Muito em voga está falar de fair-play, mas há rivalidades que tudo ultrapassam. Muitas, sabe-se, até são salutares. Mas a que se manifestou este fim-de-semana na Argentina teve consequências nada louváveis e, apesar das boas intenções, houve tudo menos fair-play no seu tratamento. Um jogador que trocou de camisola com um rival foi suspenso pelo próprio clube.
É um pouco bizarro, mas aconteceu, pois os argentinos levam estas coisas da rivalidade no futebol muito a sério de uma ponta a outra do país. O episódio em questão aconteceu em La Plata no derby entre o Estudiantes e o Gimnasia, quando ao intervalo Luciano Leguizamón trocou de camisola com Juan Sabasitián Verón. Este pediu ao jogador rival que trocasse consigo a camisola, pois o seu sobrinho tinha ficado adepto do Gimnasia por admiração ao próprio Leguizamón; ao que o avançado acedeu sem qualquer problema, pelo menos antes de saber o que se passaria a seguir.
As primeiras manifestações de escândalo pelas manifestações de amizade entre clubes rivais surgiram dos adeptos do Gimnasia que pediram a rescisão de contrato com Leguizamón, segundo conta o diário argentino Clarín. Citado pela redacção da agência EFE em Buenos Aires, Carlos Giménez, secretário do Gimnasia, afirmou que o jogador «tem de ter a lucidez para não trocar a camisola com Verón, que é o ícone máximo dos Estudiantes» e que «tem de existir um precedente para que não volte a acontecer».
E nem as desculpas de Leguizamón, dadas pouco depois da derrota por 1-0, alteraram a sua condenação; com consequências práticas. O Gimnasia decidiu «separar Leguizamón um jogo do plantel», numa medida que é de «carácter provisório e que tende a proteger o jogador, mais do que sancioná-lo», disse Gimènez citado pelo Clarín. No Estudiantes, ao que parece, Verón não precisou deste tipo de protecção, mas, ao diário argentino, José Muñoz, presidente sob licença do Gimnasia, traduziu o que o clube pretende: «Se no próximo jogo [Leguizamón] ficasse no banco, o mais provável era ser insultado.»