Julián Montenegro nasceu a 23 de março de 1989. Já não foi a tempo de ver o Mundial de Diego Maradona, realizado três anos antes.

Em Rio Negro, onde veio ao mundo, o culto a D10S não foi abafado pelo avanço cronológico do futebol.

Por isso, o esquerdino do Boavista não hesita na hora de escolher entre Cristiano Ronaldo e Leo Messi, a propósito do duelo entre Portugal e Argentina, em Old Trafford:

«Único foi só o Diego Maradona», diz ao Maisfutebol, quando convidado a comentar a discussão que alimenta ad eternum grande parte dos amantes do desporto-rei.

Lucas Colitto é cinco anos mais jovem. Em San Martin, na região de Buenos Aires, aprendeu a admirar Leo Messi e coloca-o «quase ao nível de Maradona».

«O meu pai mostrou-me muitos vídeos do Diego. Um génio, é inacreditável o que fazia. O meu pai teve o privilégio de viver na era dele e eu tenho o privilégio de viver na era de Messi», refere o jogador do Arouca. Curiosamente, também esquerdino, tal como Messi, Maradona e Julián.

«Por favor, nem compare o meu pé esquerdo com o do Messi e o do Maradona. Até tenho vergonha».

A primeira memória de Julián sobre um Campeonato do Mundo remonta a 2002. As novas tecnologias, porém, remexem no passado e colocam permanentemente a figura quase mitológica de Diego Armando Maradona nos corações dos argentinos.

«Vi-o uma vez ao vivo, no estádio do Boca, mas já numa fase em que não corria. Quem vai à Argentina percebe logo que ele está à frente de todos os outros nos nossos corações».

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O nosso jornal, empurrado pelo interesse da atualidade, insiste no afronto: Messi ou Ronaldo? E Julián não resiste.

«Bem, entre os dois… escolho o Messi, claro», responde, num português imaculado, o jogador axadrezado. Mas relativizando sempre a intensidade da fogueira onde ardem as opiniões sobre ambos.

«Em Portugal fala-se muito mais sobre isso do que na Argentina. No meu país o Messi é o melhor e ponto final, não vale a pena perder muito mais tempo», responde Montenegro, sorridente.

Colitto concorda com o compatriota. «Quando joga a seleção, o país vibra de uma forma diferente. Com o Messi em campo o povo recuperou o amor pela alvi celeste».

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Julián Montenegro é adepto do River Plate. «Só na Argentina, aqui sou boavisteiro de coração». Lucas Colitto sofre à distância pelo Independiente. «Tenho saudades de ir ao estádio e gritar como um hincha».

Nenhum teve a oportunidade de vestir a camisola argentina nas seleções jovens. Ambos insistem no sonho de tornar o desejo em realidade.

«Não é impossível», diz Julián. «É o objetivo máximo de qualquer futebolista», acrescenta Lucas.

O primeiro jogou «dos cinco aos 11 anos no Estrella del Sur», uma pequena equipa da zona da região de Rio Negro. Depois entrou no Proyecto Crecer, uma instituição que tinha um protocolo com o Bordéus.

«Cheguei à Europa com 18 anos e fui para o Elétrico de Ponte de Sôr. Daí mudei-me para o União Montemor, depois Vizela, Atlético e Boavista».

A história de Lucas Colitto é, por ora, mais simples. «Joguei sempre no Defensores de Belgrano. E agora quero fazer uma grande temporada no Arouca».

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Da Argentina, Julián sente saudades da «família e amigos», mas também de algumas especialidades locais. «O asado, que é um churrasco, e as facturas. São um doce parecido com o croissant, mas têm a massa diferente. Ah, e dos crepes com doce de leite também».

Quando falam sobre os ídolos de infância, ambos surpreendem. «Bem, o meu ídolo, além de Maradona e Messi, é um uruguaio, o Enzo Francescoli. Era o maior do meu clube, o River. Também sempre adorei o Pablo Aimar e o Gabriel Batistuta».

Lucas Colitto fala em «Iniesta e Ozil». «Sempre vi muito futebol europeu. E esses são tremendos, muito inteligentes». E sobre o Argentina-Portugal de Old Trafford? Colitto deixa uma dica interessante.

«Com o Tata Martino a seleção está muito diferente. Com Sabella era mais tática, pressionava muito e marcava mais, agora joga mais futebol. Tem jogadores para isso: toque curto, fantasia, acho que o Messi vai beneficiar disso»
.

Sobre Portugal, nenhum fala com especial entusiasmo. «A seleção do Euro2004, com Figo, Rui Costa e Maniche, era superior. Mas Portugal pode sempre vencer qualquer jogo», considera Montenegro.

«Teoricamente, a Argentina é superior. Só que Portugal tem o grande Ronaldo e sabe jogar muito bem à bola. Vai ser uma batalha bonita, mesmo num amigável».

Julián Montenegro e Lucas Colitto. Argentinos, esquerdinos, jogadores da liga portuguesa.