minha esposa: “correu bem a reunião?”. O Antero não fica chateado se eu contar isto, de certeza. E eu: “para já, para falar de futebol, correu bem. E mais nada. Está falado”. Depois voltámos noutra reunião a falar e a determinada altura o Antero diz-me assim: “Luís, tenho aqui uma proposta, a época já começou, estamos em setembro, início de outubro, o professor Ilídio Vale está a treinar os sub-19 e o Luís para diretor técnico da formação. E eu: “só treinei uma vez os sub-13 no Águeda" (risos). E diz-me o Antero: "quero alguém que não entenda muito de formação, que sobrevoe o clube nesta época, que absorva informação e conhecimento e vamos ao projeto ‘Visão 611’". Esse projeto gerou, com a venda de jogadores como Dalot, Rúben Neves, André Silva, Paciência, muita gente passou por ali, gerou uns milhões largos na venda», destacou o atual técnico do Shakhtar Donetsk.

«É assim que chego ao FC Porto, é uma história muito grande e estive muito entusiasmado no FC Porto», rematou.

Luís Castro recordou, ainda, que a época do título na II Liga pelo FC Porto B foi a única em que não mostrava vídeos dos adversários.

«Nunca apresentei imagens do adversário. Foi quando fui campeão no FC Porto B. Fomos sempre para o jogo focados em nós, em mais nada», revelou.