*Enviado-especial ao Brasil

Três jogos, uma vitória, um empate e uma derrota. Portugal tem saldo nulo contra equipas africanas em Mundiais de Futebol. O Gana será a quarta seleção diferente que os portugueses vão enfrentar no maior torneio de seleções, numa história que começou mal, no México 86.

É caso para dizer, portanto, que nem a história está do lado português no jogo que encerrará a participação portuguesa no grupo G e, provavelmente, no Mundial 2014.

Portugal, já se sabe, precisa vencer de forma expressiva os ganeses, mas o único registo de uma vitória sobre africanos em Mundiais é magro. Aconteceu em 2006, no pontapé de saída para a caminhada que só parou nas meias-finais.

O grupo, na altura liderado por Luiz Felipe Scolari, e que vinha do segundo lugar no Euro 2004 enfrentou Angola no primeiro jogo. E até começou bem.

Pauleta, após excelente arrancada de Figo, fez o primeiro golo do jogo logo aos 4 minutos. Parecia aberto o caminho para uma goleada, num tónico que, certamente, Portugal não rejeitaria para o jogo desta quinta-feira.

Contudo, na estreia absoluta em Mundiais, os angolanos reorganizaram-se, fecharam melhor os caminhos da sua baliza, esqueceram o nervosismo e não permitiram que Portugal voltasse a marcar. Não foi, de todo, das exibições mais convincentes de Portugal naquela prova.



«Em 86, à boa maneira portuguesa, menosprezámos Marrocos»

Foi, contudo, a única vitória contra africanos. Antes, uma derrota. Depois, um empate.

Voltemos então a 1986, no México. Relação tensa entre jogadores e dirigentes, mas o apuramento à distância…de um empate.

Diamantino puxa pelas memórias: «Tínhamos a vantagem de o empate dar o apuramento tanto a nós como a Marrocos. À boa maneira portuguesa menosprezámos a seleção marroquina. Vínhamos da primeira vitória de sempre frente a Inglaterra e a ideia de que o empate chegava fez com que fossemos surpreendidos por uma seleção marroquina bem organizada. Quando demos por isso já estávamos a perder 3-0.»

O ex-jogador comenta ainda mudanças no onze que nunca percebeu. Nomeadamente a sua saída: «Tinha sido titular nos dois primeiros jogos e fui para o banco nesse. Entrei, marquei o 3-1 mas já era tarde»

«Foi uma pena para aqueles jogadores, mas com todos os problemas que nos puseram era muito difícil dar a volta. A grande culpa foi dos dirigentes, por muito que tenham tentado passar o contrário e ainda hoje se tenta. Tudo o que podia correr mal correu e aquele jogo foi o expoente disso tudo», completa.

À custa de Portugal, Marrocos tornou-se a primeira seleção africana a passar a fase de grupos do Mundial.



Sem sal nem pimenta na África do Sul

A última vez que Portugal enfrentou uma seleção africana foi precisamente há quatro anos, no Mundial da África do Sul.

Tal como na Alemanha, era o primeiro obstáculo na caminhada. Portugal chegava com ambição que o estatuto em crescendo desde a brilhante jornada do Euro 2000 lhe dava.

Tinha Cristiano Ronaldo, transformado em estrela planetária no Real Madrid. Ainda tinha Deco, Simão e outros históricos como Tiago, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira ou Miguel.

Pela frente, tal como agora, tinha, por ventura, a melhor seleção africana do momento. Os marfinenses tinham Drogba, Gervinho, Yaya Touré ou Eboué e surgiam fortíssimos, tentando lograr o que havia falhado em 2006: chegar aos «oitavos».

O jogo até começou bem para Portugal, com Ronaldo a enviar um míssil ao poste, mas foi quase tudo o que se viu.



Sem sal, nem pimenta, a exibição portuguesa não convenceu, mas a Costa do Marfim também não aproveitou. Foi o primeiro de dois nulos conseguidos pela equipa, então, orientada por Carlos Queiroz. O outro foi com o Brasil.

Tudo somado, fica a certeza: Portugal precisa fazer o que ainda não conseguiu, ou seja, vencer de forma expressiva uma equipa africana no Mundial. Repetir um dos três resultados anteriores é o carimbo de regresso num bilhete que começou a ser tirado em Salvador, no desastre com a Alemanha, e que parece cada vez mais real.