O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luciano Gonçalves, defendeu esta segunda-feira o regresso do policiamento obrigatório nos recintos desportivos e que as penas sejam concretizadas e também agravadas para quem protagoniza agressões ou outro tipo de incidentes nos jogos.
Neste fim-de-semana, acentuou-se a onda de incidentes com árbitros em jogos de futebol em Portugal na época 2021/22: houve três novos casos em jogos de provas distritais, na AF Porto, AF Lisboa e AF Viana do Castelo. Segundo dados da APAF fornecidos ao Maisfutebol, são agora 23 os casos formalizados, isto é, que avançaram com queixas e processos. Mas mais podem existir, no futebol e no futsal.
«Devem existir cada vez mais campanhas de sensibilização para o comportamento ético no desporto, mas o que devia de acontecer era policiamento obrigatório em todos os jogos, é de extrema importância. Tem de voltar o que acontecia antes de 2012, o policiamento obrigatório e as forças policiais e de intervenção, sejam elas GNR ou PSP, receberem mais indicações de que, efetivamente, isto é um crime público», defende, em declarações ao Maisfutebol, esta segunda-feira, apontando ainda à irradiação dos agressores.
«Ao nível das associações tem, de uma vez por todas, de existir uma alteração no que é o regulamento disciplinar e sempre que existe um jogador que agride, tem de ser irradiado do futebol», afirma, criticando ainda a «impunidade e a banalidade com que se continua a tratar destes casos» e as demoras na justiça, com «falta de coragem da parte dos tribunais», onde os «juízes banalizam» porque «acham que é normal existir este ambiente no futebol».
«Eu continuo a achar que continua a ser muito banal agredir-se um árbitro, seja por jogadores ou adeptos. Veem que, efetivamente, pouco ou nada lhes acontece. Depois, outra gravidade: quando acontece, as coisas demoram tanto que depois acaba por não ser minimamente dissuasor», acrescenta, sobre algo também salientado por Sérgio Mendes, do contencioso da APAF. «Temos, neste momento, processos de 2017 a chegar ao fim. Processos que têm cinco anos. Não pode ser», lamenta.
Por outro lado, se Luciano entende que há problemas na justiça para decidir sobre estes casos, vê também a ausência de um padrão regulamentar entre associações, quanto às punições aplicadas para ofensas idênticas. A APAF pede ainda a revisão do tipo de castigos a aplicar aos prevaricadores.
«Um jogador em Bragança pode apanhar seis meses e no Porto pode apanhar dois meses pela mesma agressão e isto não faz qualquer sentido. Uma agressão tem de ser condenada como tal», refere Luciano. «Uma das nossas reclamações é a punição para este tipo de situações ser normalmente em tempo, em meses. Acontece é que, na última jornada, quem agride um árbitro pode correr o risco de estar disponível na primeira jornada do campeonato seguinte, diz Sérgio Mendes.
«Isto está a afastar centenas de jovens do desporto»
O líder da APAF vê, por outro lado, consequências negativas que não só afastam os jovens de um possível caminho na arbitragem, como até por outra via na relação com o desporto.
«Já estou naquela fase de já não ser só na arbitragem. Qualquer miúdo prefere estar em casa agarrado ao computador, sem se chatear ou a chatear-se com ele próprio com o jogo, do que ir sequer praticar futebol, ou assistir a um jogo e ver isto [ndr: agressões], ou ver que um pai entra dentro de um campo e agride um árbitro. Acreditem, os miúdos já não estão para isto. As pessoas esquecem-se que este tipo de situações está a afastar centenas de jovens do desporto e não só como adeptos, mas também como praticantes», defende.
Para a APAF, a causa da escalada deste tipo de comportamentos pode encontrar explicações na «subida de preços de forma generalizada» ou pela «crise económica que se adivinha». «Entendemos ou pensamos que há clubes que, neste momento, passam por dificuldades e têm de ganhar a todo o custo. Por outro lado, o público também pode estar afetado pelo momento que vivemos e as pessoas utilizam o futebol também como um escape e é uma forma de aliviar o stress. Só que uma coisa é fazê-lo verbalmente, outra é partir para a parte física», alerta Mendes.