O Gil Vicente quer disputar a Liga 2016/17, depois de o Tribunal Administrativo de Lisboa ter dado razão ao clube no chamado Caso Mateus, um diferendo com a Federação Portuguesa de Futebol que já dura há dez anos.

Numa conferência de imprensa realizada esta quinta-feira no Estádio Cidade de Barcelos, com sala a abarrotar com sócios e adeptos, António Fiusa, presidente, fez-se acompanhar pelos advogados Paulo Moura Marques e Pedro Macieirinha, que defenderam a causa gilista.

Paulo Moura Marques foi, até, o primeiro a falar, explicando a decisão do Tribunal, que considerou «nula» a decisão do Conselho de Justiça da Federação que determinou a descida do Gil Vicente em 2005/06.

Em causa, recorde-se, estava o recurso aos tribunais civis por parte do emblema barcelense, depois de ter sido anulada a inscrição do avançado Mateus, contratado ao Lixa no mercado de inverno, pois estaria inscrito no anterior clube em regime de amador e não poderia passar a profissional a meio da época.

Ora, a Federação entendeu que esta era uma questão desportiva e, como tal, o Gil Vicente não poderia ter recorrido para os tribunais civis. «O Gil sempre disse que não era uma questão desportiva. Não é uma questão de ser fora de jogo ou não, se a bola entrou ou não na baliza. Era uma questão legal e essa deve ser levada aos tribunais», sustenta o advogado.

Estava assim «decorado» o Estádio Cidade de Barcelos esta quinta-feira

«Esta decisão declara nula a decisão da Federação. A nulidade é a decisão mais grave. Considera uma ilegalidade grosseira. Quando ocorre uma ilegalidade ou se indemniza ou se repõe a verdade dos factos à data», acrescentou Paulo Moura Marques, que fez ainda o histórico destes dez anos, dizendo que o Gil ganhou todos os processos. «Foram quatro decisões principais e duas providências cautelares. Tribunais de Primeira e Segunda Instância e até o Supremo. Todos nos deram razão», lembrou.

O desejo do Gil Vicente, depois partilhado por António Fiusa, que iniciou a sua intervenção com um grito do «Viva o Gil Vicente! Viva Barcelos», é que a Federação cumpra espontaneamente, desta vez, a ordem do tribunal e, portanto, não haja recurso.

O grito de Fiusa (vídeo Jornal de Barcelos):

«O acordão é taxativo. Dá pena máxima aos administrativos desta causa. Naturalmente, este caso não tem nada a ver com as novas direções da FPF e da Liga. Fernando Gomes e Pedro Proença são pessoas sérias, honestas que nada têm a ver com isto. Ficaram com a batata quente na mão», diz António Fiusa.

E baseando-se nesse ponto acrescenta: «Tenho a certeza que o Gil vai este ano para a Liga. Eles podem recorrer, é verdade, mas ao mesmo tempo terão de ser responsáveis pelos atos que irão cometer e não acredito que pessoas de bem cometam esses atos. As indemnizações podem ser mais altas ainda.»

O presidente gilista fala em 20 milhões de indemnização, mas frisa que, quanto mais tempo demorar a ser reposta a verdade dos factos aquando da primeira decisão, ou seja, o Gil recolocado na Liga, esta pode crescer: «Dos 20 pode passar a 30 ou mais…»

António Fiusa foi sempre o rosto da luta gilista

«Madaíl usou uma bomba atómica contra uma formiga»

Fiusa diz que o Gil «não pode esperar mais». E nem vê problemas em que o campeonato tenha 19 equipas. «Desde que no final todos façam os mesmos jogos, é pacífico», atira. Mais à frente sugeriu, embora sem o dizer taxativamente, que deveria ser o Belenenses a descer, sublinhando diversas vezes que a decisão anterior foi considerada «nula».

Paulo Moura Marques, ao seu lado, explica que a decisão do Tribunal não especifica como deve ser cumprida a reposição. A decisão é «devolvida» à Federação, que terá de encontrar forma de colocar o clube novamente na I Divisão, caso não avance para recurso. Aliás, além da FPF, também a Liga e o Belenenses, por serem partes ativas no processo, podem recorrer.

Sobre a preparação para a nova época, António Fiusa diz que já conversou com Álvaro Magalhães, o treinador recentemente contratado. «Disse-lhe para se manter calmo. Para já não vamos fazer contratações nenhumas, pois espero fazer contratações para a Liga. Disse ao Álvaro: ‘olha que tu és um homem de sorte. Vieste para a II Liga e vais treinar o Gil na Primeira’», comentou Fiusa.

Mais à frente ainda revelou já ter alinhavados alguns reforços no Brasil. «Jogadores da Série A», especificou. Algo para confirmar nos próximos tempos.

Outra tarja junto ao Estádio

Para já o clube espera pela reação da Federação, revelando que ainda não falou com Fernando Gomes. Mas deixa uma garantia: «Se a FPF ou Liga meterem recurso, vamos colocar uma providencia cautelar para impugnar novamente os campeonatos.»

Antes desta decisão, o Gil Vicente e a Federação chegaram a ter reuniões para que houvesse um acordo na indemnização, mas sem efeito. «Não estamos em saldo como o Boavista», diz Fiusa.

«Gilberto Madaíl usou uma bomba atómica contra uma formiga. O Gil tem hoje um atraso de dez anos em relação às equipas que lutam pela Liga Europa, como o Rio Ave ou o Paços de Ferreira. Não pode esperar mais», remata.

Ainda assim, Paulo Moura Marques salienta a posição de abertura do clube para negociar: «O Gil está sempre disponível para resolver com menor custo e menos problemas para todos. Agora esperamos que a FPF a e a Liga se aproximem de nós para resolver o problema. É isso que desejamos.»